Moody's desce 'rating' sul-africano devido à crise política
AFP | tms
10 de junho de 2017
Agência de notação financeira cita também o enfraquecimento das instituições sul-africanas como motivo para a nova classificação. Situação piorou desde a remodelação do gabinete do Presidente Jacob Zuma, em março.
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A agência de notação financeira Moody's reduziu o "rating" da África do Sul, colocando a economia do país em um ponto acima do "status de lixo". Os motivos da nova classificação incluem a turbulência política, o aumento da dívida e o enfraquecimento das instituições sul-africanas.
Em declaração divulgada esta sexta-feira (09.06), a agência também atribuiu uma perspetiva negativa à África do Sul, considerando que uma nova rebaixa é possível a curto ou médio prazo.
O anúncio vem depois que outras duas agências de "rating" globais, a Fitch e a Standard & Poor's (S&P), terem rebaixado a potência económica africana para o grau de não investimento, mais conhecido como "lixo".
O desemprego na África do Sul é de 27%, e o país tem mantido um crescimento lento há alguns anos. De acordo com estatísticas oficiais citadas pela agência de notícias AFP, o país também entrou em recessão no primeiro trimestre deste ano, pela primeira vez desde 2009.
"Erosão" das instituições
Ao justificar o rebaixamento, a Moody's referiu-se à reorganização controversa do gabinete de Jacob Zuma em março. Zuma substituiu seu popular ministro das Finanças, Pravin Gordhan, que há muito entrou em conflito com o Presidente devido aos gastos públicos.
Esses eventos "ilustram uma erosão gradual da força institucional. O quadro institucional tornou-se menos transparente, eficaz e previsível", disse a Moody's em comunicado.
"Como conseqüência, a Moody's vê a dinâmica política subjacente que levou à remodelação do gabinete como uma ameaça para o crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] real a curto e médio prazo".
Zuma mantém-se no poder
A agência também acredita que o peso da dívida para a África do Sul atingirá cerca de 55% do PIB no ano fiscal de 2018/2019 e continuará a crescer.
"É improvável que surja um consenso político que sustente o investimento na economia e a revigore de forma suficientemente rápida para reverter o impacto negativo esperado no crescimento e no balanço do Governo", disse a agência.
Jacob Zuma enfrentou muitos desafios políticos desde que assumiu o cargo em 2009. Com o apoio de seu partido, o Congresso Nacional Africano (ANC), ele conseguiu sobreviver a numerosos escândalos políticos e acusações de corrupção.
O partido da oposição da Aliança Democrata espera usar a mais recente agitação política e a recessão económica para superar a maioria do partido no Governo. Enquanto Zuma permanece no poder até 2019, o ANC deve nomear seu sucessor em dezembro deste ano.
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
Foto: Picture-alliance/AP Photo/F. Franklin II
O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
Foto: DW/E. Lubega
Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Prinsloo
A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.