Governo sul-africano anuncia pacote de estímulo à economia
Lusa | Reuters | tms
21 de setembro de 2018
Governo quer investir quase 3 mil milhões de euros para desenvolver a economia na África do Sul. Segundo o Presidente, mulheres, jovens e pequenas empresas serão os principais beneficiados.
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O Governo sul-africano vai realocar 50 biliões de randes (2,9 mil milhões de euros) do atual orçamento de Estado para impulsionar o crescimento da economia, anunciou esta sexta-feira (21.09) o Presidente da África do Sul.
Cyril Ramaphosa, que é igualmente presidente do partido no Governo, o Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), no poder desde 1994, disse que as novas reformas políticas visam reverter a estagnação atual da economia nacional, que entrou em recessão no segundo trimestre deste ano, pela primeira vez desde 2009.
O chefe de Estado sul-africano sublinhou que as medidas anunciadas hoje "vão beneficiar as mulheres, os jovens e as pequenas e médias empresas", mas advertiu que o "Governo não tem condições no atual ano fiscal de aumentar a despesa pública ou de contrair novos empréstimos".
"Temos por isso que priorizar áreas do nosso orçamento e a nossa despesa", disse Ramaphosa na conferência de imprensa, em Pretória, transmitida pela televisão pública.
Revisão de gastos públicos e mais empregos
O Presidente sul-africano afirmou ainda que "o objetivo do plano de recuperação é rever a prioridade dos gastos públicos para serem aplicados em atividades com maior impacto económico".
Ramaphosa disse que o Governo identificou a agricultura e a atividade económica em zonas urbanas periféricas e rurais como prioritárias para a intervenção hoje anunciada.
Na agricultura, o chefe de Estado disse que "o Governo vai criar um milhão de empregos até 2030; dar apoio a agricultores emergentes negros e subsidiar a exportação das principais culturas agrícolas".
Prioridades
Ramaphosa disse ainda que nomeou um painel de 10 especialistas que irá aconselhar o Governo na implementação da reforma agrária e redistribuição da terra, processo liderado pelo vice-presidente David Mabuza.
No setor da Saúde, o chefe de Estado disse que "o Governo vai disponibilizar financiamento para a compra de camas hospitalares e lençóis, e o Ministério da Saúde vai preencher os 2.200 postos de trabalho atualmente vagos".
O Presidente acrescentou que o Governo vai criar também um fundo de investimentos em infraestruturas no valor 400 biliões de rands (23,5 mil milhões de euros).
Questionado pelos jornalistas sobre onde é que o Governo irá obter os fundos anunciados e como tenciona implementar as medidas anunciadas, Cyril Ramaphosa respondeu: "assim que sairmos desta sala", remetendo o esclarecimento para o ministro das Finanças, que o acompanhou, juntamente com o ministro das Empresas Públicas, Pravin Gordhan.
O ministro das Finanças, Nhlanhla Nene, disse aos jornalistas que "os fundos para a intervenção financeira seriam obtidos de programas governamentais com baixo desempenho", sem dar mais detalhes.
Soweto: a profunda transformação de uma cidade
Soweto era apenas um símbolo do apartheid, mas hoje é considerada um exemplo do vibrante urbanismo sul-africano. 40 anos depois da violenta revolta na "cidade-dormitório" Soweto transformou-se numa atração turística.
Foto: Reuters/S. Sibeko
Futebol e liberdade
"Soccer City"- hoje denominado "FNB Stadium" - é considerado o "coração do futebol sul-africano". O gigantesco complexo desportivo foi construido para o mundial de 2010, mas antes já existia aqui um estádio. Foi precisamente aqui que, em 1990, milhares de sul-africanos aplaudiram a libertação de Nelson Mandela da prisão. Em 2013 teve lugar aqui o funeral do primeiro presidente pós-apartheid.
