África: Papel dos jovens urbanos na mudança política
17 de dezembro de 2024Este ano jovens quenianos da capital Nairobi obrigaram o Presidente William Ruto a suspender o aumento dos impostos sobre o pão, o petróleo e a gasolina e a remodelar o Governo.
Titus Kaloki, coordenador do programa "Cidades Justas” e da política da Fundação Friedrich Ebert no Quénia, fala numa evolução de perspetiva política dos jovens.
No caso do Quénia Kaloki diz que "o que estes GenZs conseguiram alcançar foi começar a desmistificar coisas complexas como leis fiscais, documentos legais tornando-os legíveis, compreensíveis, traduzindo-os para diferentes línguas”, explica o analista.
No entendimento de Titus Kaloki houve "também a autoconsciência entre os jovens, de que precisam de ir além das cidades, precisam de ir aos seus homólogos rurais e explicar-lhes essas coisas (leis)”.
Não existe uma organização central ou uma figura de proa, mas sim uma mobilização política puramente temática, baseada em possibilidades tecnológicas desbloqueadas.
Geração Z proativa
Ao mesmo tempo, a geração Z urbana está cada vez mais consciente da necessidade de partilhar contextos políticos com os seus pares das zonas rurais. O movimento continua a desenvolver-se - "de reativo a proativo”.
Lena Gutheil investigadora associada do projeto de investigação e consultoria Megatrends Africa, do Instituto Alemão de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IDOS afirma que os jovens urbanos em África votam muito raramente e preferem protestar.
Gutheil esclarece que os partidos da oposição têm mais sucesso nas cidades do que nas zonas rurais.
"O facto de muitos jovens viverem em aglomerados informais significa que o apelo populista também irá aumentar”, observa a pesquisadora realçando que a frustração com a perspetiva de vida destes jovens também tem efeitos, uma vez que apenas um em cada seis jovens tem um emprego estável e um terço está desempregado.
"E, especialmente quando se trata de fornecer infraestruturas ou bens públicos, os governos em África, em geral, são chamados a reforçar as suas democracias - para realmente fornecer estes serviços”, advoga Lena Gutheil acrescentando que "a democracia tem de dar resultados para que as pessoas fiquem mais convencidas de que o sistema funciona”.
Titus Kaloki acredita, no entanto, que a provisão de serviços básicos requere muito dinheiro, pelo que sugere que a União Europeia (UE) pode alocar mais dinheiro de ajuda a África, para "conceção de bens e serviços públicos que podem resultar em situações vantajosas para todos", salienta.
A título de exemplo, Kaloki afirma que "se a Siemens construísse transportes rápidos de massa em Nairobi, financiados pela UE, não só obteria lucros, como também ajudaria a cidade de Nairobi a atingir um marco importante que abriria muito mais oportunidades económicas, reduziria as perdas na economia e, provavelmente, teria uma situação vantajosa para todos”.
Um estudo da FES de 2022 vê bairros informais como o resultado da divisão colonial do espaço urbano. O relatório sublinha que quase 70 por cento dos bairros informais desempenham uma função económica importante e são os "verdadeiros motores do crescimento”.
Titus Kaloki é a favor de novas plataformas de participação e de um trabalho de educação cívica que explique porque é que é importante participar e como é que todos se podem envolver. No entanto, está preocupado com o autoritarismo que se instalou na região do Sahel, na sequência de golpes militares, por exemplo. A democracia em África também está a ser pressionada pela desinformação, que é galopante, tanto online como offline.