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África “não será prioridade” na agenda de Trump

Manuel Luamba
8 de novembro de 2024

Relações entre Angola e EUA não deverão sofrer grandes alterações com a eleição de Donald Trump, antevêm especialistas angolanos ouvidos pela DW África.

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Terá África importância estratégica para a nova administração Trump?Foto: Henry Naminde/AP Photo/picture alliance

O Presidente de Angola, João Lourenço, juntou-se ao grupo de líderes mundiais que, de imediato, felicitaram Donald Trump pela sua eleição no escrutínio desta terça-feira (05.11). O chefe de Estado angolano expressou confiança de que "os esforços bem-sucedidos entre Angola e os Estados Unidos da América (EUA) continuarão a ser a linha de atuação comum” entre os dois países.

Apesar da continuidade esperada, observadores notam que a diplomacia angolana estava mais alinhada à administração de Joe Biden, que deixará a Casa Branca quando a nova administração tomar posse a 20 de janeiro de 2025. Entretanto, Faustino Henriques, jornalista e especialista em Relações Internacionais, acredita que a cooperação política, económica, comercial e diplomática entre Angola e os Estados Unidos seguirá, embora com Trump focado em questões internas dos EUA.

Para Henriques, é fundamental que "Angola procure saber o que quer”. O país "deve ter uma estratégia, objetivos e metodologias para lidar com os Estados Unidos, visando também a defesa "dos interesses de Angola."

Nkinkinamo Tussamba, outro especialista angolano em Relações Internacionais, salienta que as relações entre os Estados "são firmadas com as instituições e não com as pessoas”.

O analista lembra a Convenção de Viena de 1961 – que menciona as relações diplomáticas entre os Estados – para reforçar essa possibilidade. "Isso quer dizer que as relações entre Angola e os Estados Unidos continuarão, tendo em conta os interesses dos dois países", precisa.

Corredor do Lobito avança?

Em dezembro deste ano, Joe Biden realiza a sua última visita como Presidente dos Estados Unidos, e o Corredor do Lobito — financiado pelos EUA e pela Europa — estará entre os temas a abordar com o Presidente angolano. No entanto, Faustino Henriques alerta para a importância de não se criar expetativas exageradas em relação ao projeto, que "foi usado como uma ferramenta geopolítica no contexto da competição entre Angola e a China”.

"Não acredito que a administração Trump dê a mesma dinâmica que a administração Biden deu” [ao Corredor do Lobito], admite analista angolanoFoto: Yuri Gripas/ABACAPRESS/picture alliance

"Não acredito que a administração Trump dê a mesma dinâmica que a administração Biden deu” [ao projeto], admite o jornalista. "Acho que devemos ser comedidos e razoáveis na forma como encaramos as relações entre os Estados Unidos e Angola em função do Corredor do Lobito”, adianta.

Sobre o futuro das relações entre os Estados Unidos e a África, Faustino Henriques considera que o posicionamento de Trump será similar ao do seu primeiro mandato (2016-2020), com algumas adaptações ao cenário internacional atual, marcado por conflitos em várias regiões. Para Henriques, o continente africano não será prioridade para a política externa de Trump, considerando que África representa apenas 2% do comércio mundial.

Expetativa de continuidade

Tendo em conta o que o continente africano representa no comércio mundial, o especialista não vislumbra os Estados Unidos a destacarem o comércio com a África, "exceto no contexto da competição geopolítica com outras grandes potências."

Nkinkinamo Tussamba compartilha da mesma visão, afirmando que o continente africano não deverá ser prioridade para o novo inquilino da Casa Branca. "Especialmente quando consideramos o primeiro mandato de Donald Trump, no qual ele praticamente ignorou a política externa em relação a África, afetando não apenas as relações com Angola, mas também com outros países do continente”, reforça.

A expetativa é de continuidade nas relações bilaterais, mas com menor foco dos Estados Unidos no continente africano e, consequentemente, em Angola.

Corredor do Lobito: A bandeira na relação entre Angola e EUA

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