África do Sul e Nigéria de relações mais próximas
30 de abril de 2013 No final do encontro entre os Presidentes sul-africano, Jacob Zuma, e nigeriano, Goodluck Jonathan, o primeiro destacou a importância de alinhar e harmonizar as posições dos dois países para resolver os problemas do continente, em particular em matéria de segurança.
Economicamente fortes, os dois Estados têm discordado, nos últimos anos, em relação a diversos assuntos africanos, como a crise política na Costa do Marfim, após as eleições de 2010, ou a intervenção da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) na Líbia em 2011.
A competição económica entre os dois países terá também prejudicado as relações. A África do Sul é o único país africano membro dos chamados BRICS (grupo de países emergentes que integra ainda o Brasil, Rússia, Índia e a China) e do G20, o grupo das 20 principais economias mais avançadas do mundo.
O encontro entre os dois chefes de Estado não significa que África do Sul e a Nigéria passarão a concordar em todos os assuntos. Mas é pelo menos um ponto de partida para um maior entendimento, avalia Pet Philip, membro da Economist Intelligence Unit (centro de investigação económico britânico): "penso que o encontro é o reconhecimento de que estes dois países, os mais poderosos em termos económicos e políticos, em África, têm muito a ganhar se trabalharem juntos".
Conjuntura externa dita aproximação
Pet Philip lembra que as relações entre os dois países, nos últimos 15-20 anos, não foram hostis mas também não foram próximas. Mas, entretanto, fatores externos ditam a aproximação das duas potências africanas: "penso que neste ambiente global mais complexo, com os mercados ocidentais a viverem dificuldades e com a expectativa de mais crescimento em África, faz sentido que os dois países trabalhem de forma mais próxima".
As trocas comerciais entre países africanos sempre tiveram um peso menor quando comparado com o comércio para fora de África. Pelo que a melhoria das relações entre a África do Sul e a Nigéria poderá impulsionar o comércio e a melhoria de infra-estruturas internas, beneficiando todo o continente, defendem especialistas internacionais.
Além disso, África do Sul e Nigéria precisam um do outro para atender aos novos desafios, aponta Pet Philip, da Economist Intelligence Unit: "penso que a África do Sul está focada em responder aos mercados consumidores. A Nigéria é o maior consumidor de África, pois é um dos países mais populosos, pelo que muitas empresas sul-africanas estão a entrar ou querem entrar no mercado nigeriano. E boas relações seriam importantes para isso".
Por outro lado, a Nigéria é um grande exportador de energia e a África do Sul é um país consumidor, recorda o colaborador do centro de investigação Economist Intelligence: "a Nigéria tem visto os Estados Unidos, que tradicionalmente eram o seu principal comprador de petróleo, a consumir menos petróleo nigeriano. Pelo que a Nigéria esta interessada em ter novos clientes".
Proximidade ao ocidente e à região subsaariana de África
Sendo a Nigéria o maior produtor de petróleo em África, a reaproximação da África do Sul poderá também significar a compra de petróleo nigeriano, o que poderá influenciar, por sua vez, a importação de petróleo angolano.
Poderá sair Angola economicamente prejudicada? O analista Pet Philip considera que a viragem da África do Sul para a Nigéria não significa o romper de relações com a região subsaariana.
"Nos próximos dois ou três anos, a Nigéria ultrapassará a África do Sul e tornar-se-á na maior economia africana. Pelo que a competição entre os dois países poderia prejudicá-los", avalia o analista, a partir de Londres.
Pet Philip acredita que "o Presidente sul-africano considera que seria melhor trabalhar com a Nigéria de modo a representar uma voz única de África no mundo. Mas acho que isso não mudará as relações da África do Sul com os seus parceiros tradicionais", como Angola, explica.
Interesses nacionais também ditam aproximação
O analista do centro de investigação Economist Intelligence Unit considera que a África do Sul e a Nigéria tendem aproximar-se também por outros fatores: "os dois países têm problemas internos que estão nas prioridades dos seus líderes".
De acordo com Philip os países "os dois países têm uma população muito jovem, pelo que o desemprego é um problema" e juntos "podem cooperar para assegurar a criação de emprego", remata.
Após a visita do Presidente sul-africano, Jacob Zuma, à Nigéria, em meados de abril último, o seu homólogo nigeriano, Goodluck Jonathan, será recebido na África do Sul, em maio, para participar no Fórum Económico Mundial.