Congresso Nacional Africano está reunido em Joanesburgo para decidir quem sucede a Jacob Zuma na liderança. O partido enfrenta uma das maiores crises desde que chegou ao poder, em 1994.
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O Congresso Nacional Africano, um dos maiores movimentos de libertação em África, está dividido e tem a liderança enfraquecida do Presidente Jacob Zuma, que termina o seu segundo mandato envolvido em diversas denúncias de corrupção.
A corrida à nova liderança do ANC disputa-se entre o vice-Presidente, Cyril Ramaphosa, e a ex-esposa de Zuma e ex-presidente da Comissão da União Africana, Nkosazana Dlamini-Zuma.
Eleição renhida
Cinco das nove províncias do país estão a apoiar Dlamini-Zuma. Por sua vez, os parceiros da aliança do ANC, o Congresso dos sindicatos sul-africanos e o Partido Comunista, apoiam Ramaphosa, assim como a Liga de Veteranos do ANC. A Liga Feminina e a Liga da Juventude do ANC estão com Nkosazana Dlamini-Zuma.
Ramaphosa está confiante no sucesso da conferência e acredita que o encontro será pacífico. "Estou feliz com os processos de nomeação", afirma. "Haverá muita camaradagem nesta conferência, à medida que avançarmos para eleger os líderes do ANC e adotar as políticas do partido".
O vice-Presidente deixou claro que uma das suas principais tarefas – se eleito – será combater efetivamente o desemprego, a pobreza e a desigualdade que assolam o país.
A sua rival – Dlamini-Zuma, ex-presidente da Comissão da União Africana, que tem a imagem ligada a do Presidente Jacob Zuma, apresentou um novo slogan – Transformação Económica Radical – numa tentativa de ganhar apoio.
"Se eu ganhar, vou envolver todos os jogadores e explicar-lhes quais são os desafios e dizer-lhes como sul-africanos patriotas quais são as soluções", promete. "É assim que vemos as coisas no ANC".
Duelo divide sul-africanos
O analista político Lesiba Teffo diz que tanto Ramaphosa quanto Dlamini-Zuma são líderes capazes, mas mostra-se preocupado com a imagem de corrupção que paira sobre o ANC."Eles usam os privilégios e a política para enriquecer. Seriam pessoas comuns se não estivessem no ANC. Talvez alguns deles passariam por cima dos cadáveres dos antigos companheiros para chegar onde estão", considera.
Nas ruas, os cidadãos estão divididos sobre que liderança será melhor para o país.
15.12.17 - Congresso ANC - MP3-Mono
Sipho Tabethe, residente em Joanesburgo, aposta em Cyril Ramaphosa, que considera ser "a pessoa com melhor histórico": "Em termos de criação de empregos, unidade e confiança, Cyril será um candidato muito melhor para liderar o país no futuro".
Já o empresário Duduzu Ndlovu gostaria que Nkosazana Dlamini-Zuma fosse presidente. "Ela tem sido uma boa líder. Penso que fará um bom trabalho e é a melhor candidata neste momento".
Mas há também quem não confie em nenhum dos dois. É o caso de Sizwe Dlamini: "Não tenho qualquer confiança nestas duas pessoas. E também não confio na actual liderança do ANC. Em 2019, não vejo o ANC surgir como um partido maioritário. O melhor que pode acontecer é um Governo de coligação".
Independentemente de quem sair vencedor dos cinco dias do Congresso do ANC, sabe-se já que terá uma tarefa gigantesca pela frente: o resgase da economia e o apaziguamento no seio do partido. O novo líder também deverá ser o candidato do partido nas presidenciais em 2019.
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
Foto: Picture-alliance/AP Photo/F. Franklin II
O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
Foto: DW/E. Lubega
Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Prinsloo
A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.