Ramaphosa recebe relatório final sobre corrupção na era Zuma
Lusa | AFP
23 de junho de 2022
PR da África do Sul recebeu a última parte de um relatório sobre a corrupção no Governo de Jacob Zuma. Documento critica Cyril Ramaphosa por não ter agido contra as denúncias enquanto esteve no cargo de vice-Presidente.
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O Presidente da África do Sul considerou a captura do Estado "um ataque" à democracia do país, ao receber a última parte do relatório de um inquérito judicial sobre a grande corrupção durante a presidência de Jacob Zuma.
"Violou os direitos de cada homem, mulher e criança neste país", afirmou Cyril Ramaphosa, na quarta-feira (22.06), sublinhando que "o relatório é muito mais do que um registo sobre a corrupção na África do Sul".
O chefe de Estado sul-africano, que é também presidente do Congresso Nacional Africano (ANC), o partido no poder desde 1994 na África do Sul, recebeu hoje, numa cerimónia em Pretória, a última parte do relatório sobre a corrupção pública durante a presidência de Jacob Zuma, entre 2009 e 2018.
Ramaphosa reiterou que apresentará o relatório 'Zondo' no Parlamento nos próximos quatros meses, juntamente com o seu parecer sobre as conclusões e recomendações da investigação.
Relatório critica Ramaphosa
O último volume da investigação liderada pelo juiz Raymond Zondo, que contém quase quatro anos de testemunhos perante a comissão judicial 'Zondo', é critica sobre o papel do ANC governante em "permitir" a captura do Estado sul-africano durante os cerca de 10 anos de governação de Zuma, em que Ramaphosa desempenhou o cargo de vice-Presidente da República, de 2014 a 2018.
As respostas de Ramaphosa a algumas questões sobre o que ele sabia das atividades corruptas foram "opacas" e "infelizmente deixam algumas lacunas importantes", apontou o relatório.
E se o então vice de Zuma poderia ter agido para refrear o enxerto, "a riqueza de provas perante esta comissão sugere que a resposta é sim", avança o relatório.
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"Havia certamente informação credível suficiente no domínio público para, pelo menos, o incitar a inquirir e talvez agir em relação a uma série de alegações graves. Como vice-Presidente, Ramaphosa tinha certamente a responsabilidade de o fazer".
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Fluxos financeiros
Na apresentação do último volume do relatório da comissão, o juiz sul-africano avançou que o documento também detalha "os fluxos" e as "transferências" financeiras efetuadas através da captura do Estado na África do Sul.
"Também lidamos com as evidências do presidente como Presidente do país e lidamos com as evidências do ANC e do uso da Base Aérea de Waterkloof [pelos empresários Gupta]", adiantou Raymond Zondo.
O atual chefe da Justiça sul-africana salientou que as recomendações do inquérito "abordam significativamente a corrupção na captura do Estado", caso o Governo implemente as recomendações. Todavia, admitiu que "ainda há corrupção por descobrir".
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
Foto: Picture-alliance/AP Photo/F. Franklin II
O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
Foto: DW/E. Lubega
Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Prinsloo
A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.