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SociedadePortugal

Lisboa: Exposição conta histórias da comunidade africana

3 de maio de 2024

Histórias e memórias da comunidade africana da Grande Lisboa enriquecem a exposição "Álbuns de Família" patente até 30 de novembro no Padrão dos Descobrimentos, na capital portuguesa.

Portugal | Exposição "Álbuns de Família"
Histórias e memórias da comunidade africana da Grande Lisboa enriquecem exposição "Álbuns de Família"Foto: João Carlos/DW

Ana Gomes, imigrante guineense de 65 anos de idade, acorda sempre de madrugada para fazer limpeza no Padrão dos Descobrimentos à beira da foz do rio Tejo, onde trabalha há cinco anos.

"Trabalhava antes noutro sítio, mas depois transferiram-me para aqui para cobrir a baixa de uma pessoa. Depois, ela entrou na reforma e ficaram comigo", conta. 

A foto de Ana Gomes está na exposição "Álbuns de Família" da comunidade africana da Grande Lisboa, inaugurada no passado sábado (27.04), no âmbito das comemorações dos 50 anos da Revolução dos Cravos.

A fotografia foi tirada com um telemóvel pelo filho, Donizete da Silva, que se associou – com o consentimento da mãe – à ideia de reunir no Padrão dos Descobrimentos fotos de família de pessoas anónimas da diáspora africana em Portugal.

"Tirei a foto em casa. A ideia surgiu do pessoal aqui do trabalho", explica Donizete da Silva.

Inocência Mata partilha a curadoria científica da exposição com Filipa VicenteFoto: João Carlos/DW

"Estórias" cruzam-se com história de Portugal

No Padrão dos Descobrimentos estão expostos “álbuns de família” com imagens que portugueses afrodescendentes e africanos registaram de si próprios e das suas comunidades antes e depois de 1975, ano das independências da maioria dos países africanos face à colonização portuguesa. 

São "estórias" e memórias desconhecidas que se cruzam com a história de Portugal, como conta José Baessa de Pina, 46 anos, dinamizador cultural de origem cabo-verdiana, também representado na exposição com fotos suas de família e da comunidade do Bairro das Fontaínhas, na periferia de Lisboa.

"É um bairro construído pela comunidade cabo-verdiana que veio de Cabo Verde e São Tomé e Príncipe nos anos 70. Foram vindo as mulheres e eles, os trabalhadores que moravam em casernas, tiveram que arranjar um local e foram para as Fontaínhas fazer casas de barraca através do ‘djunta mon’ (‘juntar as mãos’; entreajuda)", revelou.

No Portugal do pós-25 de Abril de 1974, a comunidade enfrentou tempos difíceis e de resistência, adianta Pina, que aqui nasceu um ano depois do fim da ditadura salazarista.

"E esta exposição é uma homenagem a estas pessoas que vieram para Portugal e conseguiram ultrapassar vários obstáculos com a falta de políticas públicas que, tanto o Estado português como dos países de onde vieram, não lhes acompanharam. Foram eles que fizeram a sua própria história em Portugal", acrescenta José Baessa de Pina.

Exposição está patente no emblemático Padrão dos Descobrimentos, em LisboaFoto: TOP PHOTO GROUP RF/imago images

Escolha do lugar tem um propósito

As fotografias na exposição em Lisboa têm a ver com o quotidiano das famílias da comunidade africana ao longo destes 50 anos após o 25 de Abril de 1974, como nos dá conta Inocência Mata, que partilha a curadoria científica da exposição com Filipa Vicente.

"A ideia foi precisamente fazer falar uma comunidade de africanos e afrodescendentes, um segmento que é sempre visto como estrangeiro, como imigrante. E o que nós vemos é que grande parte das pessoas aqui representadas é portuguesa. São pessoas que nasceram cá ou que vivem cá há muitos anos, muito mais tempo do que viveram na terra em que nasceram”, diz Inocência Mata.

A exposição no emblemático Padrão dos Descobrimentos tem um propósito, explica à DW África a académica de origem são-tomense.

"Sabemos que este espaço é polémico, mas quisemos trazer essa discussão para este espaço que é um lugar de memória imperial, de memória colonial, para se construir outra narrativa, uma narrativa de uma presença que está cá desde o século XV e que, no caso, está representada nos finais do séculos XIX e princípios do século XX."

A mostra, segundo Inocência Mata, enquadra-se igualmente na celebração da Década Internacional dos Afrodescendentes (2015-2024) proclamada pelas Nações Unidas, sobre a qual, lamenta, “pouco se fez em Portugal”.

A exposição estará também aberta às escolas, para que crianças e jovens tenham oportunidade de aprendizagem sobre uma das facetas do passado colonial português.

À lupa: A luta pela independência e a Revolução dos Cravos

02:47

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