1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

África e China reforçam cooperação em Pequim: E as dívidas?

Sandra Quiala | Lusa | AFP | Reuters
4 de setembro de 2024

Mais de 50 líderes africanos reúnem-se em Pequim para o Fórum de Cooperação China-África. O encontro visa fortalecer parcerias, com foco no comércio, infraestruturas e investimentos, apesar de preocupações com dívidas.

Fórum de Cooperação China-África, em Pequim
O Fórum de Cooperação China-África decorre até sexta-feira, 6 de setembroFoto: Li He/Xinhua/Imago Images

Pequim acolhe, esta semana, o Fórum para a Cooperação China-África, um evento que reúne mais de 50 líderes africanos com o objetivo de fortalecer as relações bilaterais e explorar novas áreas de cooperação económica.

Sob o lema "dar as mãos para promover a modernização", o fórum pretende definir os rumos do relacionamento entre a China e os países africanos para os próximos três anos, consolidando um diálogo iniciado em 2000.

Cooperação económica e para infraestruturas

A China, a segunda maior economia do mundo, é o maior parceiro comercial de África, com um volume de comércio que atingiu um recorde de 282,1 mil milhões de dólares em 2023 (256 mil milhões de euros).

O Fórum para a Cooperação China-África é uma plataforma essencial para a discussão de temas como a expansão do comércio, investimentos em infraestrutura e energia, além de questões ligadas ao acesso a vastos recursos naturais africanos, como o cobre, ouro e lítio.

É a China a nova potência colonial em África?

03:30

This browser does not support the video element.

Entre as prioridades da China está o fortalecimento das parcerias em áreas como a construção de infraestruturas essenciais.

Nos últimos anos, Pequim financiou inúmeros projetos no continente africano, incluindo estradas, portos e linhas de caminho-de-ferro, fundamentais para o desenvolvimento económico da região. Este investimento tem sido crucial para muitos países africanos, embora também tenha gerado críticas devido ao crescente endividamento de alguns governos.

"Armadilhas da dívida" e ajustes na política chinesa

O aumento da dívida africana para com a China é uma das questões mais debatidas. Apesar da expansão da cooperação, alguns analistas apontam para o perigo das chamadas "armadilhas da dívida", criando uma dependência excessiva de Pequim. Em Angola, o maior parceiro económico africano da China, a dívida a Pequim equivale a cerca de 40% de toda a dívida externa, rondando os 17 mil milhões de dólares, segundo dados do Executivo em Luanda.

Como responde a China às alegações?

Juan Shang, académico chinêsFoto: Privat

Em declarações à DW, Juan Shang, académico e investigador chinês do Centro de Estudos para o Desenvolvimento Económico e Social de África, diz que a "armadilha da dívida" é uma ideia criada pelos ocidentais, utilizada como arma contra África e a China.

"A China tem um provérbio: 'Se o sapato é bom ou não, só quem o calça sabe'. Quem é que pode criticar o colete salva-vidas? São só os ocidentais. A China, assim como os países africanos, assinou muitos acordos. A China é o maior parceiro comercial dos países africanos, pois é a fábrica do mundo. Podemos fornecer mercadorias mais económicas aos países africanos", afirmou.

Rivalidade geopolítica e reforço dos laços

O Fórum para a Cooperação China-África ocorre num contexto de crescente competição entre os Estados Unidos e a China por influência no continente africano. Washington tem frequentemente alertado para o que considera ser a influência negativa de Pequim em África, acusando a China de promover os seus próprios interesses geopolíticos à custa da transparência e do desenvolvimento sustentável das nações africanas.

Entretanto, a China tem procurado reafirmar-se como um "verdadeiro amigo" de África.

O Presidente chinês, Xi Jinping, ao longo dos vários encontros bilaterais com os líderes africanos, prometeu continuar a investir em infraestruturas, energia, educação e recursos minerais, tendo destacado a importância de equilibrar o comércio entre as duas regiões.

A perspetiva africana

Por parte dos países africanos, o fórum é visto como uma oportunidade para reforçar parcerias e obter financiamento para projetos essenciais. No entanto, há uma crescente preocupação com a sustentabilidade das dívidas e a necessidade de renegociar termos mais favoráveis.

Recentes protestos no Quénia, motivados pela necessidade do governo em saldar dívidas a credores internacionais, incluindo a China, são um exemplo da crescente tensão em torno deste tema.

Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, reafirmou o apoio do seu país ao princípio de "Uma só China"Foto: picture alliance / Newscom

Os líderes africanos, incluindo o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, têm destacado a importância das relações com a China, expressando solidariedade com Pequim em diversas questões internacionais, como a reintegração de Macau e Hong Kong e a questão de Taiwan.

"Moçambique reafirma o apoio firme e consistente aos princípios 'Uma só China', no estreito de Taiwan, e 'Um país, dois sistemas', que estão a ser aplicados com muito sucesso em Hong Kong e em Macau", disse Nyusi.

O chefe de Estado moçambicano, em particular, reforçou o compromisso do seu país em manter uma relação cooperativa com a China, elogiando os esforços de Xi Jinping em promover um sistema internacional mais justo.

"Reiteramos o compromisso de Moçambique em manter as boas relações com a República Popular da China, no âmbito multilateral e de assuntos de interesse comum", sublinhou Filipe Nyusi.

O futuro da cooperação

O Fórum de Cooperação China-África deverá culminar com a aprovação de uma "declaração" e um "plano de ação" que orientarão a cooperação nos próximos anos.

Embora a competição entre as grandes potências seja um pano de fundo importante, os desafios económicos que tanto a China quanto muitos países africanos enfrentam poderão definir o tom das negociações.

A cimeira tem o potencial de redesenhar o relacionamento económico e geopolítico entre África e a China, à medida que ambas as partes buscam superar os desafios e aproveitar as oportunidades de uma parceria que continua a moldar o continente africano.

O Banco do BRICS poderá substituir o FMI como credor?

01:29

This browser does not support the video element.

Saltar a secção Mais sobre este tema