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20 perguntas que sempre quis fazer sobre a Covid-19

DW (Deutsche Welle) | mjp
2 de abril de 2020

Tentamos esclarecer as dúvidas mais comuns nas redes sociais sobre a pandemia da Covid-19 e o novo coronavírus. 

Foto: picture-alliance/AP/NIAID-RML

Desde os sintomas da doença a uma potencial vacina, passando pelos "cabelos bíblicos" que curam a Covid-19 e as taxas de mortalidade: todos os dias surgem novas questões sobre o novo coronavírus. Já há quase um milhão de pessoas infetadas em todo o mundo e é essencial esclarecer as dúvidas para nos protegermos de forma correta.

A DW África responde às perguntas mais frequentes que vão surgindo nas redes sociais sobre a pandemia.

1. Porque é que a doença se chama Covid-19?

O acrónimo Covid-19, atribuído pela Organização Mundial de Saúde, deriva da junção das palavras Corona - Vírus - Doença e do ano em que surgiu - 2019.

2. O coronavírus já existia há algum tempo ou é uma epidemia nova?

Os coronavírus são uma grande família de vírus que pode afetar animais e humanos. No passado, vimos dois deles causarem as epidemias de SARS (Síndrome respiratória aguda grave) e MERS (Síndrome respiratória do Médio Oriente). O novo coronavírus - SARS-CoV-2 - e a Covid-19, doença causada pelo mesmo, eram desconhecidos da comunidade internacional até ao início do surto, em dezembro de 2019, em Wuhan, na China. 

3. Como distinguir a gripe comum da Covid-19?

Os sintomas da Covid-19 podem ser semelhantes aos de uma gripe comum e essa é uma das grandes dificuldades no combate à propagação do novo coronavírus, aliada ao facto de muitos infetados serem assintomáticos. E, quando se manifestam, os sintomas não são iguais para todos: incluem geralmente febre e tosse seca, mas também podem passar por dores musculares, fadiga, garganta irritada, falta de ar e dor de cabeça. Expetoração, corrimento nasal e diarreia são sintomas menos comuns. Já espirrar é um sintoma atípico para o novo coronavírus.

Dor de garganta e corrimento nasal são normalmente sinais de uma infeção das vias respiratórias superiores - o mais provável é que sejam sintomas de constipação ou gripe.

Por sua vez, o novo coronavírus afeta geralmente as vias respiratórias inferiores: a maioria dos infetados apresenta tosse seca, falta de ar ou pneumonia e, por vezes, garganta inflamada.

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Se apresentar alguns destes sintomas - febre alta e persistente, tosse e dificuldades respiratórias - e tiver estado em contacto com uma pessoa infetada ou tiver regressado recentemente de uma área afetada, deve procurar aconselhamento médico.

4. Quanto tempo demoram os sintomas a aparecer e quanto tempo duram?

Depois de contrair o vírus, os sintomas podem aparecer entre 2 a 14 dias - o chamado período de incubação. Depois de confirmada a infeção, o tempo que esses sintomas duram depende da gravidade do caso. Nas pessoas em que os sintomas são mais leves, o período apontado pelas autoridades para recuperar da Covid-19 é de cerca de duas semanas, embora um paciente habitualmente saudável possa ultrapassar a doença em apenas alguns dias. Nos casos mais graves, em que se desenvolvem infeções respiratórias como a pneumonia, a doença pode durar várias semanas e os pacientes devem ser hospitalizados para receberem o devido tratamento. 

5. Há cura para a Covid-19 ou vacina contra o novo coronavírus?

Infelizmente, ainda não há um tratamento específico para a doença causada pelo novo coronavírus. A quem apresenta sintomas leves, recomenda-se que fique em casa até recuperar, descansando, fazendo uma boa alimentação e bebendo muitos líquidos. Nos hospitais, para tratar os sintomas mais agudos, os profissionais de saúde têm vindo a providenciar cuidados semelhantes aos recomendados para tratar a gripe e doenças respiratórias. Nos casos mais graves, em que os pacientes apresentam infeções agudas das vias respiratórias, como a pneumonia, pode ser necessário o internamento hospitalar, incluindo nas unidades de cuidados intensivos, com recurso a ventiladores para auxiliar a respiração.

Também não há ainda uma vacina contra o novo coronavírus. Cientistas em todo o mundo estão a investigar possíveis vacinas e medicamentos e já decorrem testes clínicos, mas não se sabe quando é que estes instrumentos estarão disponíveis. Na Alemanha, uma empresa de biotecnologia admite que os resultados só deverão chegar dentro de alguns meses ou mesmo um ano. Pode ler mais aqui.

