Industrialização e criação de infraestruturas serão prioridades durante presidência sul-africana da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). Analistas criticam falta de progressos nos direitos humanos.
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O Governo da África do Sul assume, esta semana, a presidência da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC, na sigla em inglês) por um ano, o que provoca algum receio junto dos mais pequenos entre os quinze Estados-membros da organização.
Talitha Bertelsmann-Scott, colaboradora do Instituto Sul-Africano de Relações Internacionais (SAIIA), afirma que o papel da África do Sul na região é problemático: "O país vacila entre comportar-se como o 'grande irmão' ou retirar-se completamente para não pisar os calos a ninguém."
A SADC foi fundada há 25 anos e entre os objetivos mais ambiciosos da organização constam a estabilidade política e a boa governação, na base do progresso económico e do comércio. Em 2008, os países da SADC assinaram um acordo de comércio livre, mas alguns estados não aderiram. Até agora, segundo Talitha Bertelsmann-Scott, não houve progressos na integração económica desses países. E a especialista em política comercial considera que a situação não mudará sob a presidência da África do Sul.
"Pretória recusou sempre uma união aduaneira. Existe apenas uma mini união aduaneira entre a Suazilândia, Botswana, Lesotho e Namíbia", explica.
A integração possível
Os Estados-membros da SADC são unânimes em considerar que a prioridade deve ser dada à industrialização e à construção de infraestruturas, defende Bertelsmann-Scott. Esta é a intenção do Governo do Presidente sul-africano Jacob Zuma, que planeia angariar fundos para fomentar áreas transnacionais, como as indústrias mineira, de medicamentos e de serviços. Já existe um mercado energético comum, foram eliminadas as fronteiras entre as enormes reservas naturais e introduzido um visto único para turistas.
Há, no entanto, um problema que requer solução rápida: A maioria dos países da SADC tem relações comerciais mais importantes com a China, a Índia, o Brasil ou as antigas potências coloniais do que com os seus parceiros na comunidade.
Objetivos ambiciosos
Matthias Boddenberg, diretor da Câmara de Comércio alemã para a África Austral, afirma que os objetivos da SADC são "muito ambiciosos". Apesar de já não existir o entusiasmo inicial, "os estados da SADC continuam a dar pequenos mas importantes passos para a unificação do seu espaço político e económico".
Segundo Boddenberg, a integração económica é significativa. O especialista constata uma vontade política para um aprofundamento da integração e o reforço das relações comerciais com a União Europeia. "Mas ainda há muita resistência no que toca à renúncia da soberania política para avançar com a causa comum", diz Boddenberg.
África do Sul assume presidência da SADC
Mugabe, o intocável?
No Zimbabué, a SADC já tentou encorajar uma mudança no poder e obrigar o Presidente Robert Mugabe a permitir eleições livres. Mas as tentativas falharam redondamente. Segundo Talitha Bertelsmann-Scott, "o mundo todo está à espera que ele morra para que as coisas melhorem no Zimbabué".
Na sua opinião, os países-membros não conseguem exercer uma influência decisiva sobre Harare "por causa da forte solidariedade entre as elites saídas das guerras de libertação". Matthias Boddenberg concorda, apontando o papel importante do Zimbabué contra o regime do apartheid na África do Sul, "algo que ainda hoje determina o respeito dos outros em relação a este país".
Boddenberg aponta outro défice da SADC: os direitos humanos. Uma alteração dos estatutos do Tribunal da SADC em 2014 determinou que só chefes de Estado e de Governo podiam apresentar queixa por violação de direitos humanos. Anteriormente também organizações não-governamentais e cidadãos tinham esse direito. A ONG Human Rights Watch afirma que esta alteração coloca em perigo a estabilidade e paz na região.
2013: um ano decisivo para o Zimbabué
No dia 31 de julho, os zimbabueanos foram às urnas para eleições gerais. A 16 de março, já foi aprovada uma nova Constituição com 94,5 por cento dos votos. Um país na luta para se recuperar do caos econômico.
