África do Sul anuncia decisão sobre libertação de Chang
Lusa
31 de janeiro de 2019
Tribunal sul-africano de Kempton Park, em Joanesburgo, revela esta quinta-feira a sua decisão sobre o pedido de libertação sob fiança do ex-ministro das Finanças de Moçambique, apresentado pela defesa de Manuel Chang.
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Detido na África do Sul desde 29 de dezembro, Manuel Changé acusado de fraude e lavagem de dinheiro pelos Estados Unidos, no âmbito da investigação às dívidas ocultas em Moçambique.
Na semana passada, a defesa de Chang pediu à Justiça sul-africana a libertação sob fiança do ex-governante e atual deputado na Assembleia da República pelo partido FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique, no poder), alegando falta de condições na cadeia.
A juíza Sagra Subroyen adiou no dia 24 de janeiro a decisão sobre a libertação de Chang, alegando que precisava de mais tempo para analisar toda a documentação que lhe foi entregue.
A procuradora do Ministério Público sul-africano Elivera Dreyer reiterou na mesma ocasião que se opõe à libertação de Chang por considerar que "há risco de fuga", que "as acusações são graves" e que o ex-ministro "parece ser uma pessoa com capacidades financeiras" que poderá "fugir para qualquer local". "A experiência ensinou-nos como é fácil obter documentos de identidade falsos", acrescentou a procuradora.
A defesa do ex-governante tinha decidido adiar o pedido de libertação sob fiança, no dia 18 de janeiro, depois de ter dado entrado na justiça sul-africana um outro pedido de extradição, neste caso das autoridades moçambicanas, datado de 10 de janeiro, segundo o advogado de defesa Rudi Krause.
Face aos dois pedidos, o mesmo tribunal em Kempton Park adiou para 5 de fevereiro a decisão sobre "qual dos dois pedidos de extradição - Estados Unidos ou Moçambique - merecerá a preferência das autoridades sul-africanas".
"Agressão grosseira" à Constituição
Na terça-feira (29.01), a Comissão Permanente da Assembleia da República de Moçambique consentiu a prisão preventiva, em Moçambique, do deputado Manuel Chang, apesar de a RENAMO, o principal partido da oposição, considerar uma "agressão grosseira" à Constituição.
"Nós deliberamos a favor do pedido do Tribunal Supremo", disse António Amélia, primeiro vice-presidente da Assembleia da República, momentos após a sessão da Comissão Permanente no parlamento moçambicano.
O Tribunal Supremo moçambicano solicitou em 24 de janeiro o consentimento do Parlamento para imposição da medida coerciva máxima, a prisão preventiva, ao deputado da FRELIMO e antigo ministro das Finanças de Moçambique, no âmbito da investigação às dívidas ocultas. "É preciso esclarecer que a Comissão Permanente não autorizou o levantamento de imunidade, porque nem o pode fazer, e também porque não foi esse o pedido Tribunal Supremo. Neste momento, cabe ao Tribunal Supremo fazer cumprir estritamente a lei", referiu António Amélia.
A RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana, oposição), que abandonou a sessão, considerou que a decisão da Comissão Permanente fere grosseiramente a Constituição, sublinhando que "não há prisão preventiva que se possa exercer sobre um deputado que tenha imunidade".
Acusado de ter recebido pelo menos um suborno de cinco milhões de dólares, Manuel Chang foi ministro das Finanças de Moçambique durante a governação de Armando Guebuza, entre 2005 e 2010, antecessor de Filipe Nyusi que ocupou a pasta ministerial da Defesa. Foi Chang quem avalizou dívidas de mais de 2.000 milhões de dólares secretamente contraídas a favor da EMATUM, da Proindicus e da MAM, as empresas públicas referidas na acusação norte-americana, alegadamente criadas para o efeito nos setores da segurança marítima e pescas, entre 2013 e 2014.
Neste processo também estão detidos três antigos funcionários do Credit Swisse e um responsável da Privinvest, a fornecedora dos equipamentos comprados com parte do dinheiro dos empréstimos avalizados pelo Estado moçambicano à margem do Parlamento.
Impacto da crise na vida dos moçambicanos
Trabalhadores em Maputo relatam as dificuldades que enfrentam todos os dias, com o país mergulhado numa crise financeira. Alguns ainda conseguem pequenos lucros, enquanto outros tentam estratégias para atrair clientes.
