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África do Sul já extraditou Manuel Chang para os EUA

Lusa
12 de julho de 2023

O antigo ministro das Finanças de Moçambique Manuel Chang foi entregue hoje de manhã a agentes policiais norte-americanos em Joanesburgo e extraditado em jato particular para os Estados Unidos da América (EUA).

Foto: Getty Images/AFP/W. de Wet

"O Ministério da Justiça pode confirmar que o senhor Manuel Chang foi entregue às agências da lei dos Estados Unidos da América, onde se espera que seja julgado por uma variedade de assuntos relacionados com fraude, entre outros", avançou à Lusa Chrispin Phiri, porta-voz do ministro da Justiça da África do Sul.

"O senhor Chang saiu do país esta manhã", adiantou o porta-voz ministerial sul-africano. Chang foi entregue às autoridades norte-americanas no Aeroporto Internacional de Lanseria, arredores de Joanesburgo, de onde saiu do país cerca das 10:30 (hora local).

O ex-governante moçambicano foi transportado em avião particular do Governo norte-americano por agentes do FBI, unidade policial do Departamento de Justiça dos EUA, que se deslocaram à África do Sul para efetivar o processo de extradição desde o passado sábado. 

Questionado sobre o atraso verificado na extradição do antigo ministro, Chrispin Phiri salientou que o atraso se deveu a questões burocráticas. "Houve algumas questões administrativas que tiveram de ser esclarecidas, e estamos satisfeitos que foram esclarecidas rapidamente entre nós e as autoridades dos Estados Unidos para permitir a execução do processo de extradição", declarou à Lusa.

"Não temos sentimentos pessoais sobre o assunto, o importante é que esgotamos as nossas obrigações legais e, de facto, é importante que a Justiça seja feita, não importa onde, acreditamos que, de facto, no que nos diz respeito, realmente dedicamo-nos ao processo de extradição e uma decisão final foi tomada pelos tribunais e respeitamos o Estado de direito e a decisão dos nossos tribunais", frisou ainda Chrispin Phiri.

Governo lamenta não seja julgado em Moçambique

A ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação moçambicana lamentou ontem (11.07) a extradição de Manuel Chang para os EUA, assinalando que o país africano pode ter sido "lesado" pelo antigo governante no caso das dívidas ocultas.

"Se houve alguma coisa [feita por Manuel Chang] no sentido de lesar a pátria, foi aqui", afirmou Verónica Macamo.

Verónica Macamo, chefe da diplomacia moçambicanaFoto: Roberto Paquete/DW

Assinalando que o Estado moçambicano tentou a extradição do antigo ministro das Finanças para a sua jurisdição, Macamo sublinhou que a decisão da justiça sul-africana de entregar Manuel Chang aos EUA deve ser respeitada, porque se trata de um exercício de soberania dos Estados.

"Vingou o que vingou", enfatizou, referindo-se à decisão da justiça da África do Sul, onde Chang, de 63 anos, estava detido desde dezembro de 2018.

Julgamento em Nova Iorque

Manuel Chang, que foi ministro das Finanças de Moçambique entre 2005 e 2015, vai responder perante a Justiça norte-americana num tribunal em Nova Iorque, pelo seu alegado envolvimento no escândalo das dívidas ocultas do Estado moçambicano, calculadas em 2,7 mil milhões de dólares (2,5 mil milhões de euros), após quase cinco anos detido numa prisão nos arredores de Joanesburgo.

As autoridades norte-americanas alegam que o antigo governante conspirou com banqueiros do Credit Suisse e promotores internacionais para endividar o país em projetos marítimos, como a compra de uma frota contra a pirataria marítima, que acabaram por nunca se concretizar.

Moçambique contraiu empréstimos de quase 2 mil milhões de dólares (1,8 mil milhões de euros) para projetos marítimos, mas não os reportou aos parceiros internacionais nem os refletiu nas contas públicas, e quando não pagou as prestações, isso desencadeou um 'default' que atirou o país para uma crise económica e financeira.

Decisão sobre extradição de Chang "não surpreendeu"

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