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Direitos HumanosÁfrica do Sul

HRW acusa África do Sul de inação contra ataques xenófobos

Milton Maluleque (Joanesburgo)
17 de setembro de 2020

A Human Rights Watch denuncia a inação do Governo sul-africano para travar ataques xenófobos contra africanos e asiáticos, um ano depois da adoção um plano de ação governamental de combate a ataques contra estrangeiros.

Südafrika - Gewalt gegen Einwanderer
Foto: REUTERS/James Oatway/Sunday Times

Através de um relatório, vídeo e artigo das vítimas tornados públicos esta quinta-feira (17.09) na cidade de Joanesburgo, a ONG de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) alega que o Executivo de Pretória desde que adotou, em março de 2019, o seu plano de ação contra a xenofobia, pouco fez para que os autores dos ataques fossem responsabilizados.

No seu relatório de 64 páginas com o tema ˝Eles Roubaram a Minha Vida: Violência Xenófoba Contra Estrangeiros na África do Sul˝, a Human Right Watch defende que os autores dos ataques xenófobos são a população, a polícia e os oficiais governamentais. 

"Os estrangeiros têm sofrido ondas atrás de ondas de violência xenófoba e vivido em constante medo de serem visados pelo facto de não serem nacionais", defendeu Kristi Ueda da Divisão Africana da Human Rights Watch e autora do relatório.

Acusações injustas 

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Os estrangeiros são usados como bode expiatório e acusados de causar insegurança económica e crimes. E até são acusados pelos erros do Governo no acesso a serviços básicos.

São visados à escala nacional através de protestos caraterizados por violência popular, pilhagens e destruição dos seus negócios, como é o caso do imigrante da República Democrática do Congo, ouvido no relatório da HRW:

"Estava a juntar dinheiro para os meus estudos porque o meu sonho é de tornar-me alguém. Quando isto tudo aconteceu, todos meus sonhos ruíram. Não tenho vida. Não posso fazer nada. Eles roubaram a minha vida. "

O Governo sul-africano e a polícia, de uma forma repetida, alegam que as constantes ondas de violência xenófoba eram puramente atos criminais e não motivadas pelo ódio contra estrangeiros, pelo que André Thomashausen, professor alemão de direito internacional defende:

"Vamos esperando que este estudo da Human Rights Watch possa contribuir para que o Governo aqui continue com o seu trabalho de orientação também da polícia e dos serviços sociais para encontrar compromissos entre as tantas necessidades das pessoas carentes".  

Marcha contra ataques xenófobos na África do Sul (Joanesburgo, 2015) Foto: Getty Images/G.Guercia

Economia debilitada

A África do Sul tem um grande fluxo de imigrantes, 5 milhões de zimbabueanos e mais de 3 mil oriundos doutros países da região austral de África, o que acaba sufocando a já debilitada economia.

"E isso resulta em fricções, não há dúvida porque os recursos são escassos para todos e durante a crise do vírus (covid-19) a situação económica da população trabalhadora e camponesa agravaram-se de maneira muito significante", explica ˝Thomashausen.

Violência xenófoba

Em setembro de 2019, ataques xenófobos resultaram na vandalização de lojas e residências de estrangeiros, o que os obrigou a fugir em busca de segurança. Os entrevistados pela organização de defesa dos direitos humanos não teriam até aqui se recuperado financeiramente ou visto a justiça a ser feita.

Destes ataques a polícia sul-africana defendeu que 10 dos 12 mortos eram de nacionalidade sul-africana, enquanto a Human Rights Watch apurou que cerca de 18 estrangeiros teriam sido mortos durante a violência.

 

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