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Estado de DireitoMoçambique

Chissale: "É uma cadeia péssima, uma pocilga"

4 de novembro de 2022

Em entrevista exclusiva com a DW, o jornalista moçambicano Arlindo Chissale diz que a sua detenção foi ilegal e uma forma de retaliação por ser membro da oposição política. E denuncia as condições desumanas da detenção.

Foto: Ritzau Scanpix/imago images

O jornalista moçambicano Arlindo Chissale está em liberdade, depois de ter sido detido, na semana passada, na província de Cabo Delgado.

A Procuradoria Distrital acusou Chissale de ser ter deslocado ao distrito para recolher informação para fomentar o terrorismo. Mas, nesta sexta-feira (04.11), o Tribunal Distrital de Balama concedeu liberdade provisória ao jornalista.

DW África: Acaba de ser posto em liberade pelo Tribunal Distrital de Balama. O que se passou?

Arlindo Chissale (AC): O tribunal conseguiu entender que a minha detenção foi ilegal. Não só pelo facto de eu ser estranho no distrito de Bolama, onde chegava pela primeira vez e estava à espera do governador da província. O dono do restaurante denunciou à polícia que estava uma pessoa estranha no restaurante dele. Nas buscas, tudo ilegal, retiveram os meus telefones, fizeram todo o tipo de buscas durante muito tempo, mas só agora é que o tribunal conseguiu entender que foi ilegal.

Eu sempre fui jornalista, mas em Balama, especificamente, não vim fazer jornalismo. Vinha fazer política ativa. Se tudo correr bem, e ainda que se saiba que Balama vai ser vila municipal, nós teremos bons motivos para vir concorrer a Balama. Provavelmente virei reforçar o partido RENAMO. É esse o motivo que me trouxe. Então, a polícia ficou muito desgastada por ser um partido da oposição e ainda mais por ser um jornalista. Tinham dois dados muito deturpados. Eu sempre fui jornalista e tinha a credencial na minha pasta. Ainda voltámos com a polícia, para vir buscá-la à pensão. Eles verificaram, mas não gostaram da presença do jornalista e não gostaram também de ter citado o partido pelo qual eu vim para cá para dar um empurrão.

DW África: Porquê essa detenção? Qual foi a explicação da polícia?

AC: Não deram explicação. Pediram que os acompanhasse. Eram três polícias na minha porta, na porta do quarto número três da pensão, e havia o carro da polícia lá fora da pensão. Levaram-me para a cadeia. É uma cadeia péssima, muito péssima. Não servem uma refeição sequer para nenhum preso. E há cerca de 30 presos a sofrer, porque nem há água potável.

DW África: Essas foram as condições nas quais ficou detido todos esses dias?

AC: Sim, sim. Não há nenhum cobertor. Há só mosquitos, muita formiga durante a noite, ninguém dorme, muitos percevejos. É uma pocilga, mas é a cadeia distrital.

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DW África: Pôde avisar alguém da sua detenção?

AC: Não consegui informar ninguém. Fui proibido de tocar nos telefones durante todos os seis dias.

DW África: Sofreu alguma violência durante a detenção?

AC: Insultos. Muitos insultos: 'Vocês se fazem de jornalistas. Vamos ver quem vos mandou'.

DW África: Na sua opinião, atitudes como estas contra jornalistas prejudicam o combate ao terrorismo em Cabo Delgado?

AC: Eu não queria relacionar isto com o terrorismo, mas a verdade é que são essas palavras que fazem com que os jornalistas não escrevam sobre o terrorismo. Mas eu escrevo e sempre escrevi.

DW África: O que pretende fazer a partir de agora que foi libertado?

AC: Bom, eu tenho que vir com outro pacote, ou um outro papel, com outra visão. Aqui há muita gente a ser torturada e ainda em condições piores que as minhas. Eu vi muita gente a entrar e ser torturada pela polícia. Muitos dormem ao relento. Tenho fotografias, tenho também algumas ilustrações.

DW África: Pretende levar o seu caso à Justiça, por causa dessa detenção ilegal?

AC: Não. É caricato. Não vai funcionar, porque é sistémico.

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