Centenas de migrantes africanos são acusados pelas autoridades sul-africanas de entrar ilegalmente no país e preparam-se para ser deportados. Foram detidos na semana passada durante uma operação policial em Joanesburgo.
Publicidade
Operações policiais e detenções de migrantes são cada vez mais frequentes e estão a dificultar as relações internacionais da África do Sul, mas o Governo defende a sua política.
Presentes no Tribunal da Magistratura de Joanesburgo na segunda-feira (12.08), os migrantes pareciam traumatizados e em choque. Foram enviados para o centro de repatriamento de Lindela, de onde serão deportados para os seus países de origem.
Do lado de fora do tribunal, dezenas de migrantes e sul-africanos protestaram em solidariedade aos que estão prestes a deixar o país. As autoridades sul-africanas não precisaram a nacionalidade e o número exato de cidadãos estrangeiros ilegais a deportar nos próximos dias.
Organizações que representam os migrantes demonstram descontentamento em relação à polícia e ao Governo. As autoridades admitiram em tribunal que alguns dos migrantes detidos possuíam documentos, mas continuavam detidos porque a polícia ainda estava a verificar a autenticidade desses documentos.
Detenções contestadas
O Fórum da Diáspora Africana descreveu as detenções como "xenófobas, caóticas, brutais, desumanas e ilegais". Tadesse Yemane, da Etiópia, compareceu no tribunal em solidariedade com os migrantes detidos."Eles não fizeram nada. Foram cercados pela polícia quando estavam nos seus restaurantes e locais de trabalho e acabaram detidos. Nem sequer tiveram a hipótese de apresentar documentos ou não. São vítimas da brutalidade policial", afirma.
África do Sul vai deportar centenas de migrantes
O partido político Movimento Revolucionário Civil Africano criticou o Governo por tentar usar os migrantes como bodes expiatórios para os seus fracassos. "As pessoas foram libertadas antes mesmo de comparecerem em tribunal. Fizeram um grande espectáculo em torno disto, detendo os migrantes antes de confirmar tais alegações. E foram mantidos ilegalmente em custódia, pois alguns deles possuíam documentos legais, diz Tenage Kumbe, presidente do partido, que acusa o Governo de ter sido "bastante tendencioso" ao atacar os estrangeiros.
Relações com outros países afetadas
A política sul-africana de combate à migração ilegal tem dificultado também as relações exteriores do país. Na Nigéria, um grupo de estudantes já ameaçou retaliar contra os sul-africanos e respectivos negócios naquele país.
Isso forçou o ministro sul-africano das Relações Internacionais e Cooperação, Naledi Pando, a defender a política do Governo: "Não se pode comportar de forma desrespeitosa em relação à polícia. A polícia tem o dever de manter a lei e a ordem e isso deve ser respeitado por todas as pessoas que residem em nosso país."
As prisões ocorreram num momento em que o Senado da Nigéria recentemente se manifestou contra a morte de cidadãos nigerianos na África do Sul. Com uma visita do Presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, em outubro, especialistas em relações internacionais dizem que o Presidente Cyril Ramaphosa deveria preparar uma boa explicação sobre tratamento xenófobo do Governo em relação aos migrantes africanos.
Ascenção e queda do apartheid
Nenhum outro meio reflete a história de forma tão impressionante quanto a fotografia. O Museum Africa, em Joanesburgo, mostrou numa grande exposição fotográfica a história de repressão e libertação da África do Sul.
Foto: Museum Africa
Fotografias como testemunhas
O Museum Africa de Joanesburgo exibiu 600 fotografias que contam a história de repressão e libertação da África do Sul. Em meados dos anos 50, membros da organização de direitos civis Black Sash (ou "Faixa Preta", na tradução literal) foram às ruas contra o regime do apartheid. A Black Sash foi fundada por mulheres brancas. Em 1990, Nelson Mandela chamou-a de "consciência da África do Sul branca."
Foto: Museum Africa
A câmera como arma
Peter Magubane, um dos mais famosos fotojornalistas negros, começou como motorista e mensageiro da lendária revista Drum. O alemão Jürgen Schadeberg treinou-o na câmara. Magubane tornou-se mundialmente famoso com imagens da revolta nas townships, áreas habitadas na época por não brancos. Muitas vezes, ele escondeu sua câmera das autoridades, em uma Bíblia oca. Na foto, é preso pelas autoridades.
Foto: Museum Africa, Johannesburg
O fim de Sophiatown
O regime do apartheid começou nos anos 50 a dividir áreas residenciais de acordo com as "raças". Como parte da lei Group Areas Act, o bairro multiétnico de Sophiatown, centro cultural da maioria negra, foi demolido e os moradores realocados à força. No lugar de Sophiatown, sugiu o Triumph, um bairro no qual eram permitidos exclusivamente moradores brancos.
Foto: Museum Africa
Comboios sobrelotados
Intermináveis eram as viagens que levavam os moradores dos subúrbios negros para os seus empregos ao centro da cidade. Muitos morreram durante as viagens nos comboios sobrelotados. Mas também havia momentos de espiritualidade. O fotógrafo Santu Mofokeng registou-os numa série impressionante de imagens. O papel da fé e da religiosidade ainda é um dos principais temas para a sociedade sul-africana.
Foto: Museum Africa, Johannesburg
Julgamento por Traição
Nesta fotografia de 1956, a imprensa acompanha o chamado Treason Trial ("Julgamento por Traição"), em que 156 sul-africanos foram acusados de trair o país. Um ano antes, eles haviam publicado a "Carta da Liberdade" que propagou uma derrota do apartheid. Entre os réus estava também Nelson Mandela. O processo resultou em uma solidariedade dos grupos de oposição contra todas as barreiras raciais.
Foto: Museum Africa, Johannesburg
Ícone da Luta de Libertação
Uma das imagens mais famosas da exposição do Museum Africa é hoje um monumento no centro de Soweto, em memória à revolta dos jovens estudantes que protestaram contra a política racial discriminatória em 1976. Hector Pieterson, de 12 anos, foi baleado na manifestação. O fotógrafo Sam Nzima captou a tragédia. A imagem ficou conhecida em todo o mundo.
Foto: DW/Ulrike Sommer
Luto e rancor
Volta e meia a exposição do Museum Africa mostra fotografias de luto coletivo. Os funerais tornam-se grandes eventos políticos, como o enterro dos Craddock Four, quatro membros do grupo da oposição United Democratic Front. Eles foram sequestrados e assassinados em 1985. Mais tarde, soube-se que o ato foi iniciado por oficiais das forças de defesa sul-africanas que agiam de forma oculta.
Foto: Rashid Lombard
Uma nova era
Uma nação esperançosa celebra o vencedor. Em 3 de maio de 1994, está claro: Nelson Mandela será o primeiro Presidente de uma África do Sul democrática. "Foi um momento incrível," lembra o fotógrafo George Hallet. Ele havia retratado exilados sul-africanos por 20 anos. Para acompanhar as primeiras eleições livres com sua câmera, Hallet voltou para sua terra natal.
Foto: George Hallett
Herança pesada dos homelands
Durante décadas, os "homelands" ou "bantustões", as áreas reservadas à população de cor e com alguma autonomia governamental, foram sofrendo cortes: de acesso à educação e cuidados de saúde ao progresso económico. 20 anos após as primeiras eleições livres, muitas regiões ainda lutam contra as consequências da segregação racial territorial.