África do Sul aprova exportação de armas para Cabo Delgado
Lusa
7 de dezembro de 2020
O Governo sul-africano aprovou a exportação de armamento e equipamento militar para o conflito armado no norte de Moçambique, noticiou a imprensa sul-africana.
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Pelo menos cinco veículos blindados 'Paramount Marauder' de 17 toneladas de fabrico sul-africano, equipados com metralhadoras, chegaram em novembro à província de Cabo Delgado "como parte de operações terrestres", escreve o portal defenceweb.
Em junho, o Comité Nacional de Controlo de Armas Convencionais (NCACC) do Governo sul-africano, que aprova o fornecimento de armas e munições e emite a respetiva autorização de exportação, divulgou que o Parlamento que a África do Sul forneceu armas a Moçambique, sem precisar detalhes, adianta o portal sul-africano.
"Não podíamos dizer que não a Moçambique porque é um Governo soberano sob ataque de terroristas", disse o presidente da comissão e ministro na Presidência, Jackson Mthembu, citado pelo defenceweb, referindo-se à alegada insurgência armada na província moçambicana de Cabo Delgado.
O Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), no poder desde 1975 em Moçambique, e aliado político do ANC, enfrenta desde há três anos um conflito armado com grupos locais na província de Cabo Delgado, norte do país, que já casou mais de 2.000 mortes e 500.000 pessoas deslocadas.
Vítimas de ataques em Cabo Delgado em fuga pela vida
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Mais esclarecimentos com os governos...
O portal sul-africano refere que um porta-voz da empresa fabricante Paramount, remeteu para "os governos envolvidos quaisquer esclarecimentos", sublinhando que a empresa "só fornece soluções e equipamento a governos soberanos".
O Grupo Paramount foi criado na África do Sul em 1994, ano em que o Governo do ANC, liderado pelo ex-Presidente Nelson Mandela, foi eleito nas primeiras eleições multirraciais e democráticas no país, com "o objetivo ousado de ajudar os governos africanos a proteger melhor os seus países", refere o sítio oficial na internet da empresa sul-africana.
A empresa emprega mais de 3.000 funcionários, e conta com unidades industriais em África, Ásia e Médio Oriente, salienta.
A Lusa contactou por email a Presidência da República e o Ministério das Relações Internacionais e Cooperação da África do Sul, país que preside atualmente à União Africana, mas não obteve qualquer reposta.
A província de Cabo Delgado, onde avança atualmente o maior investimento privado de África, para exploração de gás natural, está desde há três anos sob ataque de insurgentes e algumas das incursões foram reivindicadas pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico desde 2019.
O desterro forçado dos deslocados em Cabo Delgado
São mais de 450 mil no norte de Moçambique. O terrorismo cortou-lhes as raízes e tomou-lhes o chão. Os deslocados internos procuram vingar noutras paragens. E Pemba tem sido lugar de eleição. Sobreviverão na nova terra?
Foto: Privat
A dor da perda e da impotência
Um olhar que diz mais do que mil palavras, a imagem poderia ser "sem legenda". Foi depois de um ataque à aldeia "Criação", Muidumbe, a primeira investida terrorista ao distrito, em novembro de 2019. Os insurgentes começaram os seus ataques em Cabo Delgado em outubro de 2017.
Foto: Privat
Histórias de vida reduzidas a cinzas
Desde então, a matança e destruição passaram a ser visitas assíduas da região. Como ninguém quer ser anfitrião, os aldeões fugiram. Em finais de outubro, Muidumbe e outros distritos sangraram de novo e a população fugiu. Muidumbe está praticamente nas mãos dos terroristas, tal como Mocímboa da Praia, desde agosto.
Foto: Privat
Quase todos os caminhos vão dar a Pemba
O único desejo destes residentes de Mueda é conseguir um canto no camião para chegar à capital provincial de Cabo Delgado. Mas a disputa entre pessoas e os seus próprios pertences ameaça deixar alguém para trás. Desde meados de outubro, Pemba recebeu cerca de 12 mil deslocados. Inicialmente, recebia à volta de mil deslocados por dia.
Foto: Privat
Quando o mato passa a ser melhor que o lar
Para muitos em Cabo Delgado, ter um teto deixou de ser sinónimo de segurança. Conseguir manter a vida, mesmo sem casa, passou agora a ser a meta. Os bichos passaram a ser mais cordiais que os irmãos terroristas, as estrelas melhores que o teto e os arbustos melhores que as paredes. Famílias procuram refúgio nas matas, onde caminham por dias dominados pelo medo, sem comida e sem norte.
Foto: Privat
Um abraço amigo em Pemba
Estes deslocados chegam de Quissanga. Mas também chegam à praia de Paquitequete, Pemba, deslocados vindos de vários lugares. Todos tentam escapar ao terror. Muitos fixam-se aqui, onde recebem apoio de ONGs, associações, indivíduos e do Governo. Há até quem abra as portas da sua casa para os receber, mesmo não os conhecendo.
Foto: Privat
Crise humanitária faz brotar solidariedade infinita
A falta de quase tudo faz despertar solidariedade que chega de todo o lado. Para quem está longe, uma angariação de fundos e bens materiais é a opção. Já cuidar dos deslocados na praia de Paquitequete, atendendo-os nas suas necessidades, é o que faz quem está no terreno. Na praia, há jovens que chegam de madrugada para dar amor a quem precisa.
Foto: Privat
Uma fuga rodeada de perigos
O medo é tanto que nem a sobrelotação parece intimidar os deslocados internos. No começo de novembro, mais de 40 pessoas morreram a tentar chegar a Pemba num naufrágio entre as ilhas do Ibo e Matemo.
Foto: Privat
Pemba a rebentar pelas costuras
O "boom" de deslocados é tão grande que o sistema de serviços básicos para a população, como água e saneamento, está no limite. Antes desta nova vaga de deslocados, a capital de Cabo Delgado tinha 204 mil habitantes. Agora, tem mais de 300 mil.
Foto: DW/E. Silvestre
Começar nova vida noutro chão
O Governo criou um comité de gestão para esta crise humanitária. Afirma que está a criar novas aldeias, centros de reassentamento, infrastruturas e a parcelar terras para acomodar os deslocados. Embora esteja garantida a segurança, as suas raízes estão noutro chão.
Foto: Privat
Que futuro?
Por enquanto não há resposta. Mas há deslocados que se vão "desenrascando" para sobreviver. Muitos dizem que não querem viver de mão estendida. Por exemplo, quem tem barco vai à pesca ou trasporta mercadorias. Outros entretêm-se a jogar futebol. Vão cuidando das suas vidas. Mas para os que não têm alternativas, que são a maioria, correrão riscos de entrar para o mundo do crime?