É quase certo: o novo ano será marcado por privatizações, a começar pela Transportadora Aérea de Cabo Verde (TACV). Os sinais vêm do Governo cabo-verdiano perante a pressão originada pela elevada dívida pública.
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O Governo cabo-verdiano tem sofrido pressões dos principais parceiros de desenvolvimento como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Grupo de Apoio Orçamental (GAO). Em finais de setembro, aquando de uma missão do FMI, o ministro das Finanças, Olavo Correia, admitiu que o programa de privatizações poderá passar pelos sectores de energia, água, telecomunicações e transportes. "Feliz ou infelizmente em todos esses sectores temos empresas públicas e muitas delas monopolistas", disse na altura.
A prioridade deste programa de privatizações é a Transportadora Aérea de Cabo Verde, que representa um encargo mensal para o Estado de cerca de um milhão de euros. A TACV tem um passivo acumulado de 90 milhões de euros.
Ainda não está claro se se vai privatizar a operação internacional da companhia ou se será toda a empresa. Para já está em curso a reestruturação da empresa cujos resultados deverão ser conhecidos no primeiro trimestre de 2017.
Privatizar é a palavra de ordem
Além da TACV, o Governo tem de encontrar uma solução para a Imobiliária Fundiária e Habitat (IFH) que gere o programa de habitação "Casa para todos" - que contraiu em Portugal uma dívida de 200 milhões de euros. Uma auditoria externa que o Governo mandou fazer, recentemente, diz que a empresa está em falência técnica.
O programa de privatizações vai abranger os sectores da energia, água, telecomunicações, transportes, estaleiros navais, aeroportos e segurança aérea, portos e produção e comercialização de medicamentos.
Nessa lista deverão estar a empresa dos estaleiros navais (Cabnave), a empresa de electricidade e água (Electra) e a Empresa Nacional de Aeroportos e Segurança Aérea (ASA).
João Santos Luís, deputado da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID, oposição), espera que o dinheiro das privatizações sirva para o reforço do sector privado de forma a gerar riqueza e criar mais postos de trabalho. "Não desejamos, como o Governo anterior tinha proposto, que parte das privatizações sirva para pagar a dívida externa do país", disse.
Não à descapitalização do património
Em declarações à Rádio Nacional de Cabo Verde, Julião Varela, deputado do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, principal partido da oposição), disse esperar que sejam privatizados apenas os serviços e não o património das empresas, como aconteceu nos anos 90, período em que o Movimento para a Democracia (MpD, no poder) governou o país.
02.01.17 CV Privatizacoes - MP3-Stereo
"Foi uma descapitalização do património do país com venda da frota marítima por exemplo. Esperamos que a privatização não consista em passar de mãos públicas cabo-verdianas para mãos públicas estrangeiras", sublinhou Julião Varela.
Paulo Veiga, deputado do MpD, afirmou que o programa de privatizações vai trazer oportunidades importantes para o sector privado nacional e permitirá a captação do investimento directo estrangeiro. "A maioria das privatizações dos anos 90 teve sucesso", contrapõe o deputado, dando como exemplos a Cabo Verde Telecom, os Correios de Cabo Verde, o sistema financeiro e os bancos.
"Acreditamos que vamos dinamizar e melhorar estes serviços e torná-los mais acessíveis aos cabo-verdianos. O caminho para que tenhamos mais competitividade e serviços mais baratos é através da privatização", diz.
A privatização das empresas públicas é uma das recomendações do FMI, que aconselha Cabo Verde a atuar sobre a dívida externa do país, que atinge os 125,8% do Produto Interno Bruto (PIB) e é a maior dos países da África subsaariana.
A nível político, 2017 deverá ser marcado também pela revisão da Constituição e do Código Eleitoral e pela realização de congressos nos três principais partidos políticos do país.
2016 em imagens: O que moveu a África lusófona?
Desde a tensão político-militar em Moçambique, passando pela luta pela liberdade de expressão em Angola, até à crise política na Guiné-Bissau - 2016 foi um ano de momentos marcantes nos PALOP.
