África do Sul: Suspeitos de incitar violência vão a tribunal
Lusa
21 de julho de 2021
Vários suspeitos foram esta quarta-feira (21.07) ouvidos pela justiça sul-africana sobre o seu alegado envolvimento nos tumultos e pilhagens que atingiram o país na última semana, segundo fontes locais.
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Ngizwe M., com cerca de 40 anos, compareceu num tribunal em Joanesburgo, acusado de incitar a violência pública. M. é uma das seis pessoas detidas até agora por suspeita de ser um de uma dúzia de alegados instigadores de violência, noticia a agência France-Presse (AFP).
Após a detenção do ex-Presidente Jacob Zuma, a África do Sul mergulhou em protestos e pilhagens sem precedentes na história recente do país. As autoridades contabilizam mais de 200 mortos e pelo menos 40.000 empresas pilhadas, queimadas ou vandalizadas.
A violência, inicialmente concentrada em KwaZulu-Natal, sob a forma de motins, espalhou-se depois por todo o país, num cenário de desemprego elevado e com novas restrições para a contenção da Covid-19.
O Governo estima que a violência custe à economia cerca de 50 mil milhões de rands (2,9 mil milhões de euros).
M., um fervoroso defensor de Zuma, entregou-se depois de as autoridades terem emitido um mandado de captura na sequência da libertação de um vídeo viral em que este apelava para a libertação do antigo Presidente.
Tribunal nega fiança
M. compareceu no tribunal com uma tradicional faixa zulu feita de pele de cabra e envergando uma máscara de proteção facial com as cores da bandeira sul-africana.
O tribunal negou a libertação sob fiança a Mchunu, antigo apresentador da estação de rádio Ukhozi FM, tendo ordenado o seu regresso ao tribunal em 28 de julho.
Segundo os advogados, M. não apresenta risco de fuga, até porque se entregou voluntariamente. "Ele não incitou à violência. Isto é liberdade de expressão", defendeu o advogado Stix Madladla.
Segundo o Ministério Público, quatro dos seis suspeitos detidos compareceram em tribunal nos últimos dias, incluindo um membro do pequeno partido da oposição Aliança Patriótica, Bruce Nimmerhoudt, que é acusado de incitar à violência através de uma mensagem de voz na plataforma de troca de mensagens WhatsApp.
África do Sul abalada por atos de vandalismo
Mais de 70 pessoas já terão morrido desde que começou na África do Sul uma onda protestos contra a detenção do ex-Presidente Jacob Zuma, marcada por vandalismo e pilhagem de bens públicos.
Foto: Rogan Ward/Reuters
Prisão de Jacob Zuma
A agitação começou sob a forma de protestos contra a prisão do ex-Presidente Jacob Zuma na semana passada. O antigo chefe de Estado foi condenado a 15 meses de prisão, acusado de desacato a uma ordem do Tribunal Constitucional para prestar depoimento num inquérito que investigava a "grande corrupção" durante os nove anos do seu mandato até 2018.
Foto: Siphiwe Sibeko/Reuters
Manifestantes saem às ruas
Os apoiantes de Jacob Zuma, principalmente oriundos de KwaZulu-Natal, saíram às ruas para protestar contra a detenção do ex-estadista, alengado que a sua detenção tem motivações políticas, da parte do seu sucessor, o atua Presidente sul-africano Cyril Ramaphosa. Os protestos rapidamente se transformaram em tumultos e num autêntico caos em várias zonas do país.
Foto: Sumaya Hisham/Reuters
Saques de lojas e bens públicos
Os protestantes atearam fogo e saquearam vários centros comerciais, principalmente nas cidades de KwaZulu-Natal e Johanesburgo. Pelo menos 10 corpos foram encontrados depois de uma corrida de pilhagem num centro comercial no Soweto, um município de Gauteng, outra província muito afetada pela violência dos últimos dias.
Foto: Sumaya Hisham/REUTERS
Frustração sobre desigualdade e pobreza
Várias estradas foram bloqueadas, viaturas de particulares e camiões de transporte de mercadorias foram incendiadas pelos manifestantes. Muitas pessoas sentem-se também frustradas pela desigualdade e pobreza na África do Sul, que se evidenciou por causa das restrições impostas pela Covid-19. O país já registou mais de dois milhões de infeções pela Covid-19.
Foto: Rogan Ward/Reuters
Apelos à calma
O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, lamentou na noite de terça-feira (13.07) o vandalismo que se vive no país há uma semana e apelou à calma, porque no seu entender “o caminho da violência, da pilhagem e da desordem só leva a mais violência e devastação. Isso leva a mais pobreza, mais desemprego e mais perda de vidas inocentes".
Foto: Esa Alexander/Pool/REUTERS
Militares nas ruas
Cerca de 2500 soldados foram destacados para reforçar o patrulhamento nas ruas de Gauteng e KwaZulu-Natal, na tentativa de parar a fúria dos manifestantes e garantir a proteção dos bens públicos. O Presidenrte Cyril Ramaphosa já avisou que não tolerará a continuação da vandalizarão de bens privados.
Foto: Phill Magakoe/AFP/Getty Images
Oportunismo criminoso
Numa declaração à nação, o Presidente Cyril Ramaphosa caracterizou os protestos como um "ato oportunista de criminosos" que querem provocar caos no país. De acordo com o balanço das autoridades sul-africanas, mais de 1.230 pessoas estão detidas por causa de atos de vandalismo e pilhagem de bens no país.
Foto: James Oatway/Getty Images
"Graves impactos em toda a região" alerta UA
A União Africana (UA) condenou esta quarta-feira (14.07) a "escalada de violência" na África do Sul, que já provocou pelo menos 72 mortos, e apelou a uma "restauração urgente da ordem, paz e estabilidade" no país. Moussa Faki Mahamat, presidente da Comissão da UA, defendeu que se as autoridades não conseguirem controlar a violência, haverá "graves impactos não só no país, mas em toda a região".