OMS alerta para risco de epidemia na África Oriental e Austral. Angola e Moçambique estão vigilantes. Presidente João Lourenço diz que é "urgente" resposta "coordenada e eficaz" entre os países da SADC.
Publicidade
A cólera representa uma séria ameaça ao desenvolvimento sustentável dos povos da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). Os países da região desdobram-se em ações de modo a responder de forma eficaz ao aumento dos casos da doença.
Esta terça-feira (06.02), a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou que em janeiro houve um aumento "grave dos casos de cólera" em dez países da região Oriental e Austral, incluindo Moçambique, e alertou para o risco de uma epidemia.
Na abertura da cimeira extraordinária dos chefes de Estado e de Governo da SADC dedicada à questão, no fim de semana, o Presidente angolano, João Loureço, que assume atualmente a presidência rotativa da organização, defendeu a necessidade de uma maior interação e cooperação no combate à doença, pois, disse, "a crise de saúde pública que assola a região representa uma séria ameaça ao desenvolvimento sustentável e ao bem-estar dos povos".
O Presidente angolano defendeu ainda que é necessária, e "urgente", uma "resposta coordenada e eficaz", uma vez que "a cólera não conhece fronteiras e exige uma abordagem regional para a enfrentar".
Cólera em Angola
A última vez que Angola enfrentou um surto de cólera foi entre 2016 e 2017. A doença afetou as províncias de Cabinda, Luanda e Zaire, com um total de 252 casos e 11 mortes.
Neste momento, o Ministério da Saúde, com o apoio da Organização Mundial de Saúde, elaborou um plano nacional de contingência, com medidas de prevenção e resposta. As autoridades sanitárias estão a reforçar a vigilância e outras medidas em zonas de alto risco ao longo da fronteira com a Zâmbia e a República Democrática do Congo - que enfrentam surtos prolongados da doença.
Os locais mais propensos à ocorrência de cólera
A cólera é uma doença bacteriana grave, contraída através do consumo de água e alimentos contaminados. A falta de saneamento básico e as fortes chuvas têm causado surtos desta doença em Moçambique.
Foto: Romeu Silva/DW
Chuvas propiciaram a cólera
As chuvas intensas que caíram em fevereiro e março causaram enchentes. As autoridades já previam a eclosão da cólera em alguns bairros, sobretudo periféricos. Foram estas chuvas que provocaram a estagnação de águas que propiciaram a eclosão da cólera, não só na cidade de Maputo, mas também em outras cidades de Moçambique.
Foto: Romeu Silva/DW
Lama e lixo perto de casa
O lixo e a lama propiciam a eclosão da doença. Estes ambientes com resíduos acumulados geralmente estão próximos das residências.
Foto: Romeu Silva/DW
Condições de saneamento nos mercados
Nos mercados, o perigo da eclosão da cólera é visível. Na Praça dos Combatentes, popularmente conhecida por Xiqueleni, não há infraestrutura de saneamento. Esta é um dos maiores mercados informais de Maputo e, também, um dos locais mais perigosos para a eclosão da doença já que se acumula água suja nos mesmos locais onde se vendem alimentos para consumo.
Foto: Romeu Silva/DW
Alimentos vendidos em locais impróprios
Os alimentos são, muitas vezes, expostos no chão ou em locais que as pessoas podem facilmente pisar. Tal torna necessário uma boa higiente na preparação dos ingredientes, o que também é dificultado pela falta de saneamento.
Foto: Romeu Silva/DW
Águas negras em prédios
Em alguns prédios mais antigos de Maputo é comum sentir-se o cheiro nauseabundo das águas que brotam dos esgostos improvisados. Estes são locais muito propícios à propagação da doença.
Foto: Romeu Silva/DW
Sanitários públicos
Em alguns sanitários públicos é notória a falta de higiene, sobretudo em escolas e hospitais muito frequentados por cidadãos. Neste sanitário de uma escola, denotam-se esforços para manter o local limpo.
Foto: Romeu Silva/DW
Falta de água
Nos locais públicos, algumas pessoas também têm dificultado as ações das autoridades quando roubam torneiras, dificultando assim a higiene individual. Apesar do esforço em manter o local limpo, nota-se nesta imagem que as torneiras foram retiradas.
Foto: Romeu Silva/DW
Lixeira de Hulene
Há residentes nas imediações da maior lixeira do município de Maputo. Várias vezes ao dia são despejados resíduos no local. Nos arredores, veem-se residências de pessoas que convivem diariamente com esta situação.
Foto: Romeu Silva/DW
Comunidades na recolha de lixo
As comunidades nos distritos municipais de Maputo desdobram-se em ações de limpeza para evitar a propagação da cólera. Todas as manhãs é visível o transporte de resíduos sólidos para os contentores de lixo.
Foto: Romeu Silva/DW
Água canalizada
Nem todos cidadãos têm acesso a água potável na cidade de Maputo. Contudo, fontanários têm sido bastante importantes no abastecimento do população com todas as medidas de higiene respeitadas.
Foto: Romeu Silva/DW
Saneamento do meio
Valas de drenagem como esta são raras nos guetos de Maputo. Em tempos de chuva, a vala escoa água para zonas baixas. Isso evita as enchentes que provocam cólera.
Foto: Romeu Silva/DW
11 fotos1 | 11
Em entrevista à DW, Walter Firmino, oficial de emergência da OMS em Angola, explica que "o plano foi elaborado para fazer face a três etapas do possível surto: pré epidémica, durante e pós. Ou seja, no momento da prevenção, a resposta e recuperação".
Publicidade
11 mil casos em Moçambique desde outubro
Já em Moçambique, o mais recente boletim sobre a progressão da doença, elaborado pela Direção Nacional de Saúde Pública e com dados até 31 de janeiro, regista um acumulado de quase 11 mil casos de cólera desde 1 de outubro de 2023. O documento avança ainda que foi registada, no mês passado, a 26ª vítima mortal do atual surto.
Nelson Clinton, mestre em saúde pública, considera que o combate à cólera passa também pela aposta na educação das populações sobre as medidas de prevenção.
Nesse sentido, afirma, "os agentes comunitários devem ser formados para trabalhar com as comissões de moradores e levar o conhecimento sobre os riscos da própria doença que, muitas vezes, nós somos os causadores".
Segundo o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, de janeiro de 2023 a janeiro de 2024, foram documentados cerca de 253.000 casos e quase 4.200 mortes em 19 Estados membros da União Africana, com 72,5% das infeções detetadas no sul do continente.
Posto de controlo tenta impedir surto da cólera na Zambézia