Previsão de crescimento de 2,6% na África subsaariana
Lusa | ar
30 de outubro de 2017
FMI prevê um crescimento de 2,6% na África subsaariana, quase o dobro da expansão económica de 2016, mas alerta para a necessidade de reequilibrar os orçamentos e suster a dívida pública.
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"O crescimento na África subsaariana deve chegar a 2,6% em 2017, quase o dobro do crescimento de 2016, mas ainda bem abaixo da tendência do passado e pouco acima do crescimento da população", lê-se no relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre as perspetivas económicas regionais para esta região que engloba a maioria dos países lusófonos.
O documento, divulgado esta segunda-feira (30.10.) em Washington, prevê uma aceleração do crescimento para os 3,4% no próximo ano, mas alerta que "a incerteza política na Nigéria e na África do Sul [as duas maiores economias africanas] impede uma recuperação mais forte, e o crescimento não deve aumentar em 2019".
Ainda na 'ressaca' da crise dos preços baixos do petróleo e do abrandamento mundial, as economias africanas de crescimento mais rápido "continuam a ser impulsionados pela despesa pública, com os níveis da dívida e os custos do serviço da dívida a aumentarem".
A dívida pública passou os 50% do PIB em 22 países no final do ano passado, diz o FMI, notando que "os custos de servir a dívida estão a tornar-se um fardo, especialmente para os países produtores de petróleo, e em Angola, Gabão e Nigéria vão mesmo passar os 60% das receitas do Governo em 2017".A consequência é que "a crescente exposição aos [dívidas ou empréstimos] soberanos e a acumulação de atrasos nos pagamentos domésticos aumentaram as pressões sobre o setor financeiro, como é evidenciado pela subida do crédito malparado" nestes três países, notam os economistas do FMI.
Condições de financiamento melhoraram
Ao mesmo tempo, continuam, "as condições de financiamento externo melhoraram consideravelmente desde 2016, com várias economias de fronteira, como a Costa do Marfim, Nigéria e Senegal, a regressarem aos mercados na primeira metade deste ano e outra, Angola, a planear fazê-lo em breve".
As emissões de dívida, aliás, chegaram aos 4,6 mil milhões de dólares entre janeiro e junho, o que compara com apenas 570 milhões de dólares para o total do ano passado, evidenciando a acrescidas necessidades de financiamento das economias desta região.
"As taxas de juro entre os mercados de fronteira africanos e os mercados emergentes comparáveis diminuiu", escrevem os técnicos do FMI.Para os países exportadores de petróleo, como é o caso dos lusófonos Angola e Guiné Equatorial, "os esforços de consolidação orçamental chegam, em média, a 5,3 pontos percentuais do PIB nos próximos cinco anos e nalguns casos, como Angola, um ajustamento considerável já foi feito" nos últimos dois anos.
No entanto, concluem os peritos do FMI, "a maior parte do ajustamento até agora foi atingido através de cortes na despesa de capital, refletindo uma combinação de constrangimentos financeiros e escolhas políticas deliberadas".
