África: Não se avistam mudanças nas eleições de 2019
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30 de dezembro de 2018
África do Sul, Nigéria e Moçambique são três dos países africanos que vão a votos em 2019. Mas analistas não anteveem mudanças. O mais provável é que movimentos de libertação que governam há muito se mantenham no poder.
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Em 2019 realizam-se eleições em dois dos países mais poderosos no continente africano: a África do Sul e a Nigéria. Mas os analistas não acreditam em grandes mudanças nestes e noutros países africanos, cujos cidadãos vão igualmente às urnas no próximo ano.
Para os especialistas ouvidos pela DW não há, à partida na Nigéria, um vencedor claro entre os dois principais candidatos às eleições de fevreiro: o Presidente Muhammadi Buhari e Atika Abubakar. Caso ganhe, Buhari, de 75 anos e marcado pela doença seria presidente por mais quatro anos. Abubakar, o ex-vice presidente e íntimo de Buhari tem 71 anos, e é suspeito de corrupção.
Sophia Moestrup, diretora regional da organização não-governamental NDI, explica que, no país, Buhari tem sido criticado. "Há um aumento de violência que indica claramente que Buhari não cumpriu a promessa de estabilização dada antes das últimas eleições", afirma Sophia Moestrup, acrescentando que o actual Governo negligenciou a juventude, ou seja, dois terços da população.
A falta de formação, o desemprego elevado e uma vida sem perspetivas, facilita o recrutamento de jovens pelo grupo terrorista Boko Haram. Os mais novos sentem que os seus governantes, um grupo de homens velhos, não entendem as suas necessidades.
No país vizinho, o Senegal, a situação é considerada estável. Também aqui, há eleições na próxima primavera, havendo "poucas dúvidas sobre a reeleição do presidente Macky Sall", diz Sophia Moestrup.
Oposições fracas
No sul do continente estão igualmente previstas várias eleições. Mas os observadores não contam com mudanças também nesta parte de África. O mais provável é que os antigos movimentos de libertação que governam há décadas se mantenham no poder. Paul Graham, da organização de defesa dos direitos humanos Freedom House, explica que o "facto de não haver verdadeiros movimentos de oposição política é um grande desafio para a região". Segundo Paul Graham , "os movimentos de libertação são grandes partidos que cobrem todo o espectro político da esquerda, passando pelo conservadorismo centrista, ao nacionalismo e à ideologia de mercado livre. O colapso destes partidos devido à corrupção ou a ineficácia deixaria um vácuo, não havendo alternativa que represente os valores social-democratas ou liberais".
África: Não se avistam grandes mudanças nas eleições do próximo ano
É o caso da África do Sul, que ainda não tem data marcada para as eleições parlamentares e presidenciais em 2019. Muitos analistas acreditam que o Congresso Nacional Africano (ANC) se vai manter no poder, se bem que enfraquecido. O novo presidente do país e do ANC, Cyril Ramaphosa tenta estancar a perda de popularidade.
Apesar de algum progresso na luta contra a corrupção instalada sob a presidência do seu predecessor, Jacob Zuma, Ramaphosa tem que lidar com grande resistência dentro do seu partido. E a promessa de uma reforma agrária não parece inspirar a grande maioria dos sul-africanos, que concordam com a sua necessidade, mas estão mais preocupados com a falta de emprego, a segurança e a saúde, indicam vários estudos.
Em entrevista à DW, Jakkie Cilliers, diretor do Instituto de Pesquisa ISS, em Pretória, afirma que „os observadores internacionais estão mais preocupados com a reforma agrária". No entanto, clarifica, "não se trata de uma grande mudança, porque a reforma já está na Constituição". Por isso, olhos deste investigador, trata-se de "mais uma tentativa do Governo de travar o partido radical EFF, que explorou a questão em seu benefício. Ramaphosa quer ser visto como tomando a iniciativa".
Moçambique também preocupa
Outro país da África Austral que preocupa os observadores é Moçambique. O país, considerado entre os mais pobres, tem uma dívida de Estado incomportável e está cada vez mais ameaçado de ataques terroristas.
Segundo Cillliers, grupos islamitas lutam pelo poder no norte. Também a oposição militante da RENAMO tem aqui a sua base e é muito popular entre os mais pobres. O Presidente Filipe Nyusi candidata-se a um segundo mandato nas eleições de outubro de 2019. A popularidade do líder da RENAMO Ossufo Momade aumenta, mas os analistas dizem que "não se avistam mudanças na paisagem política".
África em 2018: Entre a esperança e o medo
Terrorismo em Moçambique e no Mali, combate à corrupção em Angola e na África do Sul, paz entre a Etiópia e a Eritreia, Camarões e RDC em crise. 2018 foi um ano turbulento em África. Uma retrospetiva em imagens.
