10 mil refugiados serão transferidos da Líbia para a Europa
AFP | AP | Lusa | tms
24 de dezembro de 2017
Medida anunciada pelo Governo italiano pretende amenizar situação "desumana" vivida por milhares de pessoas em campos de refugiados e centros de detenção na Líbia.
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Pelo menos 10 mil pessoas retidas em campos de refugiados e centros de detenção na Líbia devem ser transferidas para a Europa em 2018, anunciou o Governo italiano neste domingo (24.12).
A medida faz parte de uma tentativa dos países da União Europeia de amenizar a deterioração das condições na Líbia, onde milhares de pessoas estão presas em condições desumanas.
"Em 2018, pelo menos 10 mil refugiados poderão migrar para a Europa sem riscos, através de corredores humanitários", disse o ministro italiano do Interior, Marco Minniti, em entrevista ao jornal La Repubblica, citado pela agência de notícias AFP.
O anúncio vem na sequência da chegada de um grupo de 162 refugiados a Roma, na passada sexta-feira (22.12). Eles são oriundos da Eritreia, Etiópia e Somália, e estavam em situação de "vulnerabilidade" na Líbia quando foram levados para a Itália num avião militar.
O grupo inclui mães solteiras, crianças não acompanhadas e pessoas com deficiência, e foi a primeira vez que os refugiados e migrantes foram transferidos diretamente para a Europa pela agência das Nações Unidas para os refugiados (ACNUR).
Cerca de 400 mil migrantes estão na Líbia, incluindo pelo menos 36 mil crianças, disse o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM) no início deste mês.
Em 2018, a OIM pretende repatriar 30 mil migrantes para seus países de origem como parte de um programa de retorno voluntário. Aproximadamente 15 mil foram repatriados este ano.
"Com a ajuda das autoridades líbias, construímos um novo modelo de gestão no outro lado do Mediterrâneo", disse o Minniti.
Crise política
A crise política na Líbia reforça ainda mais o quadro de instabilidade do país. Entretanto, durante um encontro com o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Angelino Alfano, na capital, Trípoli, o primeiro-ministro líbio, Fayez Serraj, afirmou, no sábado, que a realização de eleições pode resolver a crise política.
Fayez Serraj indicou que a Comissão Eleitoral da Líbia iniciou o registo de eleitores e os preparativos para realizar eleições no próximo ano, depois da aprovação da lei eleitoral e da votação de uma Constituição para o país, informou o gabinete do primeiro-ministro citado pela agência de notícias chinesa Xinhua.
No entanto, a recusa de determinadas partes no processo político "complica o cenário" que "requer posições firmes por parte da comunidade internacional", sublinhou Serraj.
Itália quer enviar Exército ao Níger
Além de ajudar a gerenciar a crise dos refugiados no norte africano, a Itália pretende em 2018 enviar tropas ao Níger, com objetivo de combater o tráfico de pessoas e o terrorismo.
A medida foi defendida pelo primeiro-ministro do país, Paolo Gentiloni, que deverá apresentar a proposta ao Parlamento em breve.
Segundo Gentiloni, a Itália está concentrando "atenções e energias sobre as ameaças decorrentes do tráfico de seres humanos e do terrorismo que vem se consolidando nos últimos anos no Sahel, em África".
Em novembro, um mercado de escravos na Líbia doi denunciado pela rede de notícias CNN. Entre as vítimas, refugiados de diversos países africanos, especialmente da África Subsaariana.
Milhares de migrantes atravessam Níger rumo à Europa
São jovens oriundos da África Ocidental e fazem tudo para chegar à Europa. Estão mesmo dispostos a arriscar a vida, atravessando o deserto, rumo ao Mediterrâneo. Mas nem todos são bem sucedidos.
Foto: DW/A. Cascais
Apoio aos "menos bem sucedidos"
Em Niamey existe um centro de acolhimento da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Aqui são acolhidos os jovens "revenants", que não conseguiram atravessar o deserto e se veem obrigados a regressar aos seus países de origem. A OIM, que faz parte do sistema das Nações Unidas, dá-lhes abrigo provisório, alimentação e apoio na obtenção de passaportes e outros documentos.