6. Ouvi falar de pessoas curadas com cloroquina. Confirma-se?

Antes de mais, é importante salientar que a comunidade médica internacional desaconselha de forma veemente a automedicação! Posto isto, a cloroquina, geralmente usada para combater a malária, tem estado a ser utilizada no tratamento de pessoas infetadas em hospitais de vários países, embora não haja ainda consenso científico sobre a eficácia da sua administração. A cloroquina é uma das drogas selecionadas para um estudo sob a égide da Organização Mundial da Saúde (OMS) para encontrar um tratamento específico para a Covid-19. Entretanto, vários especialistas, como o diretor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical em Portugal deixam o alerta: a cloroquina não previne infeções pelo novo coronavírus, embora possa ajudar a conter o vírus em doentes com Covid-19. "O nosso conselho é que as pessoas não utilizem a cloroquina profilaticamente, porque não vai funcionar. A cloroquina só vai começar a funcionar a partir do momento em que a pessoa estiver infetada e vai ajudar a diminuir a replicação do vírus ao nível do pulmão", explicou Filomeno Fortes. Em entrevista à agência Lusa, o médico angolano disse ainda que não há qualquer vantagem em começar a tomar este medicamento antimalárico sem prescrição médica e de forma preventiva.

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7. Dizem que o vírus é de contágio fácil, mas não é letal. É verdade?

A taxa de mortalidade pode ser baixa, cerca de 2% dos casos confirmados (segundo estimativas da OMS), mas a doença pode ser letal: a morte pode ocorrer na sequência de complicações da infeção com o novo coronavírus - como insuficiências respiratórias. E os idosos e pessoas com condições médicas pré-existentes (como a tensão arterial elevada, doenças cardíacas, doenças pulmonares, cancro ou diabetes), estão mais vulneráveis a desenvolver doenças graves com mais frequência. No entanto, a OMS já lançou o alerta aos jovens: "Vocês não são invencíveis". Independentemente da idade, toda a gente deve respeitar as regras de segurança impostas pelos governos e tomar as medidas de prevenção adequadas.

8. O novo coronavírus foi criado em laboratório?

As autoridades negam que o vírus tenha sido produzido em laboratório - o que não impede a multiplicação de rumores e teorias da conspiração. Esta é uma pergunta geralmente acompanhada de um dedo apontado: a Covid-19 foi criada pela China, pelos Illuminati, pelos Estados Unidos da América... e espalhada intencionalmente para diminuir a população ou dar origem a uma nova guerra mundial. A União Europeia (UE) é apenas uma das instituições a denunciar a proliferação de notícias falsas relacionadas com a pandemia que visam, através de um "aproveitamento da crise de saúde pública", promover "interesses geopolíticos". 

"As mensagens falsas coordenadas procuram atingir as minorias, classificando-as como a causa da pandemia, e alimentar a desconfiança na capacidade das instituições democráticas", alerta a UE.

Os factos aceites pela comunidade médica internacional são claros: a Organização Mundial de Saúde afirma que estamos perante uma doença causada pela transmissão de vírus de animais para seres humanos. Há fortes indícios de que o novo coronavírus tenha passado pela primeira vez de animais para humanos num mercado de Wuhan, mas a rota de transmissão ainda está a ser investigada.

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9. Que animal está na origem da doença?

O morcego é considerado o animal de origem do novo coronavírus, mas a probabilidade ainda não está totalmente confirmada e falta também saber como é que o vírus terá passado para os seres humanos. A comunidade médica internacional admite que possa ter havido outro animal a estabelecer esta ligação e estudos apontam para os pangolins. Mas se estes animais já existem há tanto tempo, porque é que só agora infetaram seres humanos? É outra das perguntas frequentemente colocadas pelos nossos seguidores. A resposta é simples: os animais funcionam muitas vezes como reservatórios para vírus que passam por várias mutações genéticas antes de o animal poder infetar outros animais e seres humanos. O mesmo aconteceu no caso do ébola, por exemplo. O médico moçambicano da OMS Jeremias Naiene explica esta questão de forma simples e clara no podcast em anexo.

10. A simples lavagem das mãos é mesmo eficaz contra uma pandemia desta magnitude?

A patologia é transmissível através de gotículas libertadas pelo nariz ou boca quando se tosse ou espirra, que podem atingir diretamente a boca, nariz e olhos de quem estiver próximo. As gotículas podem ainda depositar-se em objetos ou superfícies que rodeiam a pessoa infetada. Por sua vez, outras pessoas podem infetar-se ao tocar nestes objetos ou superfícies com as mãos e, em seguida, tocarem nos olhos, nariz ou boca. Portanto, a lavagem das mãos é mesmo essencial para combater a transmissão do vírus! Água e sabão são as armas mais eficazes. À falta delas, o álcool é também um poderoso desinfetante. Distanciamento social e cobrir a boca e o nariz quando tosse ou espirra são outras medidas importantes. 