Foto: Getty Images/AFP
Angola: Febre amarela mata 370 pessoas
O primeiro caso foi conhecido no final de 2015, em Luanda. Em poucos meses, a epidemia alastra-se às 18 províncias do país e mata mais de 370 pessoas. Em fevereiro, o Governo lança a primeira fase da campanha de vacinação (na foto). Em dezembro, a Organização Mundial de Saúde afirma que não pode declarar o país livre do surto, uma vez que "ainda decorre o período de implementação da resposta".
Foto: DW/B. Ndomba
Ataques e acusações em Moçambique
A 20 de janeiro, o secretário-geral da RENAMO, Manuel Bissopo, é baleado por desconhecidos na cidade da Beira, centro de Moçambique. O político da oposição sobrevive, mas, desde o início do ano, quase diariamente, há notícias de ameaças, sequestros e mortes de dirigentes moçambicanos. A FRELIMO e a RENAMO trocam acusações. A tensão político-militar marca o ano no país.
Foto: Nelson Carvalho
Cabo Verde: Maioria absoluta para a oposição
Em março, o Movimento para a Democracia (MpD) derrota o PAICV e volta ao poder, após 15 anos na oposição. O primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva promete trabalhar pelo crescimento do país, mas, em julho, admite: Cabo Verde "não está bem". Apesar do "contexto económico, financeiro e social difícil", em novembro, o Governo prevê um crescimento de 5,5% do PIB no Orçamento de Estado para 2017.
Foto: MpD
Penas de prisão para 15+2 em Luanda
17 ativistas angolanos, acusados de atos preparatórios de rebelião e de organização de malfeitores, são condenados em março a penas entre dois e oito anos de prisão. O julgamento fica marcado por protestos e denúncias de irregularidades e ganhara visibilidade internacional com a greve de fome de Luaty Beirão e outros ativistas contra a morosidade do processo.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Juliao
As "dívidas escondidas" de Moçambique
Em abril, o Governo moçambicano admite a existência de dívidas não declaradas pelo Estado. A descoberta das dívidas contraídas por três empresas com garantias do Governo, sem o conhecimento do Parlamento e dos parceiros internacionais, levam os investidores a suspender a ajuda financeira a Moçambique. Ao mesmo tempo, o metical desvaloriza e os preços sobem: a crise económica instala-se no país.
Foto: DW/M. Sampaio
José Mário Vaz e a crise em Bissau
A 12 de maio, o Presidente guineense demite o Governo de Carlos Correia. Na Assembleia Nacional Popular reina o desentendimento após a expulsão de 15 deputados do PAIGC, partido maioritário no Parlamento. Baciro Djá é empossado primeiro-ministro sob protestos do ex-Executivo e da maioria dos deputados do PAIGC. O impasse impede debate e aprovação do programa do novo Governo.
Foto: Getty Images/AFP/Seyllou
A polémica presidente da Sonangol
Isabel dos Santos, filha do Presidente de Angola, é nomeada pelo pai em junho para chefiar a petrolífera estatal. Doze advogados apresentam ao Tribunal Supremo uma providência cautelar, invocando a alegada violação da lei da Probidade Pública. A ação ainda aguarda decisão. Entretanto, a Procuradoria-Geral da República considera que a nomeação de Isabel dos Santos para a Sonangol "cumpriu a lei".
Foto: Reuters/E. Cropley
Ativistas em liberdade após lei de amnistia
Em junho, o Supremo Tribunal de Angola ordena a libertação dos ativistas angolanos a cumprirem pena de prisão por rebelião. Luaty Beirão (na foto), é um dos ativistas postos em liberdade. José Marcos Mavungo, detido em março de 2015, depois de ter organizado uma manifestação contra a má governação em Cabinda e a violação dos direitos humanos em Angola, tinha já sido posto em liberdade em maio.
Foto: DW/P. Borralho
São Tomé e Príncipe: eleições controversas
Evaristo de Carvalho vence a primeira volta das presidenciais, em julho, mas a Comissão Eleitoral anuncia uma alteração do resultados: afinal, nenhum candidato reúne mais de 50% dos votos. O Presidente cessante Manuel Pinto da Costa, o segundo mais votado na primeira volta, desiste da corrida e Evaristo de Carvalho concorre sozinho à segunda. É eleito Presidente com 54% de abstenção.
