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África: Rússia, a China e o Catar intensificam fakenews?

DW (Deutsche Welle)
12 de novembro de 2024

As campanhas de desinformação nas redes sociais de África Ocidental aumentam massivamente – especialmente nos países da Sahel que sofreram golpes de Estado. Isso tem consequências para o trabalho diário de jornalistas.

A maioria das campanhas de desinformação vem da RússiaFoto: Boureima Salouka/DW

Países da África Ocidental estão no alvo de campanhas de propaganda nas redes sociais. Na região do Sahel, as campanhas de desinformação nas redes sociais quase quadruplicaram nos últimos dois anos, de acordo com investigações e estudos do Africa Center for Strategic Studies, da Amnistia Internacional, Repórteres Sem Fronteiras e do meio online nigerino L'Evénement.

Segundo o Africa Center, quase 60% das campanhas são financiadas por Estados estrangeiros, sendo a maioria com um discurso antiocidental em favor da Rússia. Desde 2018, a Rússia lançou 19 campanhas dirigidas principalmente ao Mali, Burkina Faso e Níger, buscando expandir sua influência após as juntas militares expulsarem as forças ocidentais.

"Conhecemos a posição da Rússia em relação à UE e aos EUA", afirma Bilal Taïrou, coordenador da African Verification Alliance. "Há uma onda de sentimentos antiocidentais, e a Rússia aproveita esse terreno fértil." A batalha mediática intensificou-se em 2020, antes da chegada do grupo Wagner ao Mali. Nessa época, o Facebook encerrou três redes influentes na sua plataforma, duas das quais ligadas à Rússia. "Era possível ver mensagens como 'Adeus, França, bem-vinda, Rússia'", relata Dimitri Zufferey, jornalista e membro do coletivo "All Eyes on Wagner". A Rússia parece ter atingido seus objetivos, conseguindo, por meios duvidosos, influenciar a opinião pública em países como Mali e Burkina Faso.

O presidente de Burkina Faso, Ibrahim Traoré, com Vladimir Putin em 2023Foto: Alexander Ryumin/dpa/Tass/picture alliance

Manipulação da opinião pública

Além da Rússia, outros atores estatais, como a China e o Catar, estão presentes nos países do Sahel onde ocorreram golpes de Estado. "Há uma rivalidade de poder entre antigos e novos parceiros que querem estabelecer-se nesses novos espaços", diz Harouna Simbo, jornalista e analista de desinformação no Sahel.

As informações falsas deliberadamente disseminadas têm impacto direto no trabalho dos jornalistas locais, já pressionados politicamente. Nos últimos anos, as juntas militares em Mali, Burkina Faso e Níger tomaram medidas para silenciar os meios "antipatrióticos". De acordo com Repórteres Sem Fronteiras, centenas de jornalistas são intimidados e ameaçados na região. Há relatos de raptos e recrutamentos forçados.

"Os jornalistas têm duas opções", explica Malick Konaté, jornalista maliano atualmente exilado. "Ou autocensuram-se e seguem a linha ou deixam o país." Quem tenta divulgar informações imparciais é visto como alguém que quer desestabilizar o país ou atua a mando do Ocidente.

"Internet: Um campo de batalha geopolítico"

Em vez do Ocidente, novos parceiros apresentam as suas visões e trazem poder para o jogo. "A região tornou-se um campo de batalha geopolítico, também na internet", diz Hamadou Tidiane Sy, diretor da escola de jornalismo Ejicom em Dakar e fundador do Ouestaf.com.

Algumas campanhas são elaboradas e sofisticadas, enquanto outras são mais simples e fáceis de identificar. "Há pessoas que o fazem por lealdade ou afinidade, acreditando que apoiar a Rússia ou a China poderia libertar certos países africanos do jugo das antigas potências coloniais." No entanto, é importante não se iludir: outros países fazem o mesmo para ganhar aliados ou desacreditar concorrentes. 

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Um problema grave

"É muito fácil manipular as massas, que muitas vezes são desinformadas", afirma Sy, reforçando a importância de formar jornalistas em verificação de fatos para evitar a propagação de erros.

"Precisamos sensibilizar os cidadãos e ensinar literacia mediática"

Através do Ouestaf.com, Sy e parceiros organizam debates públicos sobre desinformação e utilizam rádios parceiras para informar a população. "É preciso sensibilizar os cidadãos e ensinar literacia mediática", diz ele. O objetivo é mostrar que há jornalistas sérios que trabalham com informação confiável.

No entanto, Sy reconhece: "Só porque há pacifistas, não significa que não há armas. Este é um flagelo que continuará por algum tempo." Ele defende que, para combater o problema, as autoridades devem facilitar o acesso à informação pública. Mas ele é realista: "Às vezes são os próprios políticos que precisam das massas analfabetas para manipulá-las e alcançar seus objetivos políticos."

A verificação de fatos pode até salvar vidas

Adnan Sidibé, de Burkina Faso, sabe a importância crescente da verificação de fatos. Ele trabalha na plataforma Fasocheck.org, que combate a desinformação no Sahel e é parceira da DW. Em outubro, Sidibé foi premiado como melhor verificador de fatos profissional de África no Africa Fact Summit em Gana.

Ele explica que a verificação de fatos é relevante em temas de interesse público e que afetam diretamente a população. Sidibé cita um exemplo na área de saúde: "Pseudomédicos" promoveram nas redes sociais um "suposto elixir mágico", que consiste em ferver certas folhas para curar doenças, sem base científica. Isso representa um perigo real para a saúde pública, com relatos de efeitos colaterais graves, como falência renal.

Durante a pandemia de Covid-19, também circularam tratamentos questionáveis nas redes sociais. "Algumas pessoas não sobreviveram a esses métodos", diz Sidibé.

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