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África prepara-se para chegada do coronavírus

Raquel Loureiro | António Cascais | Isaac Mugabi
5 de março de 2020

Há 6 países em África com casos confirmados do novo coronavírus, que surgiu em dezembro na cidade chinesa de Wuhan. O medo que a epidemia se alastre no continente está a preocupar populações e especialistas de saúde.

Foto: picture-alliance/AP Photo/E. Mwiche

Argélia e Egito, e mais recentemente Nigéria, Marrocos, Tunísia e Senegal somam no total 11 casos positivos do vírus no continente. Populações e especialistas de saúde temem pelas consequências de mais um vírus neste continente já tão sobrecarregado com casos de malária, sarampo e outras doenças infecciosas.

À medida que surgem novos casos de coronavírus em todo o mundo, os países africanos têm estado a anunciar medidas de contingência para lidar com a situação. Na Nigéria, o ministro da saúde, Osagie Ehanire, fez saber que "está em construção uma nova unidade de emergência, de última geração, e que deverá estar concluída no próximo mês de abril. Até lá, utilizam uma unidade de cuidados intensivos, que acaba de ser inaugurada, e que "está totalmente equipada e pronta a usar", garante o ministro.

Para além das melhorias ao nível da infraestrutura, os países do continente devem tomar medidas rigorosas no que toca ao rastreio de todos os passageiros que chegam aos diferentes países, e não apenas aos proveninentes da China. O alerta é dado pela diretora da Organização Mundial de Saúde (OMS) em África, Rebecca Moeti, que se mostra satisfeita com o trabalho que tem estado a ser feito ao nível da preparação.

"O que posso dizer é que a capacidade dos países para lidar com este surto melhorou muito nos últimos meses. E mesmo antes, uma vez que tivemos um surto de ébola no continente durante um ano e meio. No geral, temos estado a trabalhar em melhorias na preparação [da chegada do vírus] nos vários países, desde o rastreio à entrada, por exemplo, à vigilância e à capacidade laboratorial", explica.

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Fechar fronteiras é solução?

Páises como o Quénia, Tanzânia e Ruanda suspenderam os voos para a China. Já em Angola, que ainda não regista qualquer caso positivo de coronavírus, entrou em vigor esta terça-feira (03.03) uma lei que proíbe a entrada no país de cidadadãos provenientes de países com casos confirmados deste vírus.

Uma medida que o Governo de São Tomé e Príncipe quer seguir, mas que foi já desaconselhada pela OMS. Segundo a representante desta organização no país, Anne Ancia, "fechar as fronteiras" é uma forma de "ganhar tempo para a preparação" do país para a chegada do vírus, mas  "sabe-se muito bem" que não é uma medida que vá "parar a transmissão da doença".

África prepara-se para chegada do coronavírus

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No Senegal, cujo primeiro caso foi confirmado esta semana, os residentes dizem-se preocupados, pois entendem que o país não está pronto para um possível alastramento do vírus. "Achamos que o Senegal não está pronto. Que medidas está o país a tomar em relação a isto? E se se espalhar, as autoridades vão anunciar o surto logo desde o início? Não sei. Ainda assim, vamos confiar no que nos dizem, em como tomar precauções e esperaremos", afirma Claude Ndonda.

"As pessoas não estão preocupadas com o que está a acontecer. [Quando saímos com máscaras] sentimo-nos como extra-terrestres porque as pessoas olham para nós com cara de quem está a questionar: 'O que está a acontecer?", conta Victoria Loren Maganga.

O Banco Mundial anunciou que irá disponibilizar um pacote de ajuda de 12 mil milhões de dólares para ajudar os países afetados pelo coronavírus. Entre os beneficiários, estão os países africanos que registaram já casos positivos.

Impactos na economia

Um pouco por todo o continente, as pequenas empresas que importam alimentos, tecnologia ou vestuário da China já estão a sofrer as consequências da propagação do vírus, pois os produtos chineses começam a estar em falta e as opções em termos de fornecedores são escassas.

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Moçambique é um destes países. Muitos comerciantes, como é o caso de Alzira Simbe, estão preocupados. Esta empresária de Maputo costuma viajar para a China várias vezes por ano para comprar têxteis, cosméticos e produtos para o cabelo. Mas de momento, isso não é possível. À DW África, explica que a alternativa pode passar por "comprar têxteis noutros países, como Brasil ou Portugal".

No entanto, acrescenta, há certos produtos que não consegue encontrar a preços razoáveis nem no Brasil nem em Portugal. "Se este problema do coronavírus não se resolver em breve - isto é, dentro de dois ou três meses - terei um grande problema", diz. Para já, os seus armazéns em Maputo ainda estão relativamente cheios. Mas e depois?

É também o que se questiona no Uganda, onde cerca de um quarto das importações vem da China. As cadeias de abastecimento foram interrompidas durante semanas porque muitas fábricas chinesas encerraram a produção. Também aqui, os pequenos comerciantes que vendem têxteis, produtos eletrónicos ou bens domésticos estão em apuros.

Omar Kayiira, empresário de Kampala, dá conta que os produtos chineses não estão a chegar ao Ugand e que os fornecedores alternativos são muito limitados: "Há importadores indianos, mas eles não têm os produtos que eu vendo. É muito difícil substituir os chineses neste momento", diz.

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