Oposição em Angola olha para redes sociais como um instrumento "crucial" para caçar mais votos nas eleições de agosto. Mas analistas consideram que os partidos devem aproveitar melhor essas plataformas na internet.
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As campanhas eleitorais não se fazem só nas ruas – têm também lugar na palma das mãos dos eleitores, através dos smartphones, por exemplo. Os partidos políticos descobriram há muito tempo o potencial da internet e das redes sociais para disseminar a sua mensagem. Em Angola, o partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e os partidos da oposição publicam fotografias, vídeos e, por vezes, até fazem emissões em direto, mostrando as suas atividades.
Além disso, a oposição angolana diz que, nas redes sociais, encontra um espaço que não existe na imprensa pública. Segundo Félix Miranda, secretário da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE) para a Comunicação e Marketing, as redes sociais, como o Facebook, são cruciais no trabalho do partido.
À pesca de votos com as redes sociais
A presença na internet "possibilitou à CASA-CE ter a abrangência e a visibilidade que tem e possibilitou a [Abel] Chivukuvuku [líder da coligação] ser tão amado, como é hoje."
O foco nas redes sociais também é uma prioridade para Narciso Lucanso. O secretário nacional para a Comunicação e Marketing do Partido de Renovação Social (PRS) diz que, se as forças políticas querem atingir os seus objetivos, têm de estar presentes nas redes sociais. É aí que os cidadãos podem encontrar "o programa de governação e o manifesto eleitoral do partido, para poderem votar nele", afirma Lucanso.
Mais debate online
Mas, para o analista político Osvaldo Mboco, a oposição ainda não está a aproveitar a 100% o potencial das redes sociais. O analista diz que é preciso debater mais os programas eleitorais.
"É fundamental que o grupo que está por detrás da página seja um grupo dinâmico, conversando, interagindo com os eleitores a partir da plataforma", diz o analista. Por outro lado, a oposição deveria ainda selecionar melhor o que publica: "Hoje, o eleitor quer saber como esse partido vai resolver o problema do seu município."
Mais divulgação offline
Fora das redes sociais, os partidos da oposição continuam a batalhar para ver os seus temas a fazer manchete na imprensa pública.
Há, no entanto, alguns sinais de abertura em relação às atividades da oposição angolana nesta fase de pré-campanha. Por exemplo, no sábado (24.06), o manifesto eleitoral do PRS foi transmitido em direto pela Televisão Pública de Angola (TPA), algo que não era costume no passado.
"Não queremos que isso cesse, porque ajuda a expandir a informação das forças políticas", apela Narciso Lucanso, do PRS.
Félix Miranda, da CASA-CE, diz que a mudança se deve à concorrência com a TV Zimbo, privada, que costuma falar sobre as atividades da oposição. "A Zimbo hoje é um elemento de contrapeso à TPA. É a Zimbo que está a permitir a TPA também fazer abertura", comenta.
A campanha para as eleições em Angola começa oficialmente em julho. E começará também o tempo de antena na Rádio Nacional de Angola e na TPA.
O analista Osvaldo Mboco sugere aos partidos que aproveitem esse espaço da mesma forma, ou melhor do que nas redes sociais para "divulgar ao máximo as suas ideias".
José Eduardo dos Santos deixará saudades?
Dos Santos anunciou no início de 2017 que deixará o poder ao fim de 38 anos. Será que os angolanos terão saudades? Os comícios e as manifestações no país e fora de Angola nos últimos anos não deixam chegar a um consenso.
Foto: Getty Images/AFP/A. Pizzoli
Setembro de 2008 - Luanda
Este comício do MPLA em Kikolo, Luanda, foi assistido por milhares de pessoas durante a campanha para as eleições de 2008, as primeiras em 16 anos. O MPLA obteve 82% dos votos, tendo conquistado 191 dos 220 lugares da Assembleia Nacional de Angola.
Foto: picture-alliance/ dpa
Março de 2011 - Angola
No entanto, e apesar da maioria conseguida nas eleições de 2008, nos anos seguintes realizaram-se várias manifestações, em Angola, e não só, contra o Governo. A 7 de março de 2011, teve início no país uma onda de manifestações inspiradas na Primavera Árabe. Na organização destas manifestações estava o Movimento Revolucionário de Angola, também conhecido como "revús".
Foto: picture-alliance/dpa
Março de 2011 - Londres
No mesmo dia (7 de março), cerca de 30 pessoas sairam às ruas em Londres para protestar contra o Presidente José Eduardo dos Santos. Os manifestantes exigiram a saída do pai de Isabel dos Santos gritando "Zédu fora!" e "Zé tira o pé".
