O partido no poder na África do Sul, o Congresso Nacional Africano, está dividido depois de o Presidente Jacob Zuma enfrentar acusações de corrupção. E muitos sul-africanos deixaram de confiar no ANC.
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A conferência do Congresso Nacional Africano (ANC) – que começou na sexta-feira (30.06) e termina esta quarta-feira – ocorre numa altura conturbada. A imagem do partido no poder deteriorou-se após vários escândalos de corrupção em que o Presidente Jacob Zuma foi envolvido, numa altura em que a África do Sul atravessa uma recessão e o desemprego aumenta.
O ANC espera, por isso, delinear estratégias para voltar a ganhar a confiança do eleitorado, promovendo um clima de unidade e reformas socioeconómicas. Mas, poucos dias depois de começar a conferência em Joanesburgo, as fissuras no partido tornaram-se evidentes, com fações distintas a apoiar diversos líderes à sucessão de Jacob Zuma, que deverá deixar a liderança do ANC em dezembro.
Divisões profundas
Quando o ANC, um dos mais antigos movimentos de libertação africanos, chegou ao poder em 1994 sob a liderança de Nelson Mandela, prometeu uma vida melhor para todos os sul-africanos. Mas, 23 anos depois, muitos cidadãos deixaram de confiar no partido, profundamente dividido.
O sectarismo tomou conta da conferência do ANC, em que participam quase 4.000 delegados. Numa gravação obtida pelos meios de comunicação social sul-africanos, é possível ouvir vários delegados a entoar canções a favor do vice-presidente Cyril Ramaphosa. Do outro lado da sala, outro grupo clama pela sua favorita, a ex-presidente da Comissão da União Africana e ex-mulher de Jacob Zuma, Nkosazana Dlamini-Zuma.
Para superar esta desunião e regenerar a imagem do partido entre os sul-africanos, propôs-se a criação de um Conselho Eleitoral Revolucionário para interrogar os candidatos antes de serem selecionados para cargos de liderança.
O ANC "tem o poder" de mudar o atual clima de fracionismo, comentou o ministro da Polícia, Fikile Mbalula, à margem da conferência. "Por isso estamos a fazer propostas firmes para responder a estes desafios", acrescentou.
Analistas políticos observam, no entanto, que a proposta para criar um Conselho Revolucionário demonstra que o ANC enfrenta sérios problemas sob a liderança de Zuma.
O partido está numa espiral decrescente, afirma o especialista Dumisani Hlophe, que considera que o sectarismo está a prejudicar a governação: "O centro do ANC não aguenta", comenta.
O analista Angelo Fick apela ao ANC que responda às preocupações expressadas pelos veteranos do partido, organizações religiosas, organizações não-governamentais e pelos seus parceiros, incluindo o Congresso dos Sindicatos Sul-Africanos e o Partido Comunista Sul-Africano.
O ANC não deveria chegar "a uma situação de triagem, como na medicina, quando já se está numa fase muito adiantada e se salva apenas o que é possível salvar", alerta Fick.
Divisões à flor da pele no congresso do ANC
Pobreza e desemprego
Nas ruas, os sul-africanos acompanham atentamente a conferência do ANC. Os cidadãos dizem que o partido, para além das questões de liderança, deve encontrar soluções para combater a pobreza, a crescente taxa de desemprego e a desigualdade social.
O ANC deveria "voltar a ser o partido em que as pessoas votaram há tantos anos atrás", diz Mbali Nyando, que lamenta que, depois de mais de duas décadas de democracia, as condições de vida das pessoas, dos negros em particular, "estejam a piorar em vez de melhorar".
Bheki Khumalo disse à DW que o ANC tem de se focar no combate ao desemprego, "o principal problema, especialmente entre os negros. As pessoas estão desempregadas, com fome, perderam a esperança. O ANC tem de melhorar a sua política económica com os empresários."
Moção de censura em breve
O Presidente Zuma e outros líderes que participaram na conferência declararam que a rápida transformação económica e a redistribuição da terra sem compensação irão ajudar o ANC e o Governo a superarem os problemas socioeconómicos enfrentados pela maioria dos sul-africanos negros.
A 8 de agosto, o Parlamento vota uma moção de censura ao Presidente Zuma. A oposição apresentou a moção na sequência de uma polémica remodelação ministerial em março, em que o Presidente nomeou uma dezena de aliados para cargos governamentais.
Nelson Mandela: Uma vida pela liberdade
Sorridente: assim a maior parte dos sul-africanos pensa em Mandela. Carinhosamente apelidado de "Madiba" (seu nome xhosa), foi símbolo da nova África do Sul, de paz e tolerância. No dia 18/7/2018 teria cumprido 100 anos.
Foto: Getty Images
Primeiro escritório de advocacia para negros
Nelson Rolihlahla Mandela nasceu em 18 de julho de 1918 na província do Cabo Oriental, na África do Sul. Já durante os estudos de Direito, mostrava-se politicamente ativo, lutando contra o sistema de segregação racial apartheid. Em 1952, passou a trabalhar no primeiro escritório de advocacia do país dirigido por negros – que oito anos mais tarde seria consumido por um incêndio.
