África do Sul: Cinco anos depois do massacre de Marikana
Abu-Bakarr Jalloh | mjp | Lusa
16 de agosto de 2017
A 16 de agosto de 2012, a polícia sul-africana matou 34 mineiros que reivindicavam aumentos salariais. Hoje, famílias das vítimas, mineiros, ativistas e políticos reúnem-se no local da tragédia para pedir justiça.
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Assinala-se esta quarta-feira (16.08) na África do Sul o 5º aniversário do massacre nas minas de Marikana. Há precisamente cinco anos, 34 trabalhadores da mina de platina da empresa britânica Lonmin, no noroeste do país, foram mortos pela polícia sul-africana.
Os mineiros em greve reivindicavam o aumento de salários quando as forças de segurança foram chamadas a intervir para travar o protesto. Os agentes justificaram as mortes alegando autodefesa.
O massacre de Marikana - o mais grave tiroteio policial desde o fim do apartheid, em 1994 - levou a uma onda de greves violentas nas minas da África do Sul e à morte de outros 60 mineiros.
Uma comissão de inquérito oficial atribuiu o essencial da responsabilidade da tragédia à polícia. O comissário nacional, Riah Phiyega, foi suspenso pelo Presidente sul-africano, Jacob Zuma.
Em dezembro passado, a Presidência sul-africana anunciou que quatro polícias, incluindo um general, eram alvo de processos judiciais por homicídio, mas não avançou detalhes.
À espera de justiça
Cinco anos depois do massacre, nenhum dos agentes envolvidos enfrentou a justiça. A Amnistia Internacional (AI) tem estado a acompanhar o processo desde 2012.
"Em março deste ano, a direcção de investigação da polícia apresentou ao Parlamento uma lista de 72 agentes, incluindo o comissário nacional e o comissário do noroeste, que deveriam ser julgados pelo seu papel na morte dos mineiros. Em maio, a lista foi entregue à Procuradoria Geral", recorda Shenilla Mohamed, directora-executiva da AI na África do Sul.
África do Sul: Cinco anos depois do massacre de Marikana
"É o 5º aniversário de Marikana e a Procuradoria ainda não se pronunciou. Não sabemos se os agentes serão julgados ou não", lamenta Shenilla Mohamed, que considera que um dos principais desafios é a falta de vontade política.
A Amnistia Internacional pede ao Governo sul-africano e à Procuradoria-Geral seriedade quanto às recomendações da unidade de investigação e que os responsáveis pelo massacre de Marikana sejam levados a tribunal.
"Com a criação da Comissão de Inquérito e a lista dos 72 agentes apresentada pela direcção de investigação, acho que o Governo não tem escolha. E é preciso continuar a pressionar", afirma Shenilla Mohamed, que esteve em Marikana há alguns dias.
Braço-de-ferro continua
Segundo a diretora-executiva da AI na África do Sul, "a situação das viúvas e dos mineiros não melhorou". As medidas sociais recomendadas pela comissão de inquérito a favor dos mineiros, em áreas como habitação ou condições de trabalho, continuam a motivar um braço-de-ferro entre a Lonmin e as autoridades.
As famílias das vítimas continuam a pedir que os culpados sejam responsabilizados. "Há um sentimento de raiva, tristeza, total incredulidade", conta Shenilla Mohamed . "Uma viúva disse-nos que só quer saber exactamente o que aconteceu naquele dia e que as pessoas que mataram o seu marido sejam responsabilizadas, para que ela e os seus filhos possam descansar".
Em 2015, as famílias das vítimas apresentaram queixa contra o Estado sul-africano, para obterem indemnizações. Em março deste ano, o Governo anunciou que vai oferecer 72 milhões de euros como compensação às famílias das 34 vítimas do massacre de Marikana.
Minas de ouro na Nigéria: trabalho mortal para crianças
Centenas de crianças trabalham em minas de ouro na Nigéria. Há alguns meses, 28 crianças morreram, envenenadas com chumbo. De lá para cá, pouco ou nada mudou. O correspondente da DW Adrian Kriesch visitou a região.
Foto: DW/A. Kriesch
Veneno dourado
Centenas de crianças trabalham, todos os dias, em minas de ouro na Nigéria. Em maio, 28 crianças morreram, envenenadas com chumbo - todas menores de seis anos. Os irmãos tinham levado pedras da mina para casa. Para separar o metal precioso da pedra, usa-se produtos químicos tóxicos. Pequenas quantidades podem ser fatais para um menor de seis anos.
Foto: DW/A. Kriesch
Normalidade assustadora
Basta o contacto com roupas contaminadas com chumbo para crianças menores de seis anos entrarem em colapso. Meses depois da tragédia na Nigéria, a realidade continua a ser assustadora: muitas das crianças que trabalham nas minas de ouro têm à volta de seis anos de idade. Garimpam dia após dia, de manhã à noite. Aqui, mal se vê adultos.
Foto: DW/A. Kriesch
Pó de chumbo mortal
Para proteger melhor as crianças, uma organização promove uma sessão de esclarecimento numa aldeia. As crianças não devem trazer roupas da mina para casa, não devem mexer em químicos e devem evitar minas de alto risco. Mais difícil é proibir as crianças de trabalhar.
Foto: DW/A. Kriesch
Minas em vez da escola
"A minha família precisa do dinheiro", conta Habi. Ela não sabe quantos anos tem, sabe apenas que trabalha há 24 meses na mina. Ainda assim, ao contrário de muitos dos seus amigos, Habi vai de vez em quando à escola.
Foto: DW/A. Kriesch
Acesso difícil
Muitas minas de ouro ficam no estado do Níger, no centro-oeste da Nigéria. Durante a época das chuvas, a região fica separada do resto do país. A única estrada para o Níger transforma-se num rio. Os carros não conseguem circular, as motorizadas têm de ser transportadas à mão. O caos ilustra bem a forma como esta região foi esquecida pelo Estado.
Foto: DW/A. Kriesch
"Trabalho infantil?"
Depois da morte das 28 crianças, foi criada uma força especializada em envenenamentos por chumbo. Mas em Kagara, a sede do Governo local, nega-se que haja trabalho infantil. "O que significa isso, trabalho infantil?", pergunta o líder da força, Alhaji Abdullahi Usman Katako. Ele diz que, durante a época das chuvas, é impossível tomar medidas de maior envergadura devido às más condições da estrada.
Foto: DW/A. Kriesch
Cuidados médicos quase inexistentes
Cerca de 80% das crianças da região têm altas concentrações de chumbo no sangue. Mas faltam médicos para as tratar. Próximo da mina, só há um posto médico. Mas o médico nunca estudou Medicina, tirou apenas um curso rápido na capital provincial. Dezenas de crianças tiveram de ser levadas para tratamento em localidades maiores.
Foto: DW/A. Kriesch
143 alunos, um professor
Na escola de Shikira, há um professor para 143 alunos – e ele ensina todas as disciplinas. "Muitas vezes, os alunos baldam-se às aulas e vão para o garimpo", conta Abdullahi Garba. Muitos pais não conseguiram pagar o uniforme da escola e mandaram os filhos para o trabalho nas minas. "Preciso de mais apoios para conseguir fazer alguma coisa contra isso."
Foto: DW/A. Kriesch
Mais minas do que atos
O jornalista nigeriano Arukaino Umukoro diz que, desde a notícia das mortes por envenenamento com chumbo, pouco ou nada mudou. Pelo contrário: Há mais minas do que antes. "Os habitantes da aldeia não conhecem outra coisa que não o garimpo. O Estado tem de arranjar alternativas para estas pessoas e investir na educação", diz Umukoro.