100 anos do "Mein Kampf" – As ideias continuam a ressoar
16 de julho de 2025
Fotos, memes, suásticas. Slogans anti-semitas, racistas, ideólogos da conspiração, anti-democratas e apoiantes de Hitler estão a espalhar o seu veneno ideológico por todo o lado. Na Alemanha, na Europa, nos EUA, na América Latina, no Médio Oriente, na Índia.
O ditador alemão morreu há mais de oitenta anos, mas ainda hoje é possível fazer bons negócios com o legado que deixou. As livrarias de antiquário de todo o mundo ganham dinheiro com edições antigas do livro "Mein Kampf”. Uma edição alemã custa cerca de 250 euros, a versão espanhola mais de 300 euros e a edição inglesa pula para os 600 euros em portais online.
Atualmente, o livro, de dois volumes, é considerado o programa em queAdolf Hitler expôs a sua visão fanática do mundo, o seu antissemitismo brutal, e o desprezo pela democracia e pela diversidade social - oito anos antes de chegar ao poder em 1933.
Em "Mein Kampf”, elevou os alemães ao estatuto de raça superior. E muito antes do início da Segunda Guerra Mundial, sonhava com a "germanização” da Europa de Leste e a expulsão violenta de milhões de pessoas.
Em entrevista à DW, o historiador austríaco Othmar Plöckinger explica que a batalha de Hitler está enraizado no título da obra: "O motivo da batalha já está no título, e todo o racismo está de facto contido nele, ou seja, o mais forte prevalece, a raça mais forte prevalece".
Mas também nas batalhas individuais, diz, "na luta por posições, por cargos, prevalece quem tem mais força de vontade, quem não tem escrúpulos, quem é de uma raça melhor ou tem melhores capacidades no sentido mais lato."
O "golpista" que era apreciado
Quando o livro foi publicado, a 18 de julho de 1925, foi tudo menos uma sensação. Hitler era um golpista que tinha acabado de passar mais de um ano na prisão por alta traição. O seu movimento nacional-socialista era pequeno e sem grande influência política na Alemanha e na Áustria. Hitler estava à beira da extinção política.
Na altura, havia muitos panfletos nacionalistas e memórias de prisão no mercado livreiro. O livro de Hitler também não era muito original - em termos de conteúdo, foi uma desilusão mesmo para muitos apoiantes, explica Othmar Plöckinger.
"Há uma passagem famosa do Deutsche Zeitung que também irritou muito Hitler. Onde está escrito: «Estamos na luta pela defesa nacional há 40 anos e agora aparece um jovem golpista que nos quer explicar o que é o pensamento político». Há comentários positivos, as pessoas respeitam o facto de ele ser autodidata, de ter aprendido tudo sozinho. Mas, do ponto de vista ideológico, ninguém afirma que Hitler trouxe algo de novo para a discussão", recorda.
Nas eleições para o Reichstag, em 1933, mais de 17 milhões de alemães votaram em Adolf Hitler e no seu Partido Nacional Socialista do Trabalho Alemão.
O que se seguiu foi uma guerra desencadeada na Europa e o Holocausto, o assassínio em massa industrializado de judeus europeus - sem precedentes na história da humanidade. O Estado nazi e os seus apoiantes combateram com crueldade todos aqueles que declaravam ser inimigos do suposto povo alemão.
Nunca mais?
Com o suicídio de Hitler a 30 de abril de 1945 e o fim da Segunda Guerra Mundial oito dias depois, o seu sistema de governo chegou ao fim. Desde então, os alemães prometeram: "Nunca mais!”
Passados tantos anos, a promessa mantém-se? Em entrevista à DW, a historiadora britânica Lisa Pine, têm algumas dúvidas...
"Nos tempos atuais, em que o antissemitismo voltou a erguer a sua feia cabeça e a subir à superfície - apesar das declarações de "Nie wieder” ("nunca mais”) depois de 1945 - o ódio continua presente e a linguagem tóxica, lamentável e vergonhosamente, parece fazer lembrar muito o que Hitler escreveu há um século.
Cerca de 100 anos depois de Adolf Hitler ter publicado "Mein Kampf”, muitos tabus em relação ao seu ódio desumano voltaram a cair. O historiador Matthew Feldmann, da Universidade de Tesside, no Reino Unido, também observou este facto. Num ensaio, descreve a destituição social e cultural da extrema-direita como uma "mudança dramática". Uma das principais razões para este facto são as redes sociais.
Seriam perfeitamente adequados à dupla estratégia da extrema-direita, que Adolf Hitler e o seu movimento fascista também utilizaram: quebrar repetidamente tabus sociais com mensagens radicais, para depois se apresentarem como burgueses e conciliadores noutros locais.