Álvaro Sobrinho não decidia sozinho na concessão de créditos no BESA
19 de dezembro de 2014 O ex-banqueiro angolano Álvaro Sobrinho, escolhido em 2001 por Ricardo Salgado (ex-administrador do BES), para liderar o banco em Luanda, fez esta afirmação na sessão da comissão parlamentar de inquérito (18.12) à gestão do Banco Espírito Santo, dado por falido pelo Banco de Portugal. Os deputados insistiram durante a audição sobre o destino duvidoso de 5, 7 mil milhões de euros de créditos concedidos sem garantias através do BESA.
Álvaro Sobrinho foi a figura central na audição desta quinta-feira (18.12) na Comissão de inquérito em curso à má gestão do Banco Espírito Santo (BES). O ex-presidente executivo do Banco Espírito Santo Angola (BESA) foi confrontado pelos deputados da Assembleia da República portuguesa sobre os créditos concedidos, sem controlo, a empresas e a membros da nomenclatura angolana.O inquérito decorre meses depois da extinção do BESA, confrontado com sérios problemas financeiros causados por créditos mal-parados que somam mais de 7 mil milhões de dólares. O ex-banqueiro, uma das figuras da elite angolana também sob investigação pela justiça portuguesa, disse na comissão que “se o crescimento do crédito mal parado era assim tão grande e tão vago como aparecem nas notícias o que posso dizer sobre essa matéria é que não”.
A decisão era colegial
Álvaro Sobrinho explicou os mecanismos de concessão de crédito pelo BESA, referindo que havia uma metodologia definida e aprovada em sede própria. Fez notar que nunca decidiu sozinho sobre esta matéria. “A decisão era colegial e não unilateral”, precisou. A dúvida dos deputados cingia-se também sobre os 3 mil milhões de dólares de crédito do BES concedidos ao BESA. Pelo que Sobrinho respondeu:
“Esta linha foi feita pelo BES ao BESA em 2008. Foi uma linha que iniciou com cerca de 1,5 mil milhões de dólares e tinha como finalidade a tomada firme de uma obrigação do Fundo de Desenvolvimento Empresarial do Estado angolano que foi colocada ao acionista BES se estava ou não interessada em participar nesta operação. E parte deste dinheiro foi utilizada exatamente para comprar obrigações do Estado com uma maturidade de dez anos".
Sobre o crédito de 1,6 mil milhões de dólares concedidos a cinco sociedades Álvaro Sobrinho afirmou desconhecer a operação. Ao longo da audição, algumas das questões dos deputados para tentar desvendar o paradeiro do dinheiro ficaram sem resposta, segundo o inquirido, por respeito à lei do sigilo bancário em Angola.
“Senhora deputada isto é da soberania de Angola e não vou falar sobre a soberania de Angola. Mas digo que a notícia é falsa. De qualquer maneira sobre clientes de Angola não falo porque estou sujeito ao sigilo bancário”.
Divergências com Ricardo Salgado
Há cerca de uma semana, a Comissão parlamentar também ouviu, entre outros, o ex-presidente do BES, Ricardo Salgado, um dos responsáveis pela crise no Banco Espírito Santo, que afirmou estar de consciência tranquila. Na audição, Álvaro Sobrinho foi um dos principais alvos do ex-banqueiro português por divergências diversas que levaram ao seu afastamento do BESA. Entre outros dados, Ricardo Salgado revelou que o ex-executivo angolano tinha nomeado a cunhada como responsável pela concessão de crédito no BESA.
É com o afastamento de Sobrinho da comissão executiva do BESA, que foram detetados créditos de 5,7 mil milhões de euros sem que fossem identificados os beneficiários ou respetivas garantias. De acordo com a imprensa portuguesa, parte dos créditos terá tido como contraparte empresas ligadas ao ex-banqueiro angolano e familiares.