Nenhum continente é tão jovem quanto África. Mas não há espaço para os mais novos na política. Manifestações nos últimos anos provam: Populações estão insatisfeitas.
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Nenhum continente é tão jovem quanto África. Mas não há espaço para os mais novos na política e nem perspectivas de que assumam posições de topo, num futuro próximo. As manifestações registadas nos últimos anos provam: As populações não estão nada satisfeitas.
O Presidente camaronês, Paul Biya, tem 85 anos. O da Guiné, Alpha Condé, 80. Aos 75 anos, o novo chefe de Estado do Zimbabué, Emmerson Mnangagwa, é o mais jovem dos três.
"Em geral, os países africanos têm o maior fosso entre a idade dos líderes políticos e da população, que é muito mais jovem. Mas não parece haver nenhuma indicação de que a geração mais jovem vai assumir a liderança, em breve", avalia Zachariah Mampilly, professor de Estudos Africanos no Vasser College, nos Estados Unidos.
Insatisfação geral
A população não está satisfeita. "Somos governados por líderes decrépitos", diz a ativista zimbabueana Linda Masarire. A jovem de 35 anos já lutou contra o regime autoritário do ex-presidente Robert Mugabe. O seu sucessor, Emmerson Mngangagwa, também não foi bem recebido. Os políticos antigos ignoraram as necessidades dos jovens, afirma a ativista.
"Temos jovens de cerca de 35 anos que nunca trabalharam em suas vidas, nunca receberam salário e não têm segurança social. Muitos deles estão a usar drogas, porque não têm esperança e não há futuro para eles", critica.
A situação para a geração mais nova não é sombria apenas no Zimbabué: 200 milhões de africanos têm entre 15 e 24 anos. Mas eles também representam 60% dos desempregados no continente. Muitos dos que têm emprego pertencem aos chamados "trabalhadores pobres" - eles mal podem viver de seus salários.
Desejo de mudança
Linda Masarire quer que isso mude e pretende concorrer como candidata independente nas eleições parlamentares de 2018. Para tal, planeia fundar um partido jovem. Mas muitos temem o envolvimento político, diz ela, seja no partido no poder ou na oposição.
"Há muita violência nos nossos partidos políticos no Zimbabué, independente se na oposição ou no poder. Então, muitas mulheres jovens não podem suportar isso, há muito assédio e coisas do tipo. Os jovens não têm a chance de estar no topo das tomadas de decisão políticas ou das estruturas governamentais", considera.
Também Job Shipululo Amupanda teve experiências ruins com um partido na Namíbia. O cientista político de 30 anos foi membro do conselho da Liga Juvenil do partido no poder, a Oranização do Povo do Sudoeste Africano (SWAPO, da sigla em inglês). Atualmente, lidera o movimento "Reposicionamento Afirmativo", que luta contra a pobreza e a corrupção. Somente graças a um veredicto judicial, Amupanda pôde permanecer membro da SWAPO.
"Quando os jovens se posicionam, os membros do partido perguntam: Onde você estava quando lutamos pela independência?". Eles pedem as suas credenciais na luta, independentemente do seu nível de educação e da sua transparência", lamenta o político.
África dominada por políticos do passado
Cada vez mais protestos
De acordo com um estudo realizado pela rede de pesquisa pan-africana Afrobarometer, em 2016, apenas 65% dos jovens com idades entre 18 e 35 anos participaram das últimas eleições em seu país.
"Muitos jovens sentem que o voto é insuficiente, com razão, e estão procurando maneiras alternativas de fazer ouvir suas vozes. Os protestos se tornam mecanismos para isso", avalia o professor de estudos africanos, Zachariah Mampilly.
Em 2015 e 2016, houve protestos em quase a metade de todos os países africanos. No Zimbabué e na República Democrática do Congo, sobretudo os jovens se manifestaram contra seus presidentes impopulares.
No Senegal e no Burkina Faso, os manifestantes conseguiram expulsar presidentes autoritários. Fora isso, os protestos raramente são bem-sucedidos, diz o especialista.
"É doloroso assistir, quando os jovens tomam as ruas e são reprimidos com força militar esmagadora, na maioria das ocasiões", afirma.
Oficialmente, os políticos africanos reconheceram o problema. A União Africana aprovou a Carta da Juventude Africana, em 2006, e criou a "Década da Juventude Africana" – que decorre de 2009 a 2018.
Mas para Linda Masarire do Zimbabué os jovens têm a obrigação de responsabilizar líderes políticos incapazes.
"Não podemos aceitar que um continente tão rico em recursos, sofra. Precisamos de líderes competentes que realmente querem desenvolver África com seriedade", conclui a ativista.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.