Foto: Privat
Combate à corrupção e desigualdade social na África do Sul
No início do ano, o Presidente sul-africano, Jacob Zuma, cede à pressão do Congresso Nacional Africano (ANC) e abandona o cargo, após nove anos no poder. Tem de responder em tribunal por corrupção, lavagem de dinheiro e fraude. O seu sucessor, Cyril Ramaphosa, lança um plano de reforma agrária para lutar contra as desigualdades sociais no país.
Foto: Reuters/N. Bothma
Reconciliação no Quénia
Em março, o Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, e o líder da oposição, Raila Odinga, chegam a acordo para o fim da crise política. A oposição tinha boicotado a repetição das eleições do ano anterior, devido a suspeitas de manipulação. Odinga chega a "tomar posse" como "Presidente do povo", mas os líderes decidem pôr as diferenças de lado para dar início ao "processo de construção do Quénia".
Foto: Reuters/T. Mukoya
Sociedade civil sob pressão na Tanzânia
O Presidente John Magufuli torna-se cada vez mais autoritário e a sociedade civil da Tanzânia enfrenta inúmeras restrições. As mulheres grávidas são proibidas de ir à escola e os homossexuais são cada vez mais reprimidos. No final do ano, várias organizações internacionais suspendem os apoios financeiros ao desenvolvimento do país, exigindo ao Presidente que respeite os direitos humanos.
Foto: DW/V. Natalis
Mais de 20 anos depois, paz entre Etiópia e Eritreia
A companhia aérea "Ethiopian Airlines" chama-lhe "pássaro da paz": em julho, um avião parte de Addis Abeba para Asmara. É o primeiro voo direto entre os dois países vizinhos, antigos rivais. Famílias separadas há anos podem finalmente abraçar-se com o início do processo de reconciliação entre a Etiópia e a Eritreia, pela mão do novo primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed.
Foto: Ethiopian Broadcasting Corporation
O fim do nepotismo em Angola?
O Presidente angolano, João Lourenço, combate o nepotismo no país. Em setembro, a luta atinge José Filomeno dos Santos, Zenú: o filho do ex-Presidente José Eduardo dos Santos é detido sob acusações de corrupção. A irmã, Isabel dos Santos, já tinha sido exonerada no ano anterior da presidência do conselho de administração da petrolífera estatal Sonangol.
Foto: Grayling
RDC: Joseph Kabila de saída
Após muitos avanços e recuos, o Presidente da República Democrática do Congo anuncia, finalmente, que não vai candidatar-se às eleições de dezembro. O "delfim" do chefe de Estado é o ex-ministro do Interior, Emmanuel Ramazani Shadary. Figuras proeminentes da oposição como Jean-Pierre Bemba e Moïse Katumbi são impedidos de entrar na corrida. E a oposição continua dividida.
Foto: Getty Images/AFP/J.D. Kannah
Extremismo islâmico continua a ameaçar o Mali
A situação de segurança no Mali mantém-se frágil, apesar da presença de tropas internacionais, como os soldados do Exército alemão em missão de treino, na foto. Nas presidenciais de agosto, após ameaças de radicais islâmicos, várias centenas de um total de 23 mil assembleias de voto são encerradas. Após alguns protestos da oposição, o Presidente Ibrahim Boubacar Keïta é empossado novamente.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gambarini
Nobel da paz para Nadia Murad e Denis Mukwege
A defensora dos direitos humanos iraquiana e o médico congolês dedicam a vida à luta contra a violência sexual como arma de guerra. O ginecologista Denis Mukwege trata mulheres vítimas de violência sexual no hospital de Parzi, que fundou no leste da República Democrática do Congo.
Segundo a Amnistia Internacional, 400 pessoas morreram este ano no conflito entre o Governo dos Camarões e separatistas. As escolas estiveram várias vezes de portas fechadas e o mesmo aconteceu com muitas assembleias de voto nas eleições de outubro. Apenas 53% dos camaroneses conseguiram votar. Paul Byia foi eleito para um oitavo mandato na Presidência.
Foto: DW/H. Fotso
Moçambique: Terror em Cabo Delgado
Homens armados desconhecidos atacam esquadras, incendeiam casas e veículos e disparam contra a população na província nortenha. Os atacantes serão maioritariamente muçulmanos, mas as autoridades rejeitam uma ligação entre os ataques em Cabo Delgado e grupos radicais islâmicos. Em outubro, mais de 200 suspeitos de terrorismo são detidos. Onda de violência já fez 100 vítimas mortais.
Foto: Privat
Da Alemanha para África: Revisão das parcerias
Na cimeira de Berlim, em outubro, faz-se um balanço do programa "Compact with Africa" de cooperação alemã com o continente africano. O número de empresas alemãs a investir em África cresce a um ritmo lento. A chanceler Angela Merkel - na foto, entre o Presidente do Ruanda Paul Kagame e Cyril Ramaphosa, da África do Sul - anuncia um novo fundo de investimento de mil milhões de euros.