Cresce o receio de propagação do vírus ébola, que desde agosto já matou mais de 1.400 de pessoas na República Democrática do Congo. Países vizinhos estão em alerta, principalmente após a morte de duas pessoas no Uganda.
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Sudão do Sul, Ruanda e Burundi já anunciaram um reforço nas medidas de prevenção nas suas fronteiras. Também a Tanzânia declarou que a "ameaça" está à porta.
No entanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou que, embora a situação seja preocupante, o surto não representa ainda uma emergência global. Ainda assim, o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreysus, chegou segunda-feira (17.06) ao Uganda para se inteirar da resposta que está a ser dada ao surto.
"As hipóteses de propagação ainda existem, por isso viemos aqui para discutir a situação. É necessário continuar a trabalhar para, não só para manter o ébola afastado [do Uganda], mas também para controlar o surto", disse.
Ébola: RDC e países vizinhos em alerta
Em entrevista à DW, o porta-voz da OMS, Tarik Jaserivic garantiu que a organização continuará a fazer todos os esforços "para tentar conter o surto". E voltou a apelar à disponibilização de mais fundos por parte dos doadores para que seja possível combater o surto na RDC ou para a sua eventualpropagação para países como o Uganda.
De acordo com o porta-voz, 45 milhões de euros (50 milhões de dólares) é o valor estimado pela OMS para o combate a esta epidemia. "Esperamos que os doadores intensifiquem o seu trabalho, que é vital, pois todos os ganhos conseguidos até aqui no que toca ao combate à doença podem ser perdidos se não mantivermos a nossa presença", apelou Tarik Jaserivic.
Primeiro caso no Quénia foi falso alarme
No Quénia, uma mulher vinda de Malaba, uma cidade localizada na fronteira ocidental deste país com o Uganda, deu entrada num hospital, na segunda-feira (17.06), com alguns sintomas da doença, mas tudo não passou de um falso alarme no país, que nunca registou qualquer surto de ébola.
Razão pela qual alguns médicos têm manifestado a sua preocupação com a falta de preparação do sistema de saúde do país para um eventual surto. No entanto, a ministra da saúde queniana, Sicília Kariuki, minimizou a ameaça.
"Os sintomas apresentados pela [paciente que deu entrada numa unidade de saúde em Kericho] não correspondem à definição de caso de ébola. No entanto, foram tomadas medidas cautelares, incluindo o isolamento da doente", afirmou a ministra, sublinhando que "não há casos de ébola" e que "o Ministério está a implementar medidas de preparação".
As cicatrizes invisíveis do ébola
O ébola já matou mais de 5 mil pessoas na África Ocidental, mais de metade delas na Libéria. Houve liberianos que perderam a família inteira.
Foto: DW/Julius Kanubah
Ausentes da fotografia
Faltam três pessoas nesta foto de família, diz Felicia Cocker, de 27 anos. O vírus do ébola matou o seu marido e dois dos seus cinco filhos: "A vida tem sido muito dura. Não tenho mais ninguém que me possa ajudar."
Foto: DW/Julius Kanubah
Autoridades falharam
Stephen Morrison perdeu sete irmãos e uma irmã. Ele diz que a culpa do alastramento da doença na Libéria é a falta de informação e os rituais fúnebres tradicionais. "Os meus familiares começaram a morrer depois do falecimento de um idoso", conta. "Na altura, não sabíamos que era ébola. Por todo o lado se negava o surto."
Foto: DW/Julius Kanubah
Um depois do outro
"Eu e três crianças – fomos os únicos a sobreviver", conta Ma-Massa Jakema. Antes da epidemia ela vivia com 13 familiares. O vírus matou a sua irmã mais velha e o seu irmão mais novo, seis sobrinhas e sobrinhos, além de outros parentes afastados. "Morreu tanta gente, é horrível", diz Jakema.
Foto: DW/Julius Kanubah
Futuro incerto
"Não sei como vai ser agora", diz Amy Jakayma. "Primeiro morreu a minha tia, depois o meu marido e os meus filhos. A minha vida está virada do avesso – perdi a família inteira."
Foto: DW/Julius Kanubah
Desespero
Massah S. Massaquoi chora ao lembrar os familiares que morreram infetados com o vírus do ébola. "É difícil viver assim. Eu sobrevivi – fui uma das únicas a sobreviver na minha família mais próxima. Agora estou a viver com o meu avô." Massah perdeu o filho, a mãe e o tio.
Foto: DW/Julius Kanubah
Discriminação
Princess S. Collins, de 11 anos, mora na capital liberiana, Monróvia. Sobreviveu ao ébola mas o vírus roubou-lhe a mãe, o tio e o irmão. Mas agora "os vizinhos começaram a apontar para nós e a chamar-nos de 'doentes com ébola'".
Foto: DW/Julius Kanubah
Ébola também destrói futuros
Mamie Swaray (esq.) tem 15 anos de idade. Na verdade, ela devia estar na escola, mas o tio morreu infetado com o vírus do ébola e, por isso, não tem mais ninguém que lhe possa pagar as propinas escolares. Swaray sobreviveu ao ébola mas agora o seu futuro é incerto.
Foto: DW/Julius Kanubah
"Vontade de Deus"
Oldlady Kamara vive no bairro de Virginia, na zona ocidental de Monróvia. 17 membros da sua família morreram infetados com o vírus do ébola, incluindo o seu marido. "É horrível mas não posso fazer nada contra. É a vontade de Deus", diz Kamara. Ela contraiu ébola mas está muito grata por ter sido tratada num centro de saúde.
Foto: DW/Julius Kanubah
Obrigada aos médicos
Bendu Toure acaba de ter alta do centro de tratamento. O seu corpo conseguiu combater o vírus. Ela contraiu o ébola a partir da sua irmã. Toure cuidou dela até ela morrer. O seu irmão também faleceu. Apesar de tudo, Toure está bastante grata aos médicos: "Estou tão contente por poder sair daqui. Todos os dias tinha de assistir a mortes."