Foto: DW/Romeu da Silva
Novos tempos, menos lucros
Ana Mabonze tem uma loja de gelados há pouco mais de sete anos e diz que os rendimentos não têm sido bons ultimamente. Por dia, lucra apenas o equivalente a cerca de dois euros. O negócio é feito na ponte cais, também conhecida por Travessia. Nestes dias, os lucros baixaram porque os automobilistas que iam de ferryboat para Katembe agora usam a nova ponte.
Foto: DW/Romeu da Silva
"Boa cena"
O negócio de transferência de dinheiro por telefone conhecido por Mpesa está a alimentar muitas famílias. É o caso de Angélica Langane, que na sua banca "Boa Cena" diz ter clientes frequentemente, porque muitos estão preocupados em transferir dinheiro, seja para pagar dívidas, fazer compras ou apenas para ter a sua conta em dia.
Foto: DW/Romeu da Silva
O dinheiro não aparece
Numa das ruas de Maputo também encontramos Dulce Massingue, que montou a sua banca de venda de fruta. Para ela, este negócio não está a dar lucros. Diz que o pouco que ganha apenas serve para pagar o seu transporte. Nestes dias de crise, Dulce pensa em mudar de negócio, mas tudo depende do dinheiro que não aparece.
Foto: DW/Romeu da Silva
Trabalhar para pagar o transporte?
O trabalho de Jorge Andicene é recolher garrafas plásticas para serem recicladas pelos chineses. Sem ter revelado quanto ganha por este negócio, Jorge diz que não chega a ser bom, porque o mercado está muito apertado. Os preços de vários produtos subiram, por isso também os lucros são apenas para pagar o transporte.
Foto: DW/Romeu da Silva
"As pessoas comem menos na rua"
A dona desta barraca não quis ser identificada, mas confessa que por estes dias o negócio baixou bastante. Vende hambúrgueres e sandes. As pessoas agora preferem trazer as suas refeições de casa para poupar dinheiro, diz. O negócio rende-lhe por dia o equivalente a dois euros, dinheiro que também deve servir para comprar outros bens para as crianças.
Foto: DW/Romeu da Silva
Costureira também não vê lucros
O arranjo de roupas é outro negócio pouco rentável, mesmo nos tempos das "vacas gordas". É oneroso transportar todos os dias esta máquina, por isso Maria de Fátima decidiu ficar num dos armazéns na cidade de Maputo, pagando um determinado valor. São poucos os clientes que a procuram para arranjar as suas roupas.
Foto: DW/Romeu da Silva
Negócio já foi mais próspero
Um dos negócios que tinha tendência de prosperar na capital era a venda de acessórios de telefones. Mas como há muitas pessoas que fazem este negócio, a procura agora é menor e o lucro baixou muito. O que salva um pouco estes empreendedores é o facto de cada dia haver novos tipos de telefones.
Foto: DW/Romeu da Silva
Poder de compra reduzido
Nesta oficina trabalham jovens mecânicos especializados na reparação de radiadores. Não quiseram ser identificados, mas afirmam que durante anos este negócio lhes rendia algum dinheiro para pagar a escola. Mas com a crise que se vive agora, a situação agravou-se. São poucos os clientes que os procuram e alegam que muitos moçambicanos perderam poder de compra.
Foto: DW/Romeu da Silva
Nada de brilho
O negócio de engraxador é outro que já não está a render, segundo os profissionais. Os únicos indivíduos que os procuram são estrangeiros de origem europeia, sobretudo portugueses. Os nacionais, diz Sebastião Nhampossa, preferem fazer o serviço por conta própria em casa. Com esta crise, é normal os engraxadores serem visitados apenas por um ou dois clientes por dia.
Foto: DW/Romeu da Silva
Estratégias para atrair o cliente
Quando as atividades da Inspeção Nacional das Atividades Económicas (INAE) trouxeram à tona a real situação de higiene nos restaurantes, muitos cidadãos passaram a não frequentar estes locais. Como forma de deleitar a clientela, o dono deste pequeno restaurante promove música ao vivo de cantores da velha guarda e ten uma sala de televisão para assistir a jogos de futebol.