Rajoelina com a primeira candidatura à eleição presidencial
Eric Topona | ar
8 de agosto de 2018
A primeira volta da eleição presidencial no Madagáscar está prevista para 7 de novembro. O ex-Presidente da transição, Andry Rajoelina, foi o primeiro a entregar o seu "dossier" de candidatura.
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As duas voltas das eleições presidenciais no Madagáscar terão lugar a 7 de novembro e 19 de dezembro, segundo anunciou em finais de junho o primeiro-ministro do país, Christian Ntsay, altura em que foram encerradas várias semanas de especulações sobre as eleições.
Para Ntsay, nomeado em junho e com a missão de conduzir o país sem problemas até as eleições, "a divulgação destas datas é uma maneira de fortalecer o apaziguamento político e levar-nos a uma real eleição que resolva o problema do Madagáscar".
O país, localizado no oceano Índico, foi abalado no final de abril por uma crise aberta entre o Presidente, Hery Rajaonarimampianina, e a oposição.A crise parece ter acalmada com a formação, em meados de junho, de um Governo de consenso, no qual a oposição tem participação.
O Presidente Rajaonarimampianina, eleito em 2013, ainda não anunciou se vai concorrer a um segundo mandato, mas Andry Rajoelina, de 44 anos de idade e chefe do Estado malgaxe de 2009 a 2013, já apresentou oficialmente a sua candidatura.
Recorde-se que Rajoelina, chegou ao poder na sequência de uma revolta do exército que derrubou o então chefe de Estado Marc Ravalomanana, tendo permanecido no poder como Presidente não eleito de uma transição que durou quatro anos. Em seguida Andry Rajoelina cedeu o poder a Hery Rajaonarimampianina, na sequência de uma eleição presidencial onde não conseguiu apresentar-se como candidato devido a pressões da comunidade internacional.
Numa entrevista exclusiva concedida à secção francesa DW África na terça-feira (07.08.) Andry Rajoelina fez o seguinte retrato do país:
"Uma corrupção generalizada, uma inflação não controlada e uma grande insegurança em todo o território margaxe. Face a tudo isso, considerei que é um dever, como cidadão deste país, apresentar uma solução visando a estabilidade e o desenvolvimento do país".
DW África: Mas será que não lamenta ter cedido o poder em 2013?
Andry Rajoelina (AR): O importante para mim é que a paz e a estabilidade reinem no país. Em 2013 não queria que confrontos tivessem lugar no país e por esta razão, com base nos supremos interesses da nação malgaxe, não me apresentei como candidato à eleição presidencial.
"É um dever como malgaxe apresentar uma solução para estabilidade e desenvolvimento do Madagáscar"
DW África: E quais são as suas chances de vir a ser eleito em novembro?
AR: Enquanto antigo edil de Antananarivo (capital do Madagáscar), há uma coisa que nunca irei esquecer. Em 2007, quando fui candidato para dirigir os destinos da capital malgaxe, a população elegeu-me com 70% dos votos e foi um recorde quando analisamos os resultados de todas as eleições municipais que já tiveram lugar nesse país. Sinto-me bem preparado e aconselhado e estou prontos para este embate eleitoral.
DW África: Pensa vencer os outros candidatos já na primeira volta do escrutínio?
AR: Compete à população deste país fazer a escolha. Mas já participei em muitas eleições e conheço muito bem os meus valores.
DW África: E quais são?
AR: A lealdade perante a juventude, para além de outros valores e convicções que visam servir a nação malgaxe e a sua população.
DW África: Na cerimónia na qual anunciou a sua candidatura, repetiu e por várias vezes que Rajoelina mudou. Pode dizer-nos em quê mudou?
AR: Aprendi muito com o passar dos anos. Em primeiro lugar mudei a minha forma de fazer política, a minha forma de ver o futuro de Madagáscar.
DW África: E como responde às pessoas que o consideram como um candidato da França?
AR: Não sou candidato de nenhum país. Trabalho com todas as pessoas, incluindo as grandes potências.
Madagáscar - Pobre ilha rica
A ilha de Madagáscar é famosa pela biodiversidade, fertilidade e riqueza em matérias primas. Mas a perene crise política paralisa a economia e agrava a pobreza da população.
