Cerca de 27 milhões de sul-africanos foram esta quarta-feira (08.05) chamados às urnas. Presidente Cyril Ramaphosa fala em "novo período" na África do Sul. Aliança Democrática diz que este é o início de uma "nova luta".
Cyril Ramaphosa, atual Presidente da África do Sul, está ciente dos desafios e de que é urgente que hajam mudanças no país. Isso mesmo deixou claro, esta quarta-feira, depois do votar, no município do Soweto, em Joanesburgo, de onde é natural.
"Esta é uma votação que nos lembra 1994. O povo estava também entusiasmado, porque as eleições anunciavam um novo período, um novo futuro para o país. E hoje, é também isto que eu procuro", afirmou aos jornalistas.
Sondagens dão vitória ao ANC
Apesar do descontentamento, as sondagens preveem que o ANC vença as eleições parlamentares com quase 60% dos votos. No entanto, e indo de encontro a muitas das críticas que lhe têm sido apontadas, o também líder do ANC admitiu que a corrupção no país tem impedido o Governo de servir o povo.
Mas esses tempos, garante Ramaphosa, têm os dias contados. Vem aí um "novo amanhecer" para o país. "Estamos empenhados no crescimento da nossa economia e atração de investimento. O resultado desta eleição será um grande impulso para os investidores que queiram olhar para a África do Sul de uma forma diferente e, não só investir o seu dinheiro aqui, mas também investir a sua confiança", asseverou.
Dos 47 partidos da oposição que participam nesta corrida eleitoral, existem somente dois considerados alternativas ao ANC. Um deles é o principal partido da oposição, a Aliança Democrática (DA), que, desde 2015, é liderado por Mmusi Maimane.
Depois de votar, também no Soweto, Maimane pediu aos sul-africanos para que exercessem o seu direito de voto. Disse ainda estar satisfeito por votar neste munícipio pois, considera, "o Soweto é simbólico, é a casa de vários heróis nacionais, como são Nelson Mandela e o Arcebispo Desmond Tutu, sul-africanos que nós admiramos. Eu diria que num dia tão histórico como este é importante votar aqui no Soweto, e com o seu povo, para expressar uma esperança e um futuro para o nosso país".
"O Soweto representa para mim a casa de muitas lutas e nós estamos a entrar numa nova. Uma luta por empregos para muitos sul-africanos", acrescentou Mmusi Maimane.
Coligações não, diz EFF
O segundo partido mais forte da oposição na África do Sul é o dos Combatentes da Liberdade Económica (EFF), um movimento radical de esquerda liderado por Julius Malema.
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Também em declarações à imprensa, depois de exercer o seu direito de voto em Mponegele, Polokwane, o líder do EFF lembrou a importância do voto num país em que durante muito tempo, "foi negada a muitas gerações este direito" e frisou que ao seu partido só lhe interessa liderar com maioria.
"Queremos governar a África do Sul sem coligações, uma vez que estas nos obrigam a escolher entre diabos. Se os sul-africanos querem que a EFF lidere, têm de lhe dar uma maioria decisiva", afirmou.
Povo descontente
Quase 27 milhões de sul-africanos foram chamados às urnas numa altura em que cresce o descontentamento entre os cidadãos com a situação do país. É que este que é o país mais industrializado do continente africano, enfrenta, atualmente, problemas a vários níveis, desde o político ao social e económico.
Emily Johnson, de 19 anos, votou pela primeira vez. Em declarações à DW, diz-se animada. "Quero que a minha voz seja ouvida. Espero que haja uma mudança e que aquelas coisas pelas quais a nossa comunidade tem lutado, sejam levadas em conta e tudo mude", afirmou.
Também Selina Molapo quer ver mudanças no seu país. A sul-africana de 38 anos concorda que a corrupção é um problema na África do Sul e diz que o ANC não cumpriu a promessa que fez na campanha eleitoral anterior, de aumentar o emprego no país, por isso, "vai votar num partido diferente". "Em 2014 votámos no ANC, mas a nossa situação não mudou", disse.
Os resultados preliminares das eleições desta quarta-feira deverão ser anunciados nas próximas 48 horas.
Nelson Mandela: Uma vida pela liberdade
Sorridente: assim a maior parte dos sul-africanos pensa em Mandela. Carinhosamente apelidado de "Madiba" (seu nome xhosa), foi símbolo da nova África do Sul, de paz e tolerância. No dia 18/7/2018 teria cumprido 100 anos.
Foto: Getty Images
Primeiro escritório de advocacia para negros
Nelson Rolihlahla Mandela nasceu em 18 de julho de 1918 na província do Cabo Oriental, na África do Sul. Já durante os estudos de Direito, mostrava-se politicamente ativo, lutando contra o sistema de segregação racial apartheid. Em 1952, passou a trabalhar no primeiro escritório de advocacia do país dirigido por negros – que oito anos mais tarde seria consumido por um incêndio.
Foto: AP
Apartheid
O apartheid – a separação estrita entre negros e brancos na África do Sul, na época governada pela minoria branca – marcou a infância e juventude de Nelson Mandela. Seu pai lhe deu o nome Rolihlahla, que na língua xhosa significa "o que quebra ramos", ou, figurativamente, "agitador". A placa mostra uma "área branca" numa praia sul-africana.
