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Morre o eterno candidato

Philipp Sandner
2 de fevereiro de 2017

Fundou o primeiro partido da oposição na RDC, para combater um seu ex-aliado, o déspota Mobutu Sese Seko. Se havia quem o considerasse um oportunista, a popularidade de Tshisekedi entre os adeptos foi enorme até ao fim.

Étienne Tshisekedi
Foto: picture-alliance/dpa/T. Roge

Na República Democrática do Congo (RDC) chamavam-lhe a "esfinge de Limete” – nome do bairro da capital Kinshasa em que tinha a sua sede. Por várias vezes na vida pareceu que o opositor da primeira hora chegara ao fim da sua carreira política, só para encenar mais um regresso às luzes da ribalta.  

O último regresso

Assim aconteceu no Verão de 2016. Tshisekedi, essa altura com 83 anos, deixara para trás havia muito o auge da sua carreira política. Após a derrota que lhe foi infligida por Joseph Kabila nas eleições presidenciais há cinco anos, nada indicava que o ancião com graves problemas de saúde tivesse qualquer hipótese de ganhar a presidência. Mas o regresso à RDC de Tshisekedi após dois anos de convalescença em Bruxelas foi triunfal. À chegada ao aeroporto foi recebido por dezenas de milhares de adeptos. A sua comitiva levou horas para furar a multidão e levar o octogenário a casa.

Foi na sua residência, rodeado por uma mão cheia de membros do seu partido, que Tshisekedi se auto-proclamara presidente em dezembro de 2011. O político veterano marcava assim a sua recusa de reconhecer a reeleição do Presidente Kabila num clima de repressão crescente. Mas excetuando seu partido, a União para a Democracia e Progresso Social (UDPS), os congoleses consideraram o gesto fútil e sinal da idade avançada do opositor profissional. Por isso, em 2016 o seu séquito encenou o regresso com cuidado. No que foi assistido por uma vasta aliança de partidos da oposição, o chamado "rassemblement”, formada para garantir que o Presidente Kabila entregasse o poder no fiinal do ano passado, conforme previsto pela Constituição.

Tshisekedi apelou aos congoleses para resistirem a mais um mandato presidencial de KabilaFoto: Getty Images/AFP/E. Soteras

Combater e negociar

Seguiram-se meses de negociações difíceis e morosas. Quando o segundo mandato de Kabila terminou em 19 de dezembro, sem sequer uma marcação da data das eleições, Tshisekedi apelou aos congoleses para resistirem de forma pacífica ao que considerou ser "um golpe de Estado”. No último minuto, na noite de Ano Novo, o Governo e a oposição assinaram um compromisso. Este prevê eleições no espaço de um ano e, sobretudo, a retirada de Kabila que prometeu não se recandidatar, nem tentar alterar a Constituição para o poder fazer. 

O compromisso foi o último grande êxito de Tshisekedi, estratega exímio em negociações. Com bloqueios periódicos do diálogo, conseguiu levar o Governo a ceder nos pontos mais importantes. O político veterano sabia muito bem qual era o seu peso político. Em entrevista à DW, o analista tanzaniano Jenerali Ulimwengu explica que Tshisekedi "era um opositor histórico do antigo Zaire, e agora da República Democrática do Congo. Emanava dele uma aura que as pessoas procuram num líder político, e que a idade não destrói”.    

Figura dominante da oposição

A influência de Tshisekedi era justamente o produto da sua proximidade do poder. Quando o Congo alcançou a independência da Bélgica em 1960, Tshisekedi fazia parte de um pequeno grupo de intelectuais que queria decidir o futuro do país. Ainda antes de concluir o curso de Direito assumiu a direção da Academia Nacional da Lei e da Administração. O presidente Joseph Mobutu nomeou-o ministro da Justiça em 1968. Seguiram-se mais pastas ministeriais, embaixadas e postos administrativos em empresas do Estado. 

Tshisekedi (à esquerda) virou-se contra o seu aliado, Presidente Mobutu, após 20 anos de estreita colaboraçãoFoto: picture-alliance/dpa/P. Hertzog

Tshisekedi foi um dos colaboradores íntimos do Presidente Mobutu durante duas décadas. Mas depois a rotura foi total. Foi o primeiro intelectual a criticar Mobutu e a exigir reformas numa carta aberta. Em 1982 formou o primeiro partido da oposição, a União para o Progresso Democrático e Social (UDPS), que foi imediatamente interdito. Pressionado pela comunidade internacional, Mobutu acabou por permitir a constituição de uma conferência nacional, incumbida de preparar reformas. Esta nomeou Tshisekedi primeiro-ministro em 1992. Mas as esperanças de uma rápida democratização morreram, quando os soldados de Mobutu, mal pagos, começaram a instigar distúrbios violentos. Mas mesmo após a queda de Mobutu em 1997, quando o Zaire passou a ser a República Democrática do Congo, Tshisekedi manteve-se como figura de proa da oposição política.  

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Fim de uma era

Estava previsto que Tshisekedi assumisse a direção de um conselho de supervisão no período de transição até às próximas eleições. Mas na quarta-feira 1 de janeiro, Thisekedi morreu aos 84 anos num hospital de Bruxelas. O ativista dos direitos humanos, Jean-Claude Katende, disse à DW que para muitos congoleses o partido de Tshisekedi foi uma "escola da democracia”. O porta-voz da coligação da aliança de partidos no Governo, André Alain Atundu, resumiu a importância de Tshisekedi na história do país: "Trata-se do fim de uma era”, disse.  

 

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