É o pior ataque às forças de segurança no país no espaço de um ano, segundo o exército. Autoridades malianas suspeitam que ataque em Tombuctu é da responsabilidade de extremistas islâmicos.
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As autoridades do norte do Mali informaram que pelo menos 14 pessoas morreram depois de um ataque a um acampamento militar que suspeitam ser da responsabilidade de extremistas islâmicos. O ataque ocorreu este sábado (27.01) na região de Tombuctu, perto da localidade de Soumpi. As Forças Armadas falam numa ação de "terrorismo”.
"As Forças Armadas foram atacadas ao início da manhã em Soumpi. As Forças Armadas lamentam 14 mortos, 18 feridos e danos materiais”, diz o Exército na sua página no Facebook.
Citado pela agência de notícias Associated Press, o porta-voz do exército Diarran Kone confirmou o ataque na região, adiantando que os corpos de 17 atacantes permanecem no local, e garantiu que o acampamento está novamente sob o controlo dos militares.
Presidente cancela participação na cimeira da UA
O ataque ao campo de Soumpi tem lugar dois dias após a morte de 26 civis, incluindo mulheres e crianças, na explosão de uma mina em Boni, no centro do Mali, segundo um relatório das Nações Unidas.
O presidente maliano, Ibrahim Boubacar Keita, disse na rede social Twitter que cancelou a sua viagem a Addis Abeba, este sábado, para participar na cimeira da União Africana. O chefe de Estado anunciou ainda que vai deslocar-se a Boni ainda hoje.
O Conselho de Segurança da ONU condenou "veementemente o ataque terrorista bárbaro e cobarde", referindo-se ao incidente de quinta-feira.
O norte do Mali era controlado por vários grupos extremistas islâmicos até à realização de uma operação militar liderada pela França, há cinco anos. Os extremistas dispersaram-se, mas continuaram a atacar regularmente instalações militares e elementos das Nações Unidas.
Em junho de 2015, o Governo maliano assinou um acordo de paz com coligações de grupos armados. Mas áreas inteiras do país ainda estão fora do controlo das forças malianas e estrangeiras e são frequentemente alvo de ataques, apesar da assinatura deste texto que visava isolar os radicais islâmicos, mas cuja aplicação acumula atrasos.
Na quarta-feira, o Conselho de Segurança da ONU instou unanimemente os signatários do acordo de paz de 2015 a revitalizar o pedido, sob pena de sanções até o final de março. Desde 2015, os ataques alastraram-se para o centro e sul do Mali e já atingiram os países vizinhos, nomeadamente Burkina Faso e Níger.
Diante da deterioração da situação nas fronteiras destes três países, o G5 Sahel reativou em 2017, com o apoio da França, o seu projeto conjunto de combate ao extremismo islâmico, inicialmente lançado em novembro de 2015. Além do Mali, o G5 Sahel inclui a Mauritânia, o Níger, o Chade e o Burkina Faso.
Conservar os manuscritos de Tombuctu
A invasão islamita no norte do Mali pôs em risco de destruição milhares de documentos históricos. Estes foram salvos por Abdel Kader Haidara, feito pelo qual a Alemanha lhe outorgou o Prémio de África na edição de 2014.
Foto: DW/P. Breu
Tesouros históricos
Os manuscritos de Tombuctu são documentos históricos sem preço, que relatam a busca pelo conhecimento no mundo islâmico há muitos séculos. Tombuctu foi, em tempos, o centro islâmico da pesquisa e erudição em África.
Foto: DW/P. Breu
Contrabandeados em caixas de chumbo
Quando os islamitas começaram a destruir monumentos no norte do Mali em 2012, um grupo de cidadãos consternados transportou clandestinamente centenas de milhares de manuscritos de Tombuctu para a capital maliana, Bamako, no sul do país. Aqui foram depositados num edifício de residências, para aguardar a restauração e digitalização.
Foto: DW/P. Breu
O salvador dos manuscritos
Abdel Kader Haidara organizou a operação de resgate. O proprietário de uma biblioteca não só se preocupou em salvar os seus próprios manuscritos, mas também todos os documentos históricos de Tombuctu em risco de destruição.
Foto: DW/P. Breu
Nasce uma biblioteca digital
Os manuscritos estão agora a ser digitalizados na biblioteca de Bamako. Cada página é fotografada individualmente. A imagem é controlada e depois catalogada num arquivo central. O gigante da internet, Google, já manifestou interesse na coleção.
Foto: DW/P. Breu
Acesso geral aos manuscritos
A digitalização tem dois objetivos: preservar os manuscritos para a posteridade, caso os originais não resistam à humidade e ao calor de Bamako. E garantir o acesso a todos os interessados. Antes do conflito armado no norte e do resgate dos documentos não existia qualquer plano para os digitalizar.
Foto: DW/P. Breu
Caixas feitas à medida
Depois de serem digitalizados, os manuscritos são colocados em caixas de cartão isentas de ácidos. Aqui podem ser guardados para a posteridade. Uma vez que os manuscritos não têm todos o mesmo tamanho, as caixas tiveram que ser produzidas em trabalho manual.
Foto: DW/P. Breu
Uma biblioteca vazia
Na Biblioteca Comemorativa de Mamma Haidara, em Tombuctu, não há um único livro. E não é certo que a biblioteca volte a albergar documentos históricos no futuro. Muitos responsáveis acreditam que os documentos estão a salvo em Bamako. Mas também há quem receie pela identidade histórico-cultural de Tombuctu, caso os manuscritos não regressem a casa.
Foto: DW/P. Breu
Biblioteca em ruínas
O Instituto Ahmed Baba Institute foi criado com capitais da Fundação Aga Khan, África do Sul e Arábia Saudita. Para além de albergar a biblioteca, também tinha equipamento para a digitalização e restauração. Hoje, o instituto está vazio e dilapidado.
Foto: DW/P. Breu
Monumento aos manuscritos perdidos
Quando chegaram a Tombuctu, os islamitas deitaram fogo a muitos manuscritos no pátio do Instituto Ahmed Baba. Pretendiam assim demonstrar o seu poder ao ocidente e à UNESCO. Cerca de 4000 manuscritos foram destruídos. Os restos queimados servem hoje de memorial ao património perdido.
Foto: DW/P. Breu
Tombuctu vai cair na insignificância?
Quando Tombuctu perdeu a sua importância económica no século XX, descobriu o turismo como fonte de receitas alternativa. Mas o conflito de 2012 espantou os turistas, pelo que Tombuctu corre agora o perigo de perder também a sua relevância cultural, tanto mais que já não tem os manuscritos. E ninguém sabe se eles vão regressar.
Foto: DW/P. Breu
Sobram alguns manuscritos
Ainda existem algumas bibliotecas privadas. Mas em Timbuktu já é considerada uma biblioteca uma dúzia de páginas que cabem numa pele de carneiro. Este habitante de Timbuktu herdou alguns manuscritos do seu avô. É o que possui de mais valioso.
Foto: DW/P. Breu
Um futuro incerto
A situação política no Mali é tensa, e o exército maliano é demasiado fraco para garantir a estabilidade e segurança. Muitos habitantes de Tombuctu que fugiram da cidade optaram por não regressar. Eles não confiam na paz precária e a sua cidade enfrenta um futuro incerto.