As autoridades sul-africanas emitiram um mandado de detenção contra a antiga primeira-dama do Zimbabué ,Grace Mugabe, pela alegada agressão a uma modelo em Joanesburgo, em 2017, anunciaram hoje fontes policiais.
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"Posso confirmar que o mandado foi emitido", disse esta quarta-feira (19.12.) Vishnu Naidoo, porta-voz da polícia sul-africana à agência noticiosa Efe.
A ordem foi emitida pelo Ministério Público, disse Naidoo tendo acrescentado que caso a esposa do ex-Presidente do Zimbabué, Robert Mugabe, entrasse no país seria detida.
A fonte policial explicou que o processo "está a começar" e que, até ao momento, não há informações sobre se o país vai procurar a extradição da antiga primeira-dama.
"Eu entendo que agora haverá um processo de extradição para garantir que a Mugabe [Grace] seja extraditada para a África do Sul e que este assunto possa ser continuado", salientou Gerrie Nel, advogado da autora da denúncia ao canal de televisão Enca, após a notícia ter sido tornada pública, em particular após a notificação oficial aos queixosos.
Ninguém está acima da lei
"Eu tenho que acreditar que o Governo do Zimbabué vai entender que ninguém está acima da lei", acrescentou o advogado, quando questionado se achava que o país vizinho estará disposto a colaborar.
Recorde-se, que em finais de julho, a justiça sul-africana determinou que é inconstitucional a imunidade diplomática concedida à antiga primeira-dama do Zimbabué Grace Mugabe, que a impedia de ser julgada pela alegada agressão a uma modelo com um fio elétrico, em 2017. A imunidade diplomática protegeu a antiga primeira-dama Grace Mugabe de uma denúncia por alegadamente agredir a modelo Gabriella Engels, em Joanesburgo.
A decisão tinha sido contestada perante a Justiça, tanto pela própria vítima como por outras organizações, como Afrikaner Afriforum e os partidos da oposição.
Imunidade diplomática
De acordo com a agência de notícias EFE, as partes argumentaram que a imunidade diplomática de Grace Mugabe deveria ter cessado quando o seu marido, Robert Mugabe, deixou a Presidência do Zimbabué em novembro de 2017, e que o Governo sul-africano, na época liderado por Jacob Zuma concedeu imunidade diplomática à ex-primeira-dama após o incidente, a fim de livrá-la do processo judicial.
Grace Mugabe foi denunciada em agosto de 2017 na África do Sul por alegadamente agredir com uma extensão elétrica Gabriella Engels, de 20 anos, que se encontrava no mesmo hotel onde estava a primeira-dama com amigos.
A imunidade diplomática só pode ser aplicada no caso de estar numa viagem oficial, mas Grace Mugabe estaria na África do Sul para um exame médico devido a um ferimento que sofrera num acidente de carro .
O Governo da África do Sul, no entanto, concordou em reconhecer a imunidade e tanto Grace Mugabe como o seu marido, Robert Mugabe, que também se encontrava na África do Sul, "regressaram apressadamente ao Zimbabué", explicou a EFE.
Robert Mugabe já não anda O antigo Presidente do Zimbabué Robert Mugabe, de 94 anos, está a receber assistência médica em Singapura, por já não conseguir andar sozinho devido à sua frágil saúde e avançada idade, anunciou o atual chefe de Estado, Emmerson Mnangagwa.
"Mugabe é agora ancião. Como tal, é incapaz de andar, mas vamos dar-lhe tudo o que ele pedir", afirmou Mnangagwa, num cerimónia governamental da União Nacional Africana do Zimbabué-Frente Patriótica (ZANU-PF) em Zvima, a cerca de 100 quilómetros a oeste de Harare.
No passado dia 14 de novembro cumpriu-se um ano do golpe do Exército do Zimbabué que provocou a destituição de Mugabe, que dirigia o país com "mão de ferro" desde a sua independência do Reino Unido, em 1980.
O golpe foi a resposta à decisão de Mugabe de despedir o seu então vice-presidente, Emmerson Mnangagwa, no meio de tensões entre este e a primeira-dama, Grace Mugabe, sobre quem deveria suceder ao longo mandato.
Mugabe foi demitido a 21 de novembro e foi substituído três dias depois por Mnangagwa, de 76 anos, uma alteração histórica que provocou o júbilo do povo nas ruas de um país próspero que o antigo Presidente conduziu à ruína.
Família Mugabe: 37 anos de luxo e ostentação
Enquanto Robert Mugabe liderou o Zimbabué, não foi uma preocupação da sua família esconder o luxo em que vivia. Num país em que parte da população é pobre, a família do Presidente exibiu, durante anos, uma vida faustosa.
