Jacob Zuma pede donativos para pagar despesas judiciais
Lusa
24 de agosto de 2021
O ex-Presidente sul-africano Jacob Zuma, preso em julho passado por desrespeito ao tribunal depois de se recusar a prestar declarações sobre acusações de corrupção, pediu hoje ajuda para pagar despesas com a justiça.
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"Caros povos da África do Sul e do mundo, por favor, deem uma mão", diz a Fundação Jacob Zuma, numa mensagem divulgada nas redes sociais, em que ao lado tem uma foto em que indica que está "humildemente" a pedir "donativos" para ajudar a colmatar os custos judiciais do patrono da organização.
Implicado em numerosas investigações, por corrupção e outros crimes, e hospitalizado desde o início deste mês, Zuma acumulou uma elevada despesa com advogados e custos judiciais, especialmente desde que o poder judiciário, em finais de 2018, impediu que uma grande parte destes fosse suportada pelo Estado.
O ex-Presidente sul-africano(2009-2018) não só está no centro de vários escândalos de corrupção, mas também, uma vez que foi forçado pelo seu próprio partido a demitir-se do cargo de líder do executivo sul-africano (em 2018), a sua estratégia habitual de defesa consistiu em procurar, através de todos os canais legais disponíveis, atrasar os vários processos e investigações, o que aumenta ainda mais as suas despesas.
Pena de 15 meses de prisão
Zuma está atualmente a cumprir uma pena de 15 meses de prisão, no estabelecimento prisional do Estcourt (no leste do país), por desrespeito ao tribunal, por se ter recusado repetidamente a prestar declarações no decurso das investigações sobre corrupção, no âmbito famoso caso "State Capture" (Captura do Estado).
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Neste caso, é acusado de estar no centro de um esquema corrupto, que percorreu todo o aparelho público sul-africano durante o seu Governo, orquestrado para beneficiar-se a si próprio e a outros altos funcionários e parceiros comerciais.
Além disso, está em julgamento por corrupção e outras acusações relacionadas com um negócio fraudulento de armas, assinado no final dos anos 1990.
Após dois anos de procedimentos preliminares, o julgamento aguarda agora pelo resultado de uma nova moção de defesa a recusar o procurador atribuído ao caso. Jacob Zuma, por seu lado, afirma que todas as acusações contra ele têm uma motivação política.
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Estado de saúde de Zuma
Em 6 de agosto, após um exame "de rotina", Zuma, de 79 anos, foi internado num hospital fora da prisão, o que levou a um novo adiamento do julgamento sobre o negócio de armas, marcado para 10 de agosto.
Numa carta enviada à prisão e à acusação a solicitar o adiamento, a equipa médica do ex-Presidente disse que Zuma sofreu uma "lesão traumática" no ano passado e precisa agora de "tratamento de emergência extensivo", durante pelo menos seis meses.
A carta não especificava, contudo, o estado de saúde de Zuma, embora as autoridades prisionais sul-africanas tenham confirmado que foi operado em 14 de agosto e que tinha outras cirurgias programadas para datas posteriores.
Além dos casos, o ex-Presidente já teve de reembolsar, em 2016, meio milhão de euros de dinheiro público que tinha utilizado irregularmente quando ainda era Presidente, para renovar a sua residência privada.
África do Sul abalada por atos de vandalismo
Mais de 70 pessoas já terão morrido desde que começou na África do Sul uma onda protestos contra a detenção do ex-Presidente Jacob Zuma, marcada por vandalismo e pilhagem de bens públicos.
Foto: Rogan Ward/Reuters
Prisão de Jacob Zuma
A agitação começou sob a forma de protestos contra a prisão do ex-Presidente Jacob Zuma na semana passada. O antigo chefe de Estado foi condenado a 15 meses de prisão, acusado de desacato a uma ordem do Tribunal Constitucional para prestar depoimento num inquérito que investigava a "grande corrupção" durante os nove anos do seu mandato até 2018.
Foto: Siphiwe Sibeko/Reuters
Manifestantes saem às ruas
Os apoiantes de Jacob Zuma, principalmente oriundos de KwaZulu-Natal, saíram às ruas para protestar contra a detenção do ex-estadista, alengado que a sua detenção tem motivações políticas, da parte do seu sucessor, o atua Presidente sul-africano Cyril Ramaphosa. Os protestos rapidamente se transformaram em tumultos e num autêntico caos em várias zonas do país.
Foto: Sumaya Hisham/Reuters
Saques de lojas e bens públicos
Os protestantes atearam fogo e saquearam vários centros comerciais, principalmente nas cidades de KwaZulu-Natal e Johanesburgo. Pelo menos 10 corpos foram encontrados depois de uma corrida de pilhagem num centro comercial no Soweto, um município de Gauteng, outra província muito afetada pela violência dos últimos dias.
Foto: Sumaya Hisham/REUTERS
Frustração sobre desigualdade e pobreza
Várias estradas foram bloqueadas, viaturas de particulares e camiões de transporte de mercadorias foram incendiadas pelos manifestantes. Muitas pessoas sentem-se também frustradas pela desigualdade e pobreza na África do Sul, que se evidenciou por causa das restrições impostas pela Covid-19. O país já registou mais de dois milhões de infeções pela Covid-19.
Foto: Rogan Ward/Reuters
Apelos à calma
O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, lamentou na noite de terça-feira (13.07) o vandalismo que se vive no país há uma semana e apelou à calma, porque no seu entender “o caminho da violência, da pilhagem e da desordem só leva a mais violência e devastação. Isso leva a mais pobreza, mais desemprego e mais perda de vidas inocentes".
Foto: Esa Alexander/Pool/REUTERS
Militares nas ruas
Cerca de 2500 soldados foram destacados para reforçar o patrulhamento nas ruas de Gauteng e KwaZulu-Natal, na tentativa de parar a fúria dos manifestantes e garantir a proteção dos bens públicos. O Presidenrte Cyril Ramaphosa já avisou que não tolerará a continuação da vandalizarão de bens privados.
Foto: Phill Magakoe/AFP/Getty Images
Oportunismo criminoso
Numa declaração à nação, o Presidente Cyril Ramaphosa caracterizou os protestos como um "ato oportunista de criminosos" que querem provocar caos no país. De acordo com o balanço das autoridades sul-africanas, mais de 1.230 pessoas estão detidas por causa de atos de vandalismo e pilhagem de bens no país.
Foto: James Oatway/Getty Images
"Graves impactos em toda a região" alerta UA
A União Africana (UA) condenou esta quarta-feira (14.07) a "escalada de violência" na África do Sul, que já provocou pelo menos 72 mortos, e apelou a uma "restauração urgente da ordem, paz e estabilidade" no país. Moussa Faki Mahamat, presidente da Comissão da UA, defendeu que se as autoridades não conseguirem controlar a violência, haverá "graves impactos não só no país, mas em toda a região".