África tem de reduzir dependência do petróleo
14 de novembro de 2014A queda dos preços do petróleo nos mercados continua a ter repercussões negativas, sobretudo nos países praticamente dependentes deste recurso, como Angola.
Futuramente, os governos terão que contar com receitas reduzidas da venda do ouro negro. Mais uma razão para acelerar a diversificação da economia em muitos países africanos dependentes do petróleo, dizem analistas independentes.
“Angola não tem razão de depender somente do petróleo. A nossa economia pode ser diversificada se os nossos governantes tiverem vontade”, sublinha Carlos Pimenta na página da DW (Português para África) no Facebook.
Também Thelmo Hunt nota que “a dependência económica do sector petrolífero tem atrofiado outros setores que seriam de grande valia para Angola, como a agricultura industrializada, o sector mineiro e os transportes.”
“O dinheiro que vem das receitas do petróleo deveria ser usado em políticas de investimento, de modo a que a economia do país se diversifique e produza o suficiente, mas não é isso que tem acontecido”, disse em entrevista à DW África o economista angolano António Sapalo, secretário nacional para economia e finanças do Partido da Renovação Social (PRS).
Em 2008 o mercado internacional registou baixas históricas no preço de petróleo, facto que deixou Angola na “corda bamba”. Desde então, porém, as medidas do Governo “não têm sido tomadas com uma visão estratégica e numa base sustentável, mas sim numa base pontual tendo em conta as visões político-partidárias simplesmente visando a manutenção do poder”, explica António Sapalo.
Soluções para reduzir dependência
O que deveria fazer Angola e outros países africanos para não dependerem tanto da exportação de petróleo e de outros recursos naturais? Na semana em que Angola celebrou 39 anos de independência, foram várias as soluções propostas nas redes sociais.
"A agricultura é a alternativa mais viável", defende Cessonio César Mendes na página da DW no Facebook.
Uma opinião também partilhada por Makiesse da Conceição Kejo. “Só que os governos africanos, pela vitaliciedade no poder, depois perdem o controlo e começam a pensar que o país é uma propriedade privada. Ao invés de se preocuparem com o bem-estar das populações, cometem crimes de corrupção, suborno e peculato”, critica.
Abílio Jonas Manusse sugere que também se deve investir "na pecuária e na criação de fábricas para a transformação das matérias-primas que África tanto tem”. Uma solução que, a seu ver, “iria tirar esses países do sufoco.”
No mesmo debate no Facebook, Assis Lucas Ferreira, de Luanda, sublinha que se deve “fazer da educação um bem público”, dando assim a oportunidade aos africanos, e em particular a Angola, de terem acesso fácil e livre às instituições. “Precisa-se de pessoas formadas e não informadas”.
Para Victor Severiano Munjjovo, o problema não é depender das receitas do petróleo. “África deve tentar apartar-se da dependência europeia, fortificar o mercado interno de consumo, aprender a viver só, limar a corrupção e a ganância dos líderes políticos e trabalhar para o povo.”
2015: Um ano difícil para Angola?
O Parlamento angolano aprovou esta quinta-feira (13.11), na generalidade, o Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2015, que prevê um défice de 7,6% do Produto Interno Bruto (PIB).
“O desempenho da produção nacional deverá refletir os efeitos de uma queda importante da produção do petróleo e de um moderado crescimento da produção do setor não petrolífero", afirmou o ministro de Estado da Casa Civil da Presidência da República, Edeltrudes Costa. Luanda garante que a descida do preço do petróleo não irá afetar os investimentos do Estado.
Porém, a Economist Intelligence Unit (EUI) considera que a projeção de crescimento das receitas do petróleo previsto no Orçamento do Estado é demasiado otimista. "Serve mais para promover a imagem externa e atrair investimento externo", de acordo com os peritos da unidade de análise económica da revista britânica The Economist. Lembrando a descida nos preços do petróleo, a EUI alerta que 2015 "deverá ser um ano difícil para Angola".
A descida do preço do petróleo já está a "a causar muitas dores de cabeça a Angola", uma vez que o acesso ao crédito internacional de que o país necessita pode estar em causa, escrevia no início da semana o África Monitor.
Entretanto, o custo de vida em Luanda subiu 0,68% entre setembro e outubro, depois da subida dos combustíveis, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) angolano
Por isso, adivinha-se um “forte aperto” para o próximo ano, avisa a Iniciativa de Estudos sobre Angola, uma organização não-governamental que tem como objetivo aumentar o nível de consciencialização e discussão sobre políticas e a respectiva implementação no país.