Foto: AP
Apartheid
O apartheid – a separação estrita entre negros e brancos na África do Sul, na época governada pela minoria branca – marcou a infância e juventude de Nelson Mandela. Seu pai lhe deu o nome Rolihlahla, que na língua xhosa significa "o que quebra ramos", ou, figurativamente, "agitador". A placa mostra uma "área branca" numa praia sul-africana.
Foto: AP
O boxeador
Na juventude, Mandela foi um entusiasta do boxe. "No ringue, classe, idade, cor da pele e prosperidade não representam nada" – assim ele explicava o seu amor pelo esporte. Mesmo durante os anos de prisão, ele se manteve em boa forma física. Treinamento com pesos, abdominais e flexões faziam parte de seu programa diário.
Foto: Getty Images
Prisão perpétua
A polícia contém uma multidão reunida diante do tribunal onde se realizam as audiências contra Mandela e outros ativistas anti-apartheid, em 1964. No chamado Processo Rivonia, Nelson Mandela é condenado à prisão perpétua por suas atividades políticas.
Foto: AP
Décadas de confinamento
A vida em cinco metros quadrados: nesta pequena cela na Ilha de Robben, Mandela passa 18 de um total de 27 anos de pena. Ele é o detento número 46664. "Lá, eu só era conhecido como um número", comentou, após sua libertação em 1990.
Foto: cc-by-sa- Paul Mannix
A luta continua
Enquanto Nelson Mandela estava na prisão, outros faziam avançar a luta contra o apartheid, sobretudo a sua então mulher, Winnie Mandela (c.). Ela se tornou líder ativista contra o governo minoritário branco.
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Apoio mundial
No Estádio de Wembley, em Londres, promove-se em julho de 1988 um concerto beneficente por Mandela. Músicos de renome internacional celebram seu 70º aniversário e protestam contra a segregação racial. Cerca de 70 mil espectadores assistem no estádio às dez horas de show, outras centenas de milhares acompanham pela televisão o evento transmitido para 60 países.
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Enfim, livre
Após 27 anos de prisão, Nelson Mandela é libertado em 11 de fevereiro de 1990. Ele e a esposa Winnie erguem os punhos em sinal de orgulho pela luta de libertação negra contra o regime de minoria branca do apartheid.
Foto: AP
Retorno à política
De volta à liderança do Congresso Nacional Africano (CNA), em maio de 1990 Mandela inicia as primeiras conversas com o então presidente sul-africano, Frederik Willem de Klerk (e.). Juntos, eles preparam o caminho para uma África do Sul sem apartheid. Por esses esforços, ambos são laureados com o Prêmio Nobel da Paz em 1993.
Foto: AP
Companheiros de luta
Oliver Tambo (e) und Walter Sisulu (d) contam entre os companheiros mais próximos de Mandela. Em 1944, fundaram a ala jovem do CNA e organizaram manifestações contra o regime racista. Sisulu foi condenado à prisão perpétua, juntamente com Mandela; Tambo passou 30 anos no exílio, principalmente em Londres. Após 1990, todos os três ocuparam cargos de liderança no CNA.
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Posse como presidente
Em 10 de maio de 1994, a África do Sul escreve história: após as primeiras eleições livres e democráticas, Nelson Mandela é eleito primeiro chefe de Estado negro do país. Ele permanece no cargo até 1999, quando passa a presidência ao seu herdeiro político, Thabo Mbeki.
Foto: AP
Reconciliação em vez de vingança
Para esclarecer os crimes do apartheid, Mandela cria a Comissão da Verdade e Reconciliação em 1996. O arcebispo sul-africano e futuro Prêmio Nobel da Paz Desmond Tutu é indicado para presidi-la. A atuação da comissão não fica livre de críticas: muitas vítimas não conseguem aceitar que basta os criminosos admitirem seus atos publicamente para ficarem impunes.
Foto: picture-alliance/dpa
A caminho da Copa 2010
Em 15 de maio de 2004, a África do Sul é escolhida como sede da Copa do Mundo de Futebol de 2010. Orgulhoso, Nelson Mandela ergue a taça. O país inteiro o aclama, em júbilo, como aquele que abriu os caminhos para o grande evento esportivo. Tratou-se do primeiro Mundial de futebol realizado em solo africano.
Foto: AP
Sombras sobre a Nação do Arco-Íris
Em 2008, a xenofobia e a violência eclodem em diversos bairros pobres das metrópoles sul-africanas. A brutal caça aos imigrantes leva à morte de várias pessoas. Muitos se perguntam: terá fracassado a "Nação do Arco-Íris" fundada por Mandela, em que todos deveriam conviver em paz?
Foto: AP
Da política à família
Nos últimos anos de vida, Nelson Mandela ficou mais afastado dos palcos públicos, recolhendo-se cada vez mais ao círculo familiar. Aqui, em 2011, ele festeja seus 93 anos, ao lado dos netos e bisnetos.
Foto: dapd
Funeral de Nelson Mandela
A 5 de dezembro de 2013, "Madiba" morreu em Joanesburgo. Dez dias mais tarde, teve lugar a cerimónia de despedida de Mandela na localidade de Qunu onde passou a sua juventude. Velas iluminaram um perfil do líder sul-africano. O luto foi universal: nos EUA, o então Presidente Barack Obama mandou hastear as bandeiras a meio mastro. Em 18 de julho de 2018, teria festejado o seu 100° aniversário.