África no Festival Beethoven: Música une culturas em Bona
Ineke Mules | Tracy Kariuki | mjp
17 de setembro de 2019
O que têm em comum uma banda à capela de Joanesburgo, na África do Sul, e um grupo vocal composto por jovens de Leipzig, na Alemanha? Juntos, conquistaram o público do festival anual dedicado ao Beethoven em Bona.
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Chamam-se Just 6 e fazem um enorme sucesso na África do Sul: um grupo vocal masculino à capela que funde o tradicional e o moderno e que leva a música sul-africana em digressão pelo mundo.
Em Bona, na Alemanha, os Just 6 apresentaram-se no festival anual Beethovenfest ao lado do conjunto alemão feminino Sjaella (nome inspirado na palavra sueca para alma). A acompanhar, a Orquestra Juvenil da Alemanha – a receita para uma verdadeira fusão das culturas do sul de África e da Europa Ocidental, com o apoio da DW.
A conquistar palcos desde Moscovo a Bona
Com uma mistura de jazz contemporâneo, pop, RnB, gospel e soul, os Just 6 procuram uma sonoridade verdadeiramente global. Intitulam-se "a banda sem instrumentos" e conquistaram não só o público na Alemanha, como também na Rússia – algo que a banda não esperava.
África no Festival Beethoven: Música une culturas em Bona
"Fomos muito bem recebidos em Moscovo. Estivemos lá para o Festival à capela da Primavera. Públicos diferentes, energias diferentes. E, engraçado, os russos são pessoas mesmo simpáticas. Estavam a dançar e a sorrir, algo que, aparentemente, não é assim tão comum lá. Conseguimos aquecer o coração deles", dizNtuthuko Malaza, um dos membros do grupo.
Em Bona, terra natal do Beethoven, impõe-se saber o que pensa um grupo vocal à capela sul-africano do compositor alemão do século XVIII. Um facto chamou a atenção de Kwande Cakata, outro cantor do grupo: "Sei algumas coisas sobre ele. Sei que a um certo ponto da sua carreira ficou surdo, enquanto compunha algumas das suas obras. É impressionante saber que ele fez alguma da sua música sem conseguir ouvir nada".
Música, paz e reconciliação
A África do Sul tem sido notícia pelos piores motivos, com uma onda de ataques xenófobos e denúncias de corrupção entre as elites políticas. E o ambiente em muitas zonas do país é de tensão. Para os Just 6, a música é uma forma de promover a reconciliação e a paz.
"Estamos a enfrentar um problema diferente agora na África do Sul, é mais social. Como viver juntos e todas essas coisas. Aconteceu muita coisa nos últimos anos que resultou nesta falta de união e nesta forma como vivemos em conjunto. Penso que a música que fazemos é a melhor forma de voltar ao espírito que venceu no final dos anos 80, início dos anos 90", explica outro membro do grupo.
"Over the Border": Homenagem a Cesária
Festival em Bona, na Alemanha, juntou em palco Lura, Dino D’ Santiago, Teófilo Chantre, Nancy Vieira, Elida Almeida e Lucibela. Reportagem fotográfica do tributo a Cesária Évora, a "diva dos pés descalços".
Foto: Christian Mateus
Lura aquece corações com "Sodade"
A noite de homenagem a Cesária na cidade de Bona encerrou com "Sodade", do compositor Amândio Cabral, que veio de Los Angeles, nos Estados Unidos, para o tributo. A voz de Lura a aquecer corações alemães com eternas saudades da diva cabo-verdiana.
Foto: Christian Mateus
"Mãe carinhosa" de Teófilo Chantre
Em "concerto privado" para a DW África nos bastidores e mais tarde no palco, Teófilo Chantre interpretou "Mãe carinhosa", uma das muitas canções que compôs para a cantora cabo-verdiana, que morreu a 17 de dezembro de 2011. "Cesária deixou muita gente órfã", lembra o compositor e produtor.
Foto: Christian Mateus
Elida Almeida: Mulher sem fronteiras
A jovem cantora Elida Almeida, nova revelação da música cabo-verdiana que tem conquistado palcos mundiais, recorda a mulher forte que além de fronteiras quebrou tabus no arquipélago. "Cesária despertou em muitas mulheres essa coisa do: mas afinal porque não? Posso fazer as mesmas coisas que os homens!"
Foto: Christian Mateus
Dino D' Santiago com Cesária no coração
Cesária Évora era uma mulher que "vivia com o coração aberto para o mundo", recorda Dino D' Santiago. O cantor, que vive em Portugal e abraça cada vez mais as suas raízes cabo-verdianas, lançou recentemente um novo movimento. E, pelos vistos, "o funaná é o novo funk".
Foto: Christian Mateus
O "Laço Umbilical" de Lucibela
A jovem cantora de São Nicolau não esquece o que Cesária Évora fez por Cabo Verde. "E cabe-nos agora dar continuidade a esse legado. Ela tem de ser sempre relembrada por isso e pela influência que ainda tem sobre nós", diz Lucibela, em digressão pela Europa para apresentar "Laço Umbilical", o seu álbum de estreia.
Foto: Christian Mateus
Cize é insubstituível
Lura, Lucibela, Teófilo Chantre e Nancy Vieira em palco. "Cize, mesmo não estando aqui, junta-nos", sublinha Nancy Vieira, que acaba de lançar o álbum "Manhã Florida", produzido pelo compositor Teófilo Chantre, companheiro antigo de aventuras musicais.
"Estas músicas matam um bocadinho das saudades da Cesária, que ninguém substitui", diz.