Foto: picture-alliance/Zuma Press
A casa de um herói
Em Soweto vivia a classe trabalhadora, assim como muitos ativistas anti-apartheid, incluindo o próprio Nelson Mandela, que morou num dos apartamentos construidos pelo governo para os operários negros. Estas casas eram conhecidas por "matchbox houses" - caixas de fósforos - devido ao seu reduzido tamanho. "Foi a minha primeira casa e eu orgulhava-me dela", escreveu Mandela na sua autobiografia.
Foto: Getty Images/C. Furlong
Da sala de aulas diretamente para a luta!
As históricas revoltas do Soweto surgiram praticamente nas escolas da cidade. Em 1976 milhares de estudantes e alunos iniciaram os seus protestos contra o ensino obrigatório de Afrikaans, a língua oficial do regime de apartheid. A revolta estudantil do Soweto constitui um marco importante no declínio e derrube do sistema de apartheid.
Foto: AFP/AFP/GettyImages
Enorme centro comercial
"Maponya Mall" é um dos maiores centros comerciais da África do Sul. Esta megaloja foi inaugurada em 2007 por Mandela. Os promotores do projeto prometiam a criação de muitos postos de trabalho e conseguiram mesmo. Mas muitos pequenos comerciantes também se queixaram da concorrência. Richard Maponya, um dos primeiros milionários negros da África do Sul e promotor do projeto, mora também em Soweto.
Foto: picture-alliance/robertharding/I. Trower
Fúria e violência
Milhares de estudantes negros invadiram as ruas de Soweto: foi o tiro de partida para a luta contra o regime de segregação racial, o início da longa marcha contra o apartheid na África do Sul. No dia 16 de junho de 1976 cerca de 176 jovens foram mortos pelas forças de segurança que dispararam sobre os manifestantes que recusavam abandonar os protestos.
Foto: AFP/Getty Images
o "glamour" de uma central elétrica
As torres "Orlando Towers", que faziam parte de uma central elétrica a carvão, encontram-se agora cobertas de desenhos alusivos à cultura dos "townships". A central fora construida nos anos 30 para fornecer eletricidade aos bairros brancos e ao centro da cidade de Joanesburgo. Enquanto isso o papel dos negros era trabalhar nas minas de carvão que forneciam o combustível para a central.
Foto: picture-alliance/WILDLIFE/M. Harvey
Cultura e cor
O primeiro teatro do Soweto abriu em 2012. O edifício é de uma arquitetura extrovertida e o seu programa não é menos arrojado. Quem assiste às peças aqui apresentadas consegue obter uma boa impressão de como a cidade e a sociedade mudaram nos últimos decénios. O teatro foi construindo com dinheiros públicos.
Foto: Getty Images/AFP/S. de Sakutin
Imagens que perduram
Entre os primeiros a perderem a vida durante as revoltas de 1976 estava o jovem Hector Pieterson, de 13 anos, que foi abatido por uma bala policial. A fotografia de um jovem local a carregar o corpo de Hector foi publicada, no dia seguinte, por inúmeros jornais, um pouco por todo o mundo. E assim aumentou a sensibilidade, um pouco por todos os países, perante as atrocidades do sistema racista.
Foto: Imago/imagebroker
A estrada mais célebre da África do Sul
A única estrada do mundo que chegou a albergar dois prémios Nobel: Nelson Mandela e o arcebispo Desmond Tutu chegaram ambos a morar na Vilakazi Street, em Soweto. Hoje esta rua é uma importante atração turística na África do Sul. Mais de 700mil turistas visitam anualmente as "South Western Townships".
Foto: Getty Images/C. Somodevilla
A luta continua
Muito dinheiro foi investido na transformação do Soweto e a transformação é bem visível: de um gueto para um bairro da moda e atração turística! Mesmo assim muitos habitantes sentem-se desiludidos: a pobreza teima em persistir. A educação continua deficitária. Muitos dizem que a luta está longe de estar acabaca e que há um longo caminho ainda para percorrer.