PIB............... 2016.....2017.....2018
Angola............ -0,7......1,5......1,6
Cabo Verde......... 3,8......4,0......4,1
Guiné Equatorial..-9,7.....-7,4.....-7,8
Guiné Bissau...... .5,1......5,0......5,0
Moçambique.........3,8......4,7......5,3
ST Príncipe........ 4,1......5,0......5,5
Média África subs..1,4......2,6......3,4
Pobreza no meio da riqueza no sul de Angola
Apesar da riqueza em petróleo, em Angola vive muita gente na pobreza, sobretudo no sul do país. A região é assolada por uma seca desde 2011 e as colheitas voltaram a ser pobres neste ano. Muitos angolanos passam fome.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Sobras da guerra civil
A guerra civil (1976 -2002) grassou com particular violência no sul de Angola. Aqui, o Bloco do Leste socialista e o Ocidente da economia de mercado livre conduziram uma das suas guerras por procuração mais sangrentas em África. Ainda hoje se vêm com frequência destroços de tanques. A batalha de Cuito Cuanavale (novembro de 1987 a março de 1988) é considerada uma das maiores do continente.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Feridas abertas
O movimento de libertação UNITA tinha o seu baluarte no sul do país, e contava com a assistência do exército da República da África do Sul através do Sudoeste Africano, que é hoje a Namíbia. Muitas aldeias da região foram destruídas. Mais de dez anos após o fim da guerra civil ainda há populares que habitam as ruínas na cidade de Quibala, no sul de Angola.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Subnutrição apesar do crescimento económico
Apesar da riqueza em petróleo, em Angola vive muita gente na pobreza, sobretudo no sul. A região sofre de seca desde 2011 e as colheitas voltaram a ser más no ano 2013. Muitos angolanos não têm o suficiente para comer. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) diz que nos últimos anos pelo menos um quarto da população passou fome durante algum tempo ou permanentemente.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
O sustento em risco
Dado o longo período de seca, a subnutrição é particularmente acentuada nas províncias do sul de Angola, diz a FAO. As colheitas falham e a sobrevivência do gado está em risco. Uma média de trinta cabeças perece por dia, calcula António Didalelwa, governador da província de Cunene, a mais fortemente afetada. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) também acha que a situação é crítica.
Foto: DW/A. Vieira
Semear esperança
A organização de assistência da Igreja Evangélica Alemã “Pão para o Mundo” lançou um apelo para donativos para Angola na sua ação de Advento 2013. Uma parte dos donativos deve ser reencaminhada para a organização parceira local Associação Cristã da Mocidade Regional do Kwanza Sul (ACM-KS). O objetivo é apoiar a agricultura em Pambangala na província de Kwanza Sul.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Rotação de culturas para assegurar mais receitas
Ernesto Cassinda (à esquerda na foto), da organização cristã de assistência ACM-KS, informa um agricultor num campo da comunidade de Pambangala, no sul de Angola sobre novos métodos de cultivo. A ACM-KS aposta sobretudo na rotação de culturas: para além das plantas alimentícias tradicionais como a mandioca e o milho deverão ser cultivados legumes para aumentar a produção e garantir mais receitas.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Receitas adicionais
Para além de uma melhora nas técnicas de cultivo, os agricultores da região também são encorajados a explorar novas fontes de rendimentos. A pequena agricultora Delfina Bento vendeu o excedente da sua colheita e investiu os lucros numa pequena padaria. O pão cozido no forno a lenha é vendido no mercado.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Escolas sem bancos
Formação de adultos na comunidade de Pambangala: geralmente os alunos têm que trazer as cadeiras de plástico de casa. Não é só em Kwanza Sul que as escolas carecem de equipamento. Enquanto isso, a elite de Angola vive no luxo. A revista norte-americana “Forbes” calcula o património da filha do Presidente, Isabel dos Santos, em mais de mil milhões de dólares. Ela é a mulher mais rica de África.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Investimentos em estádios de luxo
Enquanto em muitas escolas e centros de saúde falta equipamento básico, o Governo investiu mais de dez milhões de euros no estádio "Welvitschia Mirabilis", para o Campeonato Mundial de Hóquei em Patins 2013, na cidade de Namibe, no sul de Angola. Numa altura em que, segundo a organização católica de assistência “Caritas Angola” dois milhões de pessoas passaram fome no sul do país.
Foto: DW/A. Vieira
Novas estradas para o sul
Apesar dos destroços de tanques ainda visíveis, algo melhorou desde o fim da guerra civil em 2002: as estradas. O que dá a muitos agricultores a oportunidade de venderem os seus produtos noutras regiões. Durante a era colonial portuguesa, o sul de Angola era tido pelo “celeiro” do país e um dos maiores produtores de café de África.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Um futuro sem sombras da guerra civil
Em Angola, a papa de farinha de milho e mandioca, rica em fécula, chama-se “funje” e é a base da alimentação. As crianças preparam o funje peneirando o milho. Com a ação de donativos de 2013 para a ACM-KS, a “Pão para o Mundo” pretende assegurar que, de futuro, os angolanos no sul tenham sempre o suficiente para comer e não tenham que continuar a viver ensombrados pela guerra civil do passado.