África Ocidental na rota do tráfico global de cocaína
29 de fevereiro de 2012 Os registos oficiais apontam para um sucesso crescente na apreensão de grandes quantidades de drogas, mas os traficantes encontram sempre novas formas para chegar aos consumidores.
O Senegal, a Libéria ou a Guiné-Bissau, em particular, têm servido, nos últimos anos, de importantes pontos de transbordo e passagem da cocaína sul-americana. Por exemplo, um número crescente de aviões partiu, no ano passado, da Venezuela com destino a vários países africanos.
Números
De acordo com o Escritório da ONU sobre Drogas e Crime (UNODC), os traficantes ganham, anualmente, cerca de 680 milhões de euros com o negócio da droga. Apesar de 2009 ter sido um ano que contou com menos apreensões de cocaína na região Ocidental do continente africano, isso não significa uma diminuição no tráfico.
“Em 2009, foram apreendidas 21 toneladas de cocaína, transportadas da África Ocidental para a Europa. Dois anos antes, tinham sido apreendidas 41 toneladas. Mas, as redes criminosas alteraram os seus métodos para se adaptarem melhor aos países ainda sob esse flagelo”, afirma Aisser Al-Hafedh, representante do UNODC para a África Ocidental e Central.
Os caminhos do tráfico
Por exemplo, as redes criminosas desenvolveram métodos altamente profissionais para o transporte da cocaína. A droga chega à região por via aérea e marítima neste último caso, principalmente quando se trata de países insulares como Cabo Verde. Em seguida, essa droga é dividida e transportada em pequenas quantidades, utilizando pessoas que vulgarmente são conhecidas por "mulas".
A situação de instabilidade, ausência de segurança e fracos controles nas fronteiras de muitos países da região, como a Serra Leoa, o Senegal ou a Libéria, facilitam este tráfico ilegal.
Oportunismo do tráfico
Um outro exemplo é a Guiné-Bissau, recentemente citada num relatório da ONU, e onde se afirma que o tráfico de droga continua a ser uma grande ameaça para o desenvolvimento do país. Por causa do arquipélago dos Bijagós com algumas das suas ilhas desertas e a persistente crise política que o país viveu nos últimos anos, a Guiné- Bissau tornou-se uma das principais placas giratórias da droga que chega à Europa.
Por outro lado, o envolvimento de alguns serviços, nomeadamente as alfândegas, alguns militares e personalidades do regime têm facilitado o tráfico de drogas porque muita gente beneficia com este "comércio" perigoso e ilegal.
A (in)justiça é cega
“O tráfico de droga tem um impacto desestabilizador no país e é muito perigoso. Não se pode enfrentar um traficante de drogas sem temer pela sua vida. E isso é uma grande tarefa para um país que não tem instituições do Estado em que possa confiar”, afirma Priska Hauser-Scherer, que está na Guiné Bissau, a trabalhar para a Organização internacional anti-drogas.
Também no Senegal a situação é muito parecida. O sul da província de Casamance, vive desde 1980 um conflito armado entre soldados senegaleses e combatentes do movimento independentista. Daí que a insegurança seja permanente e os traficantes de droga se aproveitem desta instabilidade para fazer florescer o negócio.
Dinheiro fácil
Fatoumata Sy Gueye, responsável pelo programa da Fundação alemã Konrad-Adenauer, no Senegal, acrescenta ainda que “o tráfico é facilitado principalmente pela crise económica e pobreza na região e, em muitas zonas do Senegal, esse comércio é muito importante para as pessoas porque é uma maneira fácil de ganhar dinheiro.”
Embora o Senegal seja um dos países mais avançados da África Ocidental, existem contudo vários problemas económicos que afectam diretamente as populações. Os preços dos alimentos são elevados e quase metade da população do país está no desemprego. Fatoumata Gueye acredita que, em particular, os jovens precisam de emprego para terem novas perspectivas, mas até ao momento as alternativas são poucas.
Trabalho conjunto
Face a este flagelo, os países da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental estão a coordenar esforços no quadro de um plano da organização sub-regional, com a ajuda de entidades como a Interpol e a ONU, contra o tráfico organizado, complementando o plano da CEDEAO.
Por outro lado, muitos países africanos, nomeadamente Cabo Verde, têm promovido ações no combate ao branqueamento de capitais, adotando leis e punindo drasticamente os infratores.
Autor: Claudia Zeisel / António Rocha
Edição: Carla Fernandes / Nádia Issufo