É oficial: Bouteflika candidata-se a quinto mandato
Reuters | Lusa | AP | AFP | nn
4 de março de 2019
Abdelaziz Bouteflika vai mesmo concorrer a um quinto mandato, apesar dos protestos na Argélia. Uma comitiva do Presidente apresentou a candidatura oficial do argelino de 82 anos na sede do Conselho Constitucional.
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Abdelghani Zaalane, diretor de campanha de Abdelaziz Bouteflika, anunciou oficialmente este domingo (03.03) a recandidatura do Presidente argelino.
Bouteflika promete, no entanto, deixar a Presidência no espaço de um ano, se for reeleito, segundo a televisão local Ennahar.
O chefe de Estado está hospitalizado na Suíça há uma semana. E, numa carta, lida por Zaalane, afirma que a sua recandidatura é uma resposta "aos pedidos dos cidadãos, da classe política e da sociedade civil", satisfazendo "o último dever de servir o nosso país e o nosso povo".
É oficial: Bouteflika candidata-se a quinto mandato
Mas Abdelaziz Bouteflika promete, "logo após a eleição presidencial, avançar com uma conferência nacional inclusiva e independente para debater, desenvolver e adotar reformas políticas, institucionais, económicas e sociais, para formar a base do novo sistema que renovará a Argélia".
Bouteflika diz que pretende organizar um referendo sobre uma nova Constituição e garante que, se for reeleito, convocará imediatamente uma "conferência nacional" para marcar a data e preparar novas eleições presidenciais, em que não se recandidata.
"Prometo não concorrer a essas eleições presidenciais. Essas eleições visam, entre outras coisas, garantir a transição do poder sob condições pacíficas e numa atmosfera de liberdade e transparência. O simpósio nacional determinará a data das eleições", escreveu.
Protestos
Bouteflika foi eleito pela primeira vez há 20 anos. Em 2013, sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e, desde então, deixou de ser visto em público.
O chefe de Estado argelino completou 82 anos no sábado e, segundo a Presidência, tem feito vários "exames médicos de rotina" na Suíça. Não se sabe quando regressa à Argélia.
Na sexta-feira, milhares de manifestantes saíram à rua em Argel e um pouco por todo o país em protesto contra um possível quinto mandato do Presidente. No domingo, voltou a haver manifestações, com centenas de estudantes a pedir o afastamento de Bouteflika. A polícia usou canhões de água para impedir que os manifestantes chegassem à sede do Conselho Constitucional em Argel, onde a candidatura de Bouteflika foi entregue.
As eleições na Argélia estão marcadas para 18 de abril.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.