Foto: DW/R. Graça
Saída em 2018?
Em março, José Eduardo dos Santos anuncia que vai abandonar a vida política em 2018. Mas, em agosto, é reconduzido na liderança do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Os moldes exatos da sua saída da política ainda não são conhecidos. Após a independência em 1975, Angola apenas teve dois Presidentes: Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos, no poder desde 1979.
Foto: picture alliance/dpa/P.Novais
Diálogo em Moçambique
Em setembro, são retomadas as negociações entre o Governo e a RENAMO em Maputo, que estão sob mediação internacional desde julho. Governo e RENAMO estão há meses sem chegar a um entendimento. Mediadores propõem cessar-fogo, mas os confrontos continuam. As divergências mantêm-se até ao fim do ano de 2016, altura em que a descentralização do poder está no centro do debate.
Foto: DW/L. Matias
Ataques a dirigentes políticos em Moçambique
Armindo Nkutche, membro da Assembleia Provincial de Tete pela RENAMO, é morto a tiro em setembro. Jeremias Pondeca, representante da RENAMO nas negociações de paz (à direita, na foto), é morto a tiro em outubro. No mesmo mês, desconhecidos matam o chefe da bancada da RENAMO na Assembleia Provincial de Sofala, Juma Ramos. Multiplicam-se os ataques a membros do partido da oposição e da FRELIMO.
Foto: DW/L. Matias
Continuidade em Cabo Verde
O Presidente Jorge Carlos Fonseca vence as eleições de 2 de outubro, mas a abstenção histórica de 64% levanta críticas da oposição. Na tomada de posse do seu segundo mandato (na foto), o Presidente cabo-verdiano defende o reforço da segurança do país a partir de investimentos em tecnologia e formação de agentes.
Foto: Presidência da República de Cabo Verde
Moçambique não consegue pagar dívidas
Em novembro, o Governo assume oficialmente a incapacidade financeira para pagar as próximas prestações das dívidas das três empresas públicas com empréstimos ocultos (EMATUM, ProIndicus e MAM), defendendo uma reestruturação dos pagamentos e uma nova ajuda financeira do FMI. Comissão Parlamentar de inquérito para investigar contornos das dívidas conclui que o Executivo violou a Constituição.
Foto: Leonel Matias
Correspondente da DW detido
Arcénio Sebastião, correspondente da DW África na Beira, em Moçambique, é detido durante 34 dias no distrito do Dondo, acusado de injúria e difamação contra um agente da polícia. Um caso "incomum", segundo a defesa e o Instituto para a Comunicação Social da África Austral - MISA. O jornalista aguarda julgamento em liberdade, depois do pagamento de uma fiança de 20 mil meticais (mais de 230 euros).
Foto: DW/A. Sebastiao
Nosso Banco fecha as portas em Moçambique
O terceiro maior banco de Moçambique, com capitais maioritariamente nacionais, encerra ao público em novembro, na sequência do cancelamento da sua licença pelo Banco Central (na foto), perante os problemas financeiros da instituição. O caso causa indignação e juristas sugerem que o Banco de Moçambique pode ser alvo de responsabilização civil por negligência. Outros bancos estão sob vigilância.
Foto: DW/J.Beck
Guiné-Bissau: 5 Governos em menos de 3 anos
Em novembro, José Mário Vaz demite o Governo de Baciro Djá e dá posse a um novo primeiro-ministro: Umaro Sissoco. O PAIGC, vencedor das últimas legislativas, não aceita integrar o novo Governo, empossado em dezembro, por considerar que este resulta de uma iniciativa presidencial contrária ao acordo de Conacri, assinado pelos dirigentes guineenses em outubro e mediado pela CEDEAO.
Foto: DW/B. Darame
João Lourenço: o candidato do MPLA?
O ato central das comemorações do 60º aniversário da fundação do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), a 10 de dezembro, decorre sem a presença do presidente do partido, José Eduardo dos Santos. O ministro da Defesa, João Lourenço, é tido como o sucessor à liderança do partido, mas o MPLA não o confirma oficialmente.