África do Sul e Marrocos reatam laços diplomáticos
Reuters | mjp
3 de dezembro de 2017
Informação foi avançada pelo Presidente sul-africano, Jacob Zuma. Decisão não deverá ser bem recebida por alguns membros do ANC, partido no poder.
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África do Sul e Marrocos vão reatar os laços diplomáticos, mais de uma década depois de o país do norte de África ter retirado o seu embaixador de Pretória. A informação foi avançada pelo Presidente da África do Sul em entrevista ao jornal City Press.
Marrocos retirou o seu embaixador da África do Sul em 2004, depois de o ex-chefe de Estado sul-africano Thabo Mbeki ter reconhecido a região separatista do Saara Ocidental, território reivindicado por Rabat.
"Marrocos é uma nação africana e necessitamos de ter relações com eles”, disse Jacob Zuma ao semanário sul-africano. "Nunca tivemos problemas com Marrocos, de qualquer das maneiras. Foram eles os primeiros a cortar as relações diplomáticas”, sublinhou.
Zuma encontrou-se com o Rei Mohammed de Marrocos na semana passada, à margem da cimeira União Europeia/União Africana em Abidjan, na Costa do Marfim.
"Eles sentiram que mesmo que tenhamos divergências quanto ao Saara Ocidental, os dois países devem ter uma relação”, disse Zuma, referindo-se à posição das autoridades marroquinas no encontro.
Posições contraditórias?
A posição oficial do Governo sul-africano – tal como reafirmado por Zuma num dos seus discursos à nação – é apoiar "a auto-determinação e descolonização do Saara Ocidental”.
A decisão de restabelecer as relações com Marrocos não deverá ser bem recebida por alguns membros do Congresso Nacional Africano (ANC), partido no poder, liderado por Zuma.
O ANC – um dos mais antigos movimentos de libertação do continente africano – há muito que apoia aqueles que pedem a independência no Saara Ocidental e acusa Marrocos de ocupar a região.
O partido declarou "apoio inequívoco ao Saara Ocidental”, o que não significa qualquer animosidade contra Marrocos, disse, entretanto, o ANC em comunicado. "Não há nenhuma política do ANC que diga que a África do Sul deve isolar Marrocos”, diz a declaração do partido.
A agência de notícias Reuters tentou, sem sucesso, contactar o Ministério sul-africano dos Negócios Estrangeiros para comentar as declarações de Jacob Zuma.
A Organização da Unidade Africana (OUA) nasceu há 50 anos. Em 2002, a União Africana seguiu-lhe os passos. Recordamos cinco décadas de unidade.
Foto: picture-alliance/AP
Uma mulher no poder
Em 2012, Nkosazana Dlamini-Zuma tornou-se a primeira mulher a presidir à Comissão da União Africana (UA). A ex-ministra do Interior da África do Sul trouxe uma nova dinâmica à UA, diziam observadores 100 dias depois de Dlamini-Zuma tomar posse. O grupo de 53 Estados celebra o 50º aniversário a 25 de maio de 2013.
Foto: picture-alliance/dpa
Unidade contra a divisão
Do grupo inicial da Organização da Unidade Africana (OUA) faziam parte todos os 30 países que já tinham conquistado a independência no continente. A união política tentava evitar uma África dividida. Isto porque os estados africanos se polarizavam a favor e contra o Ocidente, influenciados pelas grandes potências da Guerra Fria. Aqui uma fotografia de uma cimeira em 1966.
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Precursores do pan-africanismo
Kwame Nkrumah (esq.), o primeiro Presidente do Gana, e o imperador etíope Haile Selassie (centro) são dois dos fundadores da OUA. O pan-africanista Nkrumah tinha em mente a criação de uns "Estados Unidos de África" para competir com as forças coloniais e desenvolver um mercado comum. Mas os estados recém-independentes não queriam ir tão longe.
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Inimigo comum
Um objetivo bastante importante nas primeiras décadas da OUA foi a luta contra o regime racista de 'apartheid' na África do Sul. Logo no ano em que foi criada, a organização criou um comité de libertação. A partir de 1970, a OUA apoiou também a luta armada contra o regime de 'apartheid'.
Foto: AP
Novo impulso para a economia
A OUA quis acelerar o desenvolvimento económico em África com o Plano de Ação de Lagos em 1980. O plano previa, entre outros pontos, a criação de um mercado comum até 2000. Mas, à semelhança de outros projetos da organização, o plano não passou do papel. Em 1991 seguiu-se o Tratado de Abuja, que prevê o estabelecimento de uma Comunidade Económica Africana até 2025.
Foto: DW/P. Hille
Decisão polémica
Apesar da sua política de não se imiscuir nos assuntos de delimitação de fronteiras, a OUA reconheceu em 1982 a "República Árabe Sarauí Democrática" (Saara Ocidental), reivindicada pelo movimento independentista Frente Polisário. Nessa altura, Marrocos saiu da organização. Até hoje, foi o único país que saiu da OUA por livre iniciativa.
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Críticas à OUA
O caso do Saara Ocidental continua a ser uma exceção à política de não interferência da OUA. Mas essa posição também levantou críticas. Observadores protestaram contra o chamado "clube dos ditadores" na cimeira anual em Addis Abeba. Um dos poucos críticos na organização foi Yoweri Museveni, que se tornou Presidente do Uganda em 1986.
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Atuação em conflitos
No início dos anos 90, a OUA introduziu uma nova política: África queria assumir a responsabilidade pelos seus conflitos. Por isso, criou o chamado "Mecanismo de Paz". No golpe militar no Burundi em 1996, a organização respondeu com sanções. Porém, o "mecanismo" mostrou-se frequentemente incapaz de atuar. Inclusive no genocídio no Ruanda.
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Quem espera…
Grande motivo de contentamento foi a adesão da África do Sul à OUA em 1994, três décadas depois do nascimento da organização. Entretanto, o país desempenha um papel importante em Addis Abeba – para alguns, demasiado importante.
Foto: picture alliance/landov
Uma nova era
Com o fim da Guerra Fria e do 'apartheid' na África do Sul, a OUA tentou começar de novo a partir de 1999. Isso proporcionou ao líder líbio Mouammar Kadhafi (aqui numa cimeira em 2006) uma boa oportunidade para trazer, de novo, à luz do dia a ideia pan-africana dos "Estados Unidos de África". Para a alcançar, Kadhafi utilizou também a sua riqueza, pagando as dívidas de vários estados-membros.
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OUA torna-se União Africana
Mas Kadhafi não conseguiu que as suas ideias fossem para a frente. O seu plano contribuiu apenas para dividir opiniões depois do lançamento oficial da União Africana em 2002 na cidade de Durban, na África do Sul. O tratado fundador da União Africana prevê, como princípio orientador, o abandono da política de não interferência.
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Instituição sem poder
Ao criar as suas estruturas, a UA usou como modelo a União Europeia (UE) e propôs um Parlamento pan-africano. O órgão foi inaugurado em 2004, sendo constituído por 235 representantes de 47 países. O Parlamento fica na pequena cidade de Midrand, na África do Sul. A distância relativamente à sede da União Africana em Addis Abeba simboliza o limitado poder de influência do Parlamento.
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Luta pela paz
No início do século XXI, conflitos violentos afetavam 20% dos africanos. O foco principal da UA foi, por isso, a paz. Em 2004, a organização criou um Conselho de Paz e Segurança, que está também autorizado a enviar tropas de intervenção. Nesse mesmo ano, a UA enviou soldados para a região sudanesa do Darfur para proteger a população civil. Os desafios continuam a ser muitos.