Foto: DW/F.Müller
Recuo económico no país em crise
O país no Oceano Índico é rico em matérias primas, incluindo enormes reservas de titânio, níquel e petróleo no chão e ao largo da costa. Não obstante, uma grande parte da população vive na pobreza. Há quatro anos que uma crise política assola o país, que paralisa também a economia nacional. Os malgaxes vivem na incerteza, no medo e com grandes problemas financeiros.
Foto: DW/F.Müller
Isolado e empobrecido
Sob a politica económica liberal do Presidente Marc Ravalomanana, e graças a investimentos e assistência ao desenvolvimento, a economia malgaxe recuperou um pouco entre 2002 e 2008. Andry Rajoelina, encontra-se no poder desde o seu golpe de Estado em 2009, à frente de um controverso Governo de transição. Os países doadores congelaram a assistência e os preços dos alimentos básicos subiram.
Foto: DW/F.Müller
O dinheiro não chega para uma refeição quente
Nas ruas da capital, Antananarivo, um prato com arroz com um pouco de carne e legumes custa cerca de 500 ariary, o que equivale a 17 cents do euro. O que é muito dinheiro no Madagáscar. Segundo o Banco Mundial, 92% da população vive do equivalente a menos de 1,50 euros por dia. Muitas famílias passam fome.
Foto: DW/F.Müller
Colheitas pobres
Não obstante do cultivo extensivo de arroz, o principal alimento malgaxe também tem que ser importado. Mesmo havendo solos férteis e água abundante. Mas a agricultura não desenvolveu o seu potencial. Apesar de quase 90% da população trabalhar na agricultura, o sector só gera um quarto do Produto Interno Bruto, diz o Banco Mundial.
Foto: DW/F.Müller
Natureza perigosa
Partes da ilha são regularmente assoladas por ciclones, cheias e secas extremas, ameaçando as colheitas. Ainda não existe um sistema eficiente de alerta e protecção. Acresce a invasão de uma praga de gafanhotos desde a primavera de 2012. A produção de arroz arrisca-se a perdas enormes de até 630 000 toneladas por ano, estima a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, FAO.
Foto: DW/F.Müller
Ajuda inicial para agricultores
Desde que começou a crise política e económica em 2009, muitas pessoas procuram o seu ganha pão na agricultura. É frequente não terem a formação necessária, só conhecerem técnicas antiquadas e não terem dinheiro para comprar maquinaria, diz a organização não-governamental CITE. Esta ONG ajuda os jovens agricultores a levarem os seus produtos para o mercado.
Foto: DW/F.Müller
À espera de clientes
A agricultura representa a única esperança também para Jean-Noël und Erick Régis. Por enquanto ainda se esforçam por alimentar a família trabalhando como condutores de riquixás na cidade de Antsirabe, no centro do país. Mas nem todos os dias conseguem pagar a renda equivalente a dois euros para o “pousse-pousse”. Antes da crise tinham 20 clientes nos dias bons, hoje são apenas quatro ou cinco.
Foto: DW/F.Müller
Receio pelos zebus
Para muitas famílias, os zebus são animais de trabalho, alimento e investimento e cruciais à sobrevivência. Mas com a crise aumentou a criminalidade. Quase diariamente os jornais relatam assaltos de ladrões de gado a aldeias, das quais roubam centenas de cabeças. A esta prática deu-se o nome de “dahalo”. Os conflitos com os habitantes e as forças de ordem muitas vezes resultam e mortos e feridos.
Foto: DW/F.Müller
Viver na insegurança
Eliane (atrás, à direita) perdeu o seu irmão num desses assaltos. Os “dahalo” mataram-no, diz. Juntamente com os seus familiares, Eliane colhe algodão num campo no sul seco do Madagáscar. A família vive, sobretudo, do cultivo de mandioca e milho. Mas no ano passado um ciclone destruiu grande parte da colheita. Eliane tem à sua disposição por ano mais ou menos o equivalente a 100 euros.
Foto: DW/F.Müller
Eleições para sair da crise?
Antananarivo, a capital, é o centro político do Madagáscar. Os observadores são unânimes: para que o país se liberte da crise e da pobreza é necessário pôr termo à situação de transição política. Mas as eleições já foram adiadas por várias vezes. De qualquer modo, muitos malgaxes dizem que não importa quem governa o país. Importa ter o que comer no dia seguinte.