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O boxeador
Na juventude, Mandela foi um entusiasta do boxe. "No ringue, classe, idade, cor da pele e prosperidade não representam nada" – assim ele explicava o seu amor pelo esporte. Mesmo durante os anos de prisão, ele se manteve em boa forma física. Treinamento com pesos, abdominais e flexões faziam parte de seu programa diário.
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Prisão perpétua
A polícia contém uma multidão reunida diante do tribunal onde se realizam as audiências contra Mandela e outros ativistas anti-apartheid, em 1964. No chamado Processo Rivonia, Nelson Mandela é condenado à prisão perpétua por suas atividades políticas.
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Décadas de confinamento
A vida em cinco metros quadrados: nesta pequena cela na Ilha de Robben, Mandela passa 18 de um total de 27 anos de pena. Ele é o detento número 46664. "Lá, eu só era conhecido como um número", comentou, após sua libertação em 1990.
Foto: cc-by-sa- Paul Mannix
A luta continua
Enquanto Nelson Mandela estava na prisão, outros faziam avançar a luta contra o apartheid, sobretudo a sua então mulher, Winnie Mandela (c.). Ela se tornou líder ativista contra o governo minoritário branco.
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Apoio mundial
No Estádio de Wembley, em Londres, promove-se em julho de 1988 um concerto beneficente por Mandela. Músicos de renome internacional celebram seu 70º aniversário e protestam contra a segregação racial. Cerca de 70 mil espectadores assistem no estádio às dez horas de show, outras centenas de milhares acompanham pela televisão o evento transmitido para 60 países.
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Enfim, livre
Após 27 anos de prisão, Nelson Mandela é libertado em 11 de fevereiro de 1990. Ele e a esposa Winnie erguem os punhos em sinal de orgulho pela luta de libertação negra contra o regime de minoria branca do apartheid.
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Retorno à política
De volta à liderança do Congresso Nacional Africano (CNA), em maio de 1990 Mandela inicia as primeiras conversas com o então presidente sul-africano, Frederik Willem de Klerk (e.). Juntos, eles preparam o caminho para uma África do Sul sem apartheid. Por esses esforços, ambos são laureados com o Prêmio Nobel da Paz em 1993.
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Companheiros de luta
Oliver Tambo (e) und Walter Sisulu (d) contam entre os companheiros mais próximos de Mandela. Em 1944, fundaram a ala jovem do CNA e organizaram manifestações contra o regime racista. Sisulu foi condenado à prisão perpétua, juntamente com Mandela; Tambo passou 30 anos no exílio, principalmente em Londres. Após 1990, todos os três ocuparam cargos de liderança no CNA.
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Posse como presidente
Em 10 de maio de 1994, a África do Sul escreve história: após as primeiras eleições livres e democráticas, Nelson Mandela é eleito primeiro chefe de Estado negro do país. Ele permanece no cargo até 1999, quando passa a presidência ao seu herdeiro político, Thabo Mbeki.
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Reconciliação em vez de vingança
Para esclarecer os crimes do apartheid, Mandela cria a Comissão da Verdade e Reconciliação em 1996. O arcebispo sul-africano e futuro Prêmio Nobel da Paz Desmond Tutu é indicado para presidi-la. A atuação da comissão não fica livre de críticas: muitas vítimas não conseguem aceitar que basta os criminosos admitirem seus atos publicamente para ficarem impunes.
Foto: picture-alliance/dpa
A caminho da Copa 2010
Em 15 de maio de 2004, a África do Sul é escolhida como sede da Copa do Mundo de Futebol de 2010. Orgulhoso, Nelson Mandela ergue a taça. O país inteiro o aclama, em júbilo, como aquele que abriu os caminhos para o grande evento esportivo. Tratou-se do primeiro Mundial de futebol realizado em solo africano.
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Sombras sobre a Nação do Arco-Íris
Em 2008, a xenofobia e a violência eclodem em diversos bairros pobres das metrópoles sul-africanas. A brutal caça aos imigrantes leva à morte de várias pessoas. Muitos se perguntam: terá fracassado a "Nação do Arco-Íris" fundada por Mandela, em que todos deveriam conviver em paz?
Foto: AP
Da política à família
Nos últimos anos de vida, Nelson Mandela ficou mais afastado dos palcos públicos, recolhendo-se cada vez mais ao círculo familiar. Aqui, em 2011, ele festeja seus 93 anos, ao lado dos netos e bisnetos.
Foto: dapd
Funeral de Nelson Mandela
A 5 de dezembro de 2013, "Madiba" morreu em Joanesburgo. Dez dias mais tarde, teve lugar a cerimónia de despedida de Mandela na localidade de Qunu onde passou a sua juventude. Velas iluminaram um perfil do líder sul-africano. O luto foi universal: nos EUA, o então Presidente Barack Obama mandou hastear as bandeiras a meio mastro. Em 18 de julho de 2018, teria festejado o seu 100° aniversário.