África do Sul: Zuma critica "ditadura" após decisão judicial
AFP | tms
20 de setembro de 2021
Ex-Presidente disse que a África do Sul está a tornar-se uma "ditadura constitucional". Jacob Zuma, preso por desrespeito, falava depois de o mais alto tribunal do país ter confirmado a sua sentença.
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"A África do Sul está hoje em processo de mudança de uma democracia constitucional para uma ditadura constitucional", disse Zuma esta segunda-feira (20.09), na sua primeira declaração desde que foi preso em julho e na véspera da retomada do seu julgamento por corrupção.
O Tribunal Constitucional confirmou na semana passada a prisão do ex-Presidente sul-africano Jacob Zuma, acusado de "fraude litigiosa” e de desrespeito aos tribunais.
Zuma, de 79 anos, havia pedido ao tribunal que revogasse a sua decisão de o condenar a 15 meses de prisão por se recusar a responder a perguntas no âmbito de uma investigação de corrupção.
A declaração de Zuma veio na véspera da retomada de outro caso em que é acusado na justiça, que tem a ver com acusações de corrupção de quando era vice-Presidente.
Jacob Zuma é acusado de ter recebido subornos do gigante francês Thales para a compra de armas em 1999.
"Continuarei a lutar", prometeu o ex-chefe de Estado, que exortou os seus apoiantes "a permanecerem resolutos e firmes na crença de que isto não é o fim".
"Uso o distintivo de ser um prisioneiro político com o maior orgulho, pois a luta pela liberdade dos africanos contra todas as formas de opressão, incluindo a opressão dos africanos por outros colaboradores africanos, tem sido a minha única missão na vida", declarou Zuma, que foi Presidente de 2009 a 2018 e ainda mantém bolsas de apoio no seio do Congresso Nacional Africano, no poder.
A sua prisão em julho provocou o pior surto de violência política desde o fim do apartheid. Os protestos violentos dos seus apoiantes deterioraram-se e transformaram-se em pilhagens generalizadas.
África do Sul abalada por atos de vandalismo
Mais de 70 pessoas já terão morrido desde que começou na África do Sul uma onda protestos contra a detenção do ex-Presidente Jacob Zuma, marcada por vandalismo e pilhagem de bens públicos.
Foto: Rogan Ward/Reuters
Prisão de Jacob Zuma
A agitação começou sob a forma de protestos contra a prisão do ex-Presidente Jacob Zuma na semana passada. O antigo chefe de Estado foi condenado a 15 meses de prisão, acusado de desacato a uma ordem do Tribunal Constitucional para prestar depoimento num inquérito que investigava a "grande corrupção" durante os nove anos do seu mandato até 2018.
Foto: Siphiwe Sibeko/Reuters
Manifestantes saem às ruas
Os apoiantes de Jacob Zuma, principalmente oriundos de KwaZulu-Natal, saíram às ruas para protestar contra a detenção do ex-estadista, alengado que a sua detenção tem motivações políticas, da parte do seu sucessor, o atua Presidente sul-africano Cyril Ramaphosa. Os protestos rapidamente se transformaram em tumultos e num autêntico caos em várias zonas do país.
Foto: Sumaya Hisham/Reuters
Saques de lojas e bens públicos
Os protestantes atearam fogo e saquearam vários centros comerciais, principalmente nas cidades de KwaZulu-Natal e Johanesburgo. Pelo menos 10 corpos foram encontrados depois de uma corrida de pilhagem num centro comercial no Soweto, um município de Gauteng, outra província muito afetada pela violência dos últimos dias.
Foto: Sumaya Hisham/REUTERS
Frustração sobre desigualdade e pobreza
Várias estradas foram bloqueadas, viaturas de particulares e camiões de transporte de mercadorias foram incendiadas pelos manifestantes. Muitas pessoas sentem-se também frustradas pela desigualdade e pobreza na África do Sul, que se evidenciou por causa das restrições impostas pela Covid-19. O país já registou mais de dois milhões de infeções pela Covid-19.
Foto: Rogan Ward/Reuters
Apelos à calma
O Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, lamentou na noite de terça-feira (13.07) o vandalismo que se vive no país há uma semana e apelou à calma, porque no seu entender “o caminho da violência, da pilhagem e da desordem só leva a mais violência e devastação. Isso leva a mais pobreza, mais desemprego e mais perda de vidas inocentes".
Foto: Esa Alexander/Pool/REUTERS
Militares nas ruas
Cerca de 2500 soldados foram destacados para reforçar o patrulhamento nas ruas de Gauteng e KwaZulu-Natal, na tentativa de parar a fúria dos manifestantes e garantir a proteção dos bens públicos. O Presidenrte Cyril Ramaphosa já avisou que não tolerará a continuação da vandalizarão de bens privados.
Foto: Phill Magakoe/AFP/Getty Images
Oportunismo criminoso
Numa declaração à nação, o Presidente Cyril Ramaphosa caracterizou os protestos como um "ato oportunista de criminosos" que querem provocar caos no país. De acordo com o balanço das autoridades sul-africanas, mais de 1.230 pessoas estão detidas por causa de atos de vandalismo e pilhagem de bens no país.
Foto: James Oatway/Getty Images
"Graves impactos em toda a região" alerta UA
A União Africana (UA) condenou esta quarta-feira (14.07) a "escalada de violência" na África do Sul, que já provocou pelo menos 72 mortos, e apelou a uma "restauração urgente da ordem, paz e estabilidade" no país. Moussa Faki Mahamat, presidente da Comissão da UA, defendeu que se as autoridades não conseguirem controlar a violência, haverá "graves impactos não só no país, mas em toda a região".