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DesastresLíbia

2 mil mortos e 10 mil desaparecidos em inundações na Líbia

Lusa | DW (Deutsche Welle) | mjp
12 de setembro de 2023

O número de desaparecidos nas inundações na Líbia ronda as 10 mil pessoas, enquanto os mortos já ultrapassam os 2 mil, avança a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.

Foto: Libyan government/AP Photo/picture alliance

"Não temos um balanço definitivo" sobre o número de mortos, mas "o número de desaparecidos ronda os 10 mil", afirmou o responsável da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV) Tamer Ramadan, em conferência de imprensa realizada em Genebra, na Suíça, esta terça-feira (12.09).

"As necessidades humanitárias excedem em muito as capacidades do Crescente Vermelho Líbio e até mesmo as capacidades do Governo", explicou Ramadan, que falou em direto a partir de Tunes.

Na rede social X, o responsável lançou o alerta: "A Líbia está a enfrentar uma catástrofe devastadora em grande escala, os esforços são enormes, mas os desafios e as necessidades são muito maiores do que os esforços atuais podem fazer. Apoio de todos os atores internacionais para a Líbia e o povo líbio é agora absolutamente necessário".

A tempestade Daniel atingiu o leste da Líbia na tarde de domingo, nomeadamente as cidades costeiras de Jabal al-Akhdar (nordeste) e Benghazi, onde foi declarado recolher obrigatório e as escolas foram fechadas.

700 pesssoas já foram sepultadas

Também esta quinta-feira, o ministro da Saúde do Governo do leste da Líbia afirmou que já foram sepultados 700 mortos na cidade de Derna na sequência das inundações, mas admitiu que o número deverá aumentar muito mais.

Othman Abduljaleel, que está hoje a visitar Derna, adiantou a uma estação de televisão local que os hospitais da cidade ainda estão cheios de corpos.

A tempestade mediterrânica Daniel causou inundações devastadoras em muitas cidades no leste da Líbia na noite de domingo, mas a destruição foi pior em Derna, onde bairros inteiros desapareceram.

As equipas de resgate ainda estão em plena atividade no leste da Líbia e já recuperaram centenas de cadáveres dos escombros daquela cidade costeira, sendo que as agências humanitárias estimam que, só em Derna, morreram cerca de 2.000 pessoas.

Carros arrastados pelas águas na praia, em DernaFoto: Libyan government/AP Photo/picture alliance

Entretanto, o primeiro-ministro do Governo do leste da Líbia, Ossama Hamad, disse que muitos dos desaparecidos terão sido levados pelas águas depois de duas barragens terem ruído na segunda-feira, libertando um total de 33 milhões de metros cúbicos de água.

Apelo à comunidade internacional

As autoridades líbias apelaram hoje à entrega de ajuda humanitária "o mais rapidamente possível" pela comunidade internacional face às inundações.

Musa al Koni, um dos vice-presidentes do Conselho Presidencial Líbio, com sede na capital, Trípoli, sublinhou que as autoridades "querem que a ajuda chegue ao máximo de pessoas e o mais rapidamente possível", segundo a agência de notícias estatal LANA.

"Pedimos ajuda a todos os países que sabemos que têm experiência em trabalhos de resgate", disse, antes de revelar que Espanha, Itália e Canadá "manifestaram a sua disponibilidade para apoiar as operações de resgate" no leste do país.

O alto representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, lamentou hoje os danos causados pelo ciclone Daniel e pelas chuvas torrenciais na Líbia e disse que a UE está pronta para ajudar o país.

"Estou entristecido com as imagens de devastação na Líbia, devastada por condições climáticas extremas que causaram a trágica perda de muitas vidas. A UE está a acompanhar de perto a situação e está pronta para ajudar ", disse Borrell numa publicação na sua conta na rede social X.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, apresentou as suas condolências às vítimas, frisando a gravidade da situação. "Esta,os em contacto com a ONU e parceiros sobre possíveis apoios", escreveu, na mesma rede social.

A Turquia já enviou aviões com funcionários para os trabalhos de resgate no país e os Emirados Árabes Unidos prometeram fazer o mesmo.

Alerta máximo

O serviço de evacuação médica de ambulância aérea da Líbia anunciou a abertura de uma ponte aérea entre Trípoli e a região oriental para transportar pessoas gravemente feridas, no meio do caos que se vive nalgumas cidades do leste do país devido às graves inundações, que no caso de Derna destruíram de duas barragens.

A Organização Internacional para as Migrações (OIM) especificou, em comunicado, que mais de 2.000 pessoas residentes em Benghazi foram afetadas pelas chuvas e estão agora nas escolas da cidade, tendo as inundações obrígado à retirada de pacientes do Centro Médico Al Baida. 

"A tempestade causou danos significativos em infraestruturas, incluindo a rede rodoviária, afetou a rede de telecomunicações e provocou a deslocação de pelo menos 410 famílias, cerca de 2.050 pessoas, e 35 migrantes", detalhou a organização.

Descrita pelos especialistas como um "fenómeno extremo em termos da quantidade de água que choveu", a tempestade Daniel já provocou também pelo menos 27 mortes na Grécia, Turquia e Bulgária.

Autoridades e organizações ainda contabilizam danosFoto: Anadolu Agency/picture alliance

O leste da Líbia abriga os principais campos e terminais de petróleo. A Companhia Nacional de Petróleo (NOC) declarou "estado de alerta máximo" e "voos suspensos" entre locais de produção onde a atividade foi drasticamente reduzida.

Benghazi, a quarta maior cidade do país, com quase 120 mil habitantes, está atualmente isolada por terra após a destruição das suas estradas e pontes devido às chuvas torrenciais, estando também sem eletricidade e sem comunicações. Duas das suas barragens ruíram na segunda-feira, libertando um total de 33 milhões de metros cúbicos de água e deixando atrás de si áreas residenciais inteiras, pelo que as autoridades locais criaram um hospital de campanha.

Incerteza num país dividido

A Líbia está, há mais de uma década, dividida entreduas administrações rivais: uma no leste e outra no oeste, cada uma apoiada por diferentes milícias e governos estrangeiros.

A parte ocidental é gerida por um Governo internacionalmente reconhecido, em Trípoli, enquanto o leste é controlado por uma administração separada.

O conflito deixou o país do Norte de África, rico em petróleo, em pleno caos, com infraestruturas desintegradas e inadequadas.

A cidade portuária oriental de Derna esteve sob o controlo de extremistas islâmicos nos anos que se seguiram à destituição de Muahamar Kadhafi.

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