O comércio com o continente africano assume cada vez mais importância para a Índia. As ligações que datam do período colonial beneficiam agora as relações. Mas a Índia quer mais além de matérias-primas.
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Distraído com a presença controversa da China em África, o Ocidente ignora que a Índia é hoje o segundo parceiro comercial mais importante daquele continente.
Embora o volume de negócios sino-africanos ainda seja três vezes superior, a Índia avança a passos largos. Segundo dados das Nações Unidas, o comércio entre a Índia e a África cresceu em média anual 17,2% desde 2001.
Algo que espanta até os especialistas, como o politólogo Philipp Gieg da Universidade alemã de Würzburg: "São dimensões incríveis, impensáveis há vinte anos ou trinta anos, quando os antigos poderes coloniais e os Estados Unidos da América dominavam em África".
Ligações históricas
Inicialmente, a Índia concentrou-se nos países da África Austral e Oriental, com os quais mantinha ligações históricas mais fortes. Na África do Sul, por exemplo, vivem mais de um milhão de indianos. Também o Uganda e o Quénia têm grandes populações de descendência indiana.
Os seus antepassados foram enviados para África pelos governantes coloniais britânicos como trabalhadores contratados para as plantações de cana-de-açúcar, na mineração ou na construção ferroviária - muitas vezes em condições brutais e exploratórias.
Hoje, as empresas indianas operam também noutras partes do continente africano, principalmente em países anglófonos e ricos em recursos como o Gana e a Nigéria.
Fome de recursos
A força motriz do rápido crescimento do comércio entre a Índia e a África é a fome de matérias-primas do subcontinente.
"Uma economia em crescimento acelerado precisa de recursos. Há muito que a Índia tem que importar mais energia do que produz, o que levou a que se virasse para África para obter petróleo e outras matérias-primas", lembra Philipp Gieg.
Até hoje, a Índia importa de África sobretudo petróleo, ouro, carvão e outros minerais. Em contrapartida, o cabaz de bens provenientes da Índia inclui essencialmente produtos transformados, como os têxteis, a electrónica e os produtos farmacêuticos. Estará a Índia em posição de fazer concorrência à China?
Os analistas acham que a China leva um avanço muito grande em África, para além de estar mais industrializada e ter um menor índice de pobreza.
Negócios são prioridade
Há similaridades na política africana dos dois países. Por exemplo, ambos não interferem em questões de direitos humanos.
"A Índia diz que não interfere nos assuntos internos de Estados soberanos. O lema é: ‘digam-nos o que precisam e nós vemos se podemos ajudar'”, diz Gareth Price, especialista do Sul da Ásia no instituto de pesquisa londrino Chatham House.
Mas também há diferenças: "Os indianos que investem em África optam por empregar mão-de-obra africana. Pequim tem por hábito exportar trabalhadores chineses para o continente. Essa é uma vantagem grande para a Índia", explica o analista.
Um papel global
O envolvimento indiano em África também tem uma dimensão política: a Índia pretende ser o porta-voz dos países no hemisfério sul. Os seus políticos gostam de lembrar que foram os primeiros a fazer da cooperação Sul-Sul uma prioridade.
Não é por acaso que os dez princípios das relações com o continente africano proclamados pelo primeiro-ministro Narendra Modi enfatizam a luta histórica conjunta de indianos e africanos contra as potências coloniais.
Agora, dizem os indianos, há que juntar forças para criar uma ordem mundial justa e democrática para o terço da humanidade que vive na Índia e em África.
China em África: maldição ou benção?
A China quer mudar a sua imagem: de país explorador das matérias-primas africanas, para agente de desenvolvimento. Fazemos uma viagem pela história das relações sino-africanas.
Foto: AFP/Getty Images
Parceiros igualitários?
A China leva estradas asfaltadas, grandes estádios de futebol e internet de banda larga para África. Ao mesmo tempo, pede ao continente petróleo e outras matéria-primas. A China já é o maior parceiro comercial de África. Até 2020, o país pretende duplicar o volume de negócios para 400 mil milhões de dólares. Os críticos temem que haja apenas um vencedor nestes negócios: a China.