Foto: Getty Images/M.Safodien
Fortuna de um bilião
Estima o The Guardian que a fortuna de Mugabe deverá rondar um bilião de euros, espalhados, entre outros, em contas secretas na Suiça e Bahamas. Só a sua mansão, localizada a norte de Harare, está avaliada em cerca de oito milhões de euros. Um valor que um cidadão comum no Zimbabué só conseguiria pagar se trabalhasse cerca de 3.825 anos seguidos sem gastar um centavo.
Foto: Getty Images
Seis pessoas, 25 quartos
Desenhada por arquitetos chineses, a mansão “Blue Roof”- com este nome por causa dos azulejos azuis do telhado importados da China - tem 25 quartos. Se cada elemento da família tiver um quarto - Robert, Grace, os três filhos do casal e o filho do primeiro casamento de Grace - sobrarão ainda 19. A casa tem ainda lagos, monitores panorâmicos, cadeiras de veludo e camas em estilo monárquico.
Foto: Getty Images/J.Njikizana
Outras propriedades
Sabe-se que o casal possui ainda propriedades na Malásia, Singapura e Dubai . Em 2009, diz o Sunday Times, Robert e Grace Mugabe adquiriram uma outra casa num bairro de luxo em Hong Kong, cidade onde estudou a sua filha Bona, por 4,5 milhões de euros. Na mesma altura, "Dis Grace", como também é chamada pelos zimbabueanos, terá gasto mais de 60 mil euros em estátuas de mármore do Vietname.
Foto: picture-alliance/dpa/Ym Yik
Casamento extravagante
Robert e Grace Mugabe deram o nó em agosto de 1996, quatro anos após a morte da primeira esposa do presidente do Zimbabué, Sally, ter falecido. O casamento custou um milhão de dólares e contou com 40 mil convidados. Na imprensa local, falou-se no “casamento do século”. Para assinalar o 20º aniversário de casamento, Grace terá comprado um anel de diamantes por 1,15 milhões de euros.
Foto: Getty Images/O.Anderson
"Gucci Grace"
Embora quisesse ser notícia pelo trabalho social que desenvolvia no Zimbabué, a agora ex primeira-dama, apelidada também de "Gucci Grace" pela sua futilidade, era criticada pelos seus gastos pessoais com objetos de luxo. Grace Mugabe, 40 anos mais nova que Robert Mugabe, não escondia as suas roupas, sapatos e jóias de marcas de luxo.
Foto: Getty Images/Z.Auntony
Às compras pela Europa...
Diz o The Guardian que a marca favorita de sapatos de Grace é a Ferragamo. Ao todo, o seu armário, contará com mais de três mil pares de sapatos. Em 2003, o Daily Telegraph deu conta que Grace gastou, numa só viagem a Paris, cerca de 63 mil euros. Já em Londres, a primeira-dama terá gasto 45 mil. Até 2004, Grace terá retirado do Banco Central do Zimbabué mais de cinco milhões de euros.
Foto: Getty Images/J.Delay
Luxo “hereditário”
O gosto por gastar é algo que Grace parece ter incutido nos seus filhos. Só o casamento de Bona (na foto) custou mais de três milhões de euros. Já Robert Jr. e Bellarmine Chatunga, os outros dois filhos do casal, enquanto viveram no Dubai, estiveram instalados num apartamento que tinha uma renda mensal de cerca de 30 mil euros. Já na África do Sul, pagavam cerca de 4,5 mil.
Foto: Getty Images/R.Rahman
Filhos não escondem riqueza
Este ano, o filho mais novo de Mugabe publicou um vídeo onde derramava champanhe Armand de Brignac em cima do seu relógio de luxo. Dias antes, diz o The Guardian, o jovem postou uma fotografia com a legenda “51 mil euros no pulso quando o seu pai comanda o país”. A imprensa local não deixou também passar em branco a excentricidade do enteado de Mugabe, que importou dois luxuosos Rolls-Royce.
Foto: Rolls-Royce
"Gucci Grace" em tribunal
Recentemente “DisGrace” travou uma guerra no tribunal com um negociante de diamantes libanês. Grace Mugabe afirma ter pago cerca de 858 mil euros por um diamante de 100 quilates que não recebeu.
Foto: dapd
Festas de anos milionárias
As festas de anos de Mugabe já eram uma tradição. Ano após ano, em fevereiro, repetiam-se as notícias relacionadas com as suas extravagâncias. No seu 85º aniversário, por exemplo, foram encomendadas duas mil garrafas de champanhe Moet & Chandon e 400 doses de caviar. Já por altura dos seus 91 anos, Mugabe gastou cerca de um milhão de dólares na festa, que teve lugar num hotel de cinco estrelas.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Ufumeli
Na mira do “Wikileaks”
Em 2010, as informação reveladas pelo Wikileaks vieram dar razão aos zimbabueanos que criticavam os luxos da família Mugabe. Os documentos divulgados fizeram referência ao envolvimento de elites e altos funcionários do governo do Zimbabué em negócios de diamantes. Um dos nomes citados foi precisamente o de Grace Mugabe.