Foto: Huck
Fevereiro de 2012 - Benguela
Em 2012, ano de eleições no país, o número de manifestações organizadas pelos não apoiantes de José Eduardo dos Santos continuou a crescer. O protesto retratado na fotografia teve lugar em Benguela, a 13 de fevereiro. "O povo não te quer", gritaram os manifestantes.
Foto: DW
Junho de 2012 - Luanda
A 23 de maio de 2012, o presidente angolano anuncia que as eleições legislativas se irão realizar a 31 de agosto. Sensivelmente um mês depois, a 23 de junho, o Estádio 11 de Novembro, em Luanda, encheu-se de militantes e simpatizantes do MPLA para aplaudir José Eduardo dos Santos e apoiar a sua candidatura.
Foto: Quintiliano dos Santos
Julho de 2012 - Viana
Cartazes a favor de dos Santos num comício da campanha para as eleições de 2012 em Viana, arredores de Luanda. A 31 de agosto, o MPLA vence as eleições com mais de dois terços dos votos. Depois de uma mudança da Constituição, o Presidente já não é eleito diretamente, mas sim indiretamente nas legislativas. Como cabeça de lista do MPLA, José Eduardo dos Santos é eleito Presidente de Angola.
Foto: Quintiliano dos Santos
Maio de 2015 - Benguela
Nos anos seguintes continuaram os protestos contra o Presidente. Foram-se somando episódios de violência e detenções. 2015 torna-se-ia um ano complicado no que às críticas a JES diz respeito. No aniversário do "27 de maio", em Benguela, por exemplo, 13 ativistas foram detidos minutos depois de começarem um protesto. No mesmo dia, também houve detenções em Luanda.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Junho de 2015 - Luanda
Em junho de 2015, tem início um dos episódios da governação de José Eduardo dos Santos mais criticados. 15 ativistas angolanos, entre eles Luaty Beirão, foram detidos sob acusação de planeaream um golpe de Estado. Para além de terem despoletado muitas manifestações, estas detenções tiveram mediatismo um pouco por todo o mundo devido às greves de fome levadas a cabo por muitos dos detidos.
Foto: DW/P. Borralho
Julho de 2015 - Lisboa
No dia 17 de julho realizou-se, em Lisboa, a primeira manifestação em Portugal a favor da libertação destes jovens. "Basta de repressão em Angola", ouviu-se na capital portuguesa. Dias mais tarde, em Luanda, a polícia reagiu violentamente contra algumas dezenas de manifestantes que protestaram no Largo da Independência.
Foto: DW/J. Carlos
Agosto de 2015 - Luanda
A 2 de agosto e sob o lema "liberdade já", cerca de 200 pessoas, entre as quais vários artistas angolanos - poetas, políticos, atores e artistas plásticos - juntaram-se, em Luanda, para pedir a libertação dos 15 ativistas angolanos detidos. Sanguinário, Flagelo Urbano, Toti, Jack Nkanga, Sábio Louco, Zwela Hungo, Mona Diakidi, Dinameni, Fat Soldie e MCK foram alguns dos artistas presentes.
Foto: DW
Agosto de 2015 - Luanda
Dias mais tarde foi a vez das mães dos ativistas se fazerem ouvir. Nas ruas de Luanda, pediram a libertação dos seus filhos, mesmo depois da manifestação ter sido proibida pelo Governo.
Foto: DW/P. Ndomba
Agosto de 2015 - Lisboa
Nem no dia do seu aniversário (28 de agosto), José Eduardo dos Santos teve "descanso". Cidadãos descontentes, quer em Lisboa, quer em Angola, voltaram às ruas. Na capital portuguesa, voltou a pedir-se liberdade para os ativistas. Exigiu-se ainda liberdade de movimento, de pensamento, de expressão e de imprensa em Angola.
Foto: DW/J. Carlos
Novembro de 2015 - Luanda
No dia em que se celebraram os 40 anos da independência de Angola, proclamada a 11 de novembro de 1975, pelo então Presidente António Agostinho Neto, vários jovens voltaram a fazer ouvir-se. 12 manifestantes foram detidos.
Foto: DW/M. Luamba
Março de 2017 - Cazenga
No início de 2017, José Eduardo dos Santos anunciou a saída da Presidência. O cabeça-de-lista do MPLA às eleições gerais deste ano será o atual ministro de Defesa João Lourenço. O candidato foi recebido por centenas de apoiantes naquele que foi o seu primeiro ato de massas da pré-campanha, no município do Cazenga, em Luanda, a 4 de março.