Quanto às máscaras, outra questão levantada por alguns seguidores no Facebook da DW África no tema da prevenção, a Organização Mundial de Saúde lembra, antes de mais, que a máscara só deve ser usada por profissionais de saúde, cuidadores, e pessoas com sintomas como febre e tosse. Segundo os especialistas, as máscaras cirúrgicas comuns ajudam a evitar a contaminação de outras pessoas por um doente, mas podem dar uma falsa sensação de segurança e só são eficazes se forem usadas em combinação com a lavagem frequente das mãos. As autoridades de saúde alertam: há falta de máscaras em todo o mundo, por isso devem ser usadas de forma consciente.

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11. Alguém que já esteve infetado poder ser infetado novamente?

Esta é uma das incógnitas que se mantêm em relação ao novo coronavírus: ainda não é claro se as pessoas que recuperam da doença ganham imunidade e, se sim, quanto tempo dura a imunização. Mas é outra questão que está a ser largamente investigada. Por exemplo, o Centro Helmoltz de Pesquisa de Doenças Infeciosas, em Brunswick, na Alemanha, vai lançar um estudo com mais de 100.000 pessoas para determinar a sua imunidade ao novo coronavírus e, assim, avaliar o nível de disseminação. O estudo será lançado em abril, com base em amostras de sangue colhidas em mais de 100.000 pessoas e os investigadores vão analisar se os sujeitos produzem anticorpos Covid-19, um sinal de que contraíram a doença e recuperaram.

12. Dizem que o vírus não sobrevive em temperaturas altas. É verdade?

Embora alguns estudos sugiram as temperaturas mais altas como um fator para a menor propagação dos coronavírus, não há qualquer evidência científica de que a transmissão do SARS-CoV-2 seja minimizada pelas temperaturas elevadas. A OMS sublinha que este novo coronavírus está a transmitir-se mesmo em áreas com climas quentes e húmidos e alerta, por isso, para a "falsa esperança" de o vírus desaparecer no verão, como a gripe sazonal. Por outras palavras, é possível contrair Covid-19, independentemente de estar sol ou calor. Proteja-se, independentemente do clima no local onde vive!

13. Um cabelo encontrado na bíblia pode curar a Covid-19?

É verdade que o Papa sonhou com Deus, que lhe disse como curar a doença? Folheando a bíblia, é possível encontrar um cabelo que é um medicamento para a Covid-19? Chegam a ser caricatas as "notícias" falsas que circulam por estes dias nas redes sociais. Nesta altura, é mais importante do que nunca estar atento às "fake news" que nos desviam da informação que é realmente importante para nos protegeremos a nós e aos outros e combater a pandemia. Informe-se através de fontes credíveis, não acredite em tudo o que circula nas redes sociais. Não há, para já, nenhum medicamento ou vacina contra o novo coronavírus. A nossa correspondente em Maputo, Selma Inocência, dá uma ajuda na identificação destas notícias falsas.

14. Prender a respiração por 10 segundos para confirmar se há tosse ou desconforto neste intervalo de tempo é um teste eficaz para saber se tenho Covid-19?

Este é mais um dos mitos sem qualquer suporte científico que têm estado a circular nas redes sociais desde o início da pandemia. Citado pela agência de notícias Reuters, o médico pneumologista norte-americano Thomas Nash diz que o alegado teste é apenas "uma invenção" sem qualquer utilidade no diagnóstico de fibrose pulmonar, que o post alega ser uma prova de que a pessoa está infetada com o novo coronavírus. Os especialistas sublinham: a única forma de saber se tem Covid-19 é fazendo o teste laboratorial de despiste. Os sintomas mais comuns da Covid-19 são febre, cansaço e tosse seca. Se tiver também dificuldades em respirar, deve procurar aconselhamento médico. 

15. É aconselhável usar o vinagre para combater a doença?

O vinagre pode ser um agente eficaz na limpeza de superfícies. Já quando se trata do nosso corpo, água e sabão, como já referimos, são as melhores armas contra o vírus. Por outro lado, se viu circular a "notícia" de que gargarejar com água morna com vinagre ou sal "cura" o novo coronavírus, saiba que a própria OMS já veio desmentir as propriedades "milagrosas" de vários remédios caseiros como estes. Alguns mitos são desmontados aqui.