Foto: Reuters
Mais Mugabe
Desde a independência, o Zimbabué não conheceu outro líder: Robert Mugabe governa o país ininterruptamente desde a independência da Grã-Bretanha no ano de 1980. Tem 89 anos de idade e está no poder há mais de 33 anos. Segundo os resultados oficiais da eleição presidencial do dia 31 de julho, Mugabe foi reeleito com 61% dos votos.
Foto: Reuters
Zimbabué, o antigo celeiro de África
No dia 31 de julho, os zimbabueanos foram às urnas para eleger o seu Presidente e os seus deputados em eleições gerais. A 16 de março, já foi aprovada uma nova Constituição com 94,5 por cento dos votos. Mas o país ainda luta para se recuperar do caos económico dos últimos anos. Em épocas melhores, o Zimbabué já foi conhecido como "o celeiro de África".
Foto: AFP/Getty Images
Reforma agrária provocou inflação
A partir de 2000, o governo começou a confiscar fazendas de proprietários brancos para redistribuí-las aos zimbabueanos negros. Nos anos seguintes, a produção agrícola caiu pela metade e a inflação aumentou drasticamente. Houve escassez de combustíveis, alimentos e medicamentos. Os zimbabueanos culparam a reforma agrária. O partido ZANU-PF, de Robert Mugabe, culpou a seca e as sanções ocidentais.
Foto: AP
Sanções internacionais
Em 2002, o Reino Unido, os Estados Unidos e a União Europeia responderam às violações de direitos humanos no Zimbabué impondo sanções ao Presidente Robert Mugabe e seus aliados. O Fundo Monetário Internacional cortou a ajuda financeira ao país e a União Europeia cancelou o apoio a todos os projetos no território.
Foto: AP
Violência
Até as eleições gerais de 2008, Mugabe e o ZANU-PF tinham governado o país. Mas em 2008, Morgan Tsvangirai, do partido MDC, venceu a primeira volta do escrutínio com a maioria relativa dos votos. Os partidários do ZANU-PF de Mugabe reagiram com uma onda violência. Como não viu as condições para uma campanha justa, Tsvangirai retirou-se da corrida antes da segunda volta, que foi ganha por Mugabe.
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A divisão do poder
Após as eleições de 2008, a pressão de líderes regionais fez com que Mugabe e Tsvangirai assinassem um acordo de partilha de poder. Esta frágil coligação entre o ZANU-PF (União Nacional Africana do Zimbabué-Frente Política) de Mugabe e o MDC (Movimento para a Mudança Democrática) de Tsvangirai terminou depois das eleições gerais no dia 31 de julho de 2013.
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A recuperação
Apesar da difícil fase para a política zimbabueana, a economia do país começou a mostrar sinais de recuperação em 2008. A taxa de inflação anual manteve-se abaixo de 5% desde que o país combateu a hiperinflação com a eliminação do dólar zimbabueano em 2009. Agora, os pagamentos são efetuados em cinco moedas estrangeiras (dólar norte-americano, rand sul-africano, pula do Botsuana, euro e libra).
Foto: AFP/Getty Images
A pobreza assola o país
Apesar da abundância de recursos naturais no país como o carvão, platina, minério de ferro, ouro e diamantes, a maioria dos zimbabueanos vivem com menos de 1,25 dólares por dia. 80% dos zimbabueanos estão abaixo da linha de pobreza. A taxa de desemprego atinge 90%. Face a este cenário, muitos zimbabueanos emigraram nos últimos anos para países vizinhos como a África do Sul e Moçambique.
Foto: DW
Recursos minerais não beneficiam população
Os campos de diamantes de Marange foram descobertos em 2006 e têm sido descritos como os mais ricos do mundo. Mas devido à corrupção, tudo indica que apenas a elite do país beneficia da abundância dos recursos minerais no Zimbabué. De acordo com organização não governamental Partnership Africa Canada (PAC), dois mil milhões de dólares já foram parar nos bolsos de altos funcionários do governo.
Foto: AP
As ameaças da polícia
O Zimbabué continua a sofrer com a desigualdade social, abusos dos direitos humanos e a falta de liberdade de imprensa. Em 2011, 46 ativistas dos direitos humanos foram presos por supostamente terem incitado pessoas a se manifestar contra o governo. Até hoje, a repressão policial continua.