Foto: Getty Images
TAZARA: o primeiro grande projeto
A cooperação sino-africana começou nos anos 50 e 60. Como sinal da fraternidade socialista, a China financiou a construção de uma linha ferroviária que transportava o cobre da Zâmbia para a cidade portuária da Tanzânia, Dar es Salaam. O projeto baseava-se na amizade inter-étnica e no trabalho solidário. A ferrovia chamda TAZARA " Tanzania-Zambia Railway" funciona até aos dias de hoje.
Foto: cc-by-sa-Jon Harald Søby
Chegaram para fazer negócios
Com a estratégia "Go Global", na década de 90, o Governo chinês muda a sua política para África, começando a apoiar empresas do próprio país a fazerem negócios com o continente. O objetivo: proteger os recursos naturais estratégicos e promover o desenvolvimento económico da China. Ou seja, ter África como um parceiro de negócios e mercado para os bens de consumo chineses.
Foto: AP
Críticas do Ocidente
Com a nova política, a China garante para si campos de petróleo e as minas de metais preciosos, não tendo medo de trabalhar com regimes autoritários e corruptos. O país não é bem visto na Europa e nos Estados Unidos. A China só estaria interessada na exploração de recursos naturais, mas não no bem das pessoas, é a crítica do Ocidente.
Foto: picture-alliance/Tong jiang
Infraestruturas como moeda de troca
A China também faz negócios com o Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, procurado pelo Tribunal Penal Internacional por genocídio. O país está a tornar-se o mais importante investidor na indústria de petróleo sudanês. Além disso, a empresa chinesa de petróleo estatal financia a construção da barragem de Merowe, no norte do Sudão.
Foto: picture-alliance/dpa
Oferta de 150 milhões de euros à União Africana
As boas relações com a África são bem pagas pela China. Em 2012, o país financiou a construção da sede da União Africana, em Adis Abeba. "A China vai ajudar os países africanos a ampliar a sua força e independência", disse o chefe da delegação chinesa na cerimónia de abertura.
Foto: Imago
Líder do mercado de telecomunicações
Duas empresas chinesas dominam o mercado africano de telecomunicações: a ZTE e a Huawei. Foi a essas empresas que Governos de todo o continente fizeram as suas grandes encomendas. Na Etiópia, a Huawei e a ZTE constroem uma rede de 3G para todo o país por 1,7 mil milhões de dólares. Na Tanzânia, empresas chinesas instalaram cerca de 10 mil quilómetros de cabos de fibra ótica.
Foto: AFP/Getty Images
Concorrentes desagradáveis
As esperanças de melhores oportunidades em África não atraem apenas as grandes empresas, mas também milhares de cidadãos comuns chineses . Eles abrem pequenas lojas onde vendem produtos chineses baratos: utensílios de cozinha, jóias, dispositivos elétricos. "Muitos comerciantes africanos não estão satisfeitos com a nova concorrência", diz o economista queniano David Owiro.
Foto: DW/J. Jaki
À espera de novos postos de trabalho
Seja no comércio de retalho ou na construção de estradas "os africanos raramente lucram com investimentos chineses. As empresas trazem os seus próprios trabalhadores", diz Owiro. Agora, na África do Sul, onde a China acaba de inaugurar uma fábrica de camiões, isso pode mudar. O Governo sul-africano elogia o projeto como um marco para a industrialização africana e espera novos postos de trabalho.
Foto: Imago
De exportador a agente de desenvolvimento?
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ofereceu dois mil milhões de dólares para um fundo de desenvolvimento para África durante a sua visita ao primeiro-ministro da Etiópia, Hailemariam Desalegn, em maio de 2014. A liderança chinesa quer abrir um novo capítulo nas relações China-África, passando de país explorador das matérias-primas para agente de um desenvolvimento sustentável.
Foto: Reuters
Medo pela reputação
"A China teme pela sua reputação no mundo", diz Sun Yun do centro de pesquisa norte-americano "Brookings". As alegações nos média de que a China só estaria interessada nas matérias-primas de África levaram a esta mudança. O Governo publicou recentemente uma lista dos programas de ajuda ao desenvolvimento, que inclui 30 hospitais, 150 escolas, 105 projetos de energia e água renováveis.
Foto: AFP/Getty Images
O charme chinês
Para promover a sua missão em África, a China lançou uma grande campanha mediática. Os meios de comunicação do Governo para o estrangeiro focam claramente os negócios, África é retratada como o continente próspero. Algo que contrasta com décadas de cobertura negativa dos meios de comunicação ocidentais.