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16. O dinheiro é um veículo de transmissão do vírus?

Foi uma notícia veiculada por diversos meios de comunicação no início de março e que deixou muitas pessoas alarmadas: a OMS teria desaconselhado o uso de notas, uma vez que o novo coronavírus poderia permanecer no dinheiro por vários dias. Países como a China e a Coreia do Sul chegaram mesmo a desinfetar notas usadas. Mas a OMS diz que apenas aconselhou a lavagem das mãos após manusear dinheiro como uma boa prática de higiene, o que não quer dizer que classifique as notas como veículo de transmissão. E não emitiu um aviso oficial, tal como avançaram vários jornais. Como todas as infeções por gotículas, o novo coronavírus propaga-se através das mãos e superfícies tocadas com frequência. Aqui pode verificar outros "esconderijos" do vírus:

17. A declaração do estado de emergência é a melhor via para travar a propagação?

É importante aqui referir que a definição de estado de emergência varia de país para país. E se em alguns países as autoridades consideram que esta é a melhor via para combater o surto, noutros têm sido apenas implementadas medidas restritivas, sem a declaração de um estado de emergência. Independentemente da declaração ou não, o importante, nesta altura, é quebrar as cadeias de transmissão do vírus. Isto passa obrigatoriamente por um maior distanciamento social, que tem levado ao encerramento de estabelecimentos, como escolas e ginásios, à proibição de celebrações de cariz religioso e a restrições na realização de reuniões e manifestações. Nos casos em que é declarado o estado de emergência, estamos geralmente perante a suspensão parcial de direitos e a restrição de liberdades com consequências significativas no dia a dia da população. 

18. Porque é que o vírus está a fazer mais vítimas em Itália? E porque é que a Alemanha regista poucas mortes, até ao momento?

Ainda é cedo para apontar motivos concretos para o facto de Itália ter um elevado número de vítimais mortais e a Alemanha menos, uma vez que ainda não há grandes certezas acerca da pandemia e a evolução do surto está a ser muito distinta nos dois países. Investigadores têm, no entanto, avançado algumas hipóteses para a divergência das taxas de mortalidade. Uma delas é a idade das pessoas afetadas pela doença nos dois países – e recorde-se que os idosos são um grupo de risco da Covid-19. Em Itália, onde a população é a mais envelhecida da Europa, a idade média das pessoas afetadas pelo novo coronavírus é de 63 anos. Na Alemanha, é de 47.

Ao mesmo tempo, segundo a imprensa italiana, muitos pacientes com sintomas leves poderão não ter sido testados, pelo que vários casos do novo coronavírus não terão sido contabilizados, o que poderá também influenciar a taxa de mortalidade. No sentido contrário, as autoridades de saúde na Alemanha dizem que começaram a testar cedo, mesmo pessoas com sintomas leves, pelo que infeções menos graves também estão incluídas nas estatísticas. As diferenças na realização de testes nos vários países podem explicar, em parte, as diferenças nas taxas de mortalidade. 

Por outro lado, as diferentes capacidades de resposta dos sistemas de saúde podem também influenciar estas divergências: segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), a Alemanha tem 6 camas de cuidados intensivos para cada mil habitantes e a Itália apenas 2,6.


Se não consegue visualizar o mapa, pode abrir este link da Johns Hopkins University:
https://coronavirus.jhu.edu/map.html

19. Porque é que a OMS disse a África que se preparasse quando declarou a pandemia?

Quando se começaram a registar os primeiros casos no continente africano, a Organização Mundial de Saúde aconselhou África a "preparar-se para o pior", tendo em conta aquilo que se verificava já em vários países, onde "o vírus acelerou a partir de certo limiar". A OMS também se mostrou preocupada com o facto de a fraca rede sanitária, a aglomeração populacional nos centros urbanos e a falta de unidades de cuidados intensivos, equipamento e pessoal especializado poderem limitar qualquer resposta no continente. Uma análise da Rand Corporation, um think-tank norte-americano, revelou em 2016 que, dos 25 países mais vulneráveis a surtos infeciosos no mundo, 22 estavam em África. Aconselhamos esta análise às primeiras medidas tomadas no continente.

20. Quando vai terminar a pandemia?

Infelizmente, ainda não há previsão para o fim desta crise e ainda nem chegámos ao pico da pandemia, segundo as autoridades internacionais de saúde. Vários países estão já a prolongar as medidas restritivas impostas no início de março por mais algumas semanas para continuar a tentar minimizar o surto.

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