Foto: DW/
À espera do regresso a casa
Os jovens que procuram apoio no centro da OIM vêm dos mais diferentes países: Guiné-Conacri, Mali, Senegal, Gâmbia ou Guiné-Bissau, movidos sobretudo por objetivos económicos. Muitos tiraram cursos superiores, mas não arranjam trabalho. Muitas famílias apostam na emigração de pelo menos um filho. Caso esse filho seja bem sucedido poderá eventualmente apoiar economicamente o resto da família.
Foto: DW/A. Cascais
Frustrados por terem falhado a Europa
Muitos investiram todas as suas economias, pediram dinheiro a familiares e perderam tudo. Agora esperam pelo regresso aos seus países com a sensação de terem sofrido grandes derrotas pessoais. Os assistentes sociais falam de casos em que os jovens não se atrevem a voltar ao seio das suas famílias, "por sentirem vergonha". Precisam de apoio psicológico, mas esse apoio não existe.
Foto: DW/A. Cascais
Otimismo apesar das derrotas
Alguns dos migrantes sofrem lesões e contraem doenças durante a travessia do deserto, mas mesmo assim não perdem o ânimo. Em muitos casos, os jovens tentam várias vezes, ao longo da vida, atingir a terra prometida: a Europa. Muitos nunca o conseguem, mas não perdem o otimismo. Em 2016, a OIM prestou apoio a mais de 6 mil "revenants" - migrantes que não foram bem sucedidos no Níger.
Foto: DW/A. Cascais
Espancado na Líbia
Dumbya Mamadou, de 26 anos de idade, oriundo do Senegal, conseguiu atingir a Líbia, depois de uma "odisseia de 5 dias e 5 noites" pelo deserto do Níger. Mas na Líbia foi maltratado. "Os líbios apontaram-me armas e espancaram-me, não têm respeito pelo ser humano", afirma o jovem. Dumbya volta ao seu país de origem com um sentimento de derrota: "Queria estudar na Europa, agora não sei o que fazer".
Foto: DW/
Roubado no Burkina Faso
Mamadou Barry, de 21 anos, oriundo da Guiné-Conacri, tinha um sonho: aplicar em França os seus conhecimentos de marketing e os seus talentos musicais. Mas a viagem rumo à Europa correu-lhe mal. "Fui roubado no Burkina Faso, o primeiro país pelo qual passei", conta. Mesmo assim, Mamadou aprendeu uma grande lição para a vida: "coisas que nunca teria aprendido se nunca tivesse saído de Conacri".
Foto: DW/A. Cascais
Rap contra a frustração
Mamadou Barry tenta digerir as suas derrotas e decepções através da música. Há três anos que o jovem canta e interpreta temas de rap e hiphop de sua autoria. O seu último tema foi escrito em Niamey, capital do Níger, e tem a seguinte letra: "A migração arrasou-me / e ninguém me pode consolar / O Mar Mediterrâneo já matou muitos / e nós cá continuamos: sem comida, sem cama, sem saúde".
Foto: DW/
Central de autocarros de Niamey: uma placa giratória
É da estação de autocarros de Niamey que partem diariamente centenas de furgonetas, muitas delas repletas de jovens migrantes, em direção ao norte. Os migrantes tornaram-se um fator relevante para a economia do Níger. Há muita gente que ganha a sua vida prestando diversos serviços aos migrantes: viagens pelo deserto, alimentação e mesmo cuidados médicos.
Foto: DW/A. Cascais
Mais migrantes tentam atravessar deserto do Níger
O número de migrantes que viajam através dos vastos territórios desérticos do Níger para chegar ao norte da África e à Europa não pára de aumentar, tendo alcançado os 200 mil em 2016, segundo estimativas do escritório da Organização Internacional para as Migrações. Outras fontes falam de 10 mil migrantes que atravessam o Níger por semana. A situacão geográfica do Níger é o fator determinante.
Foto: DW/A. Cascais
Agadez, o "olho da agulha"
Agadez, cidade desértica no Níger, é um dos principais pontos de trânsito no Saara para os imigrantes em fuga de nações empobrecidas do oeste da África. As "máfias" do tráfico humano têm beneficiado do caos na Líbia para transportar dezenas de milhares de pessoas para o continente europeu em embarcações precárias. Os migrantes muitas vezes sofrem abusos dos passadores.