A Covid-19 foi, sem dúvida, o tema que mais marcou 2020, um ano em que a OMS decretou a pandemia mundial, mas felizmente também houve lugar para a descoberta da vacina contra o novo coronavírus.
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Falar em 2020, em jeito de balanço, é falar inevitavelmente de Covid-19. O vírus que começou em dezembro de 2019, na China, mas que rapidamente atravessou fronteiras devastando em 2020 os quatro cantos do mundo quando menos esperávamos. E a nossa vida mudou.
A gravidade da situação e os níveis "alarmantes" de disseminação do vírus levaram a que a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarasse pandemia mundial a 11 de março.
"Podemos esperar que o número de casos, mortes e países afetados aumente", disse, na altura, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. Só não imaginávamos, imbuídos de esperança, o quanto aumentariam esses números nem que estávamos apenas no início de uma longa caminhada, que não chega ao fim em 2020 apesar da descoberta da vacina.
Trabalho informal: Alternativa ao desemprego em Moçambique
06:50
Em África, o primeiro caso do novo coronavírus foi anunciado pelo governo egípcio, ainda em fevereiro.
Em Moçambique, o anúncio do primeiro caso de Covid-19 aconteceu a 22 de março e passados menos de dez dias, o Presidente da República, Filipe Nyusi, declarou estado de emergência no país.
"Decidi decretar o estado de emergência em todo o território nacional. Esta decisão não foi fácil. Depois de muita ponderação consideramos que esta opção é aquela que melhor serve os interesses do nosso povo”, disse.
A declaração de Nyusi foi replicada em todos os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) onde, num ápice, os números de novos casos foram aumentando.
Os novos hábitos, como o usa da máscara, regras de distanciamento e de convivência que a Covid-19 nos impos e que hoje apelidamos de "novo normal” levaram o seu tempo para se enraizarem.
"Deve-se usar a máscara. Não é uma situação de brincadeira. É uma situação mesmo séria. Temos de pôr essas máscaras e lavar as mãos”."Temos de criar uma distância, não podemos nos aglomerar. A prioridade é a saúde, tem que seguir regras.", recomendavam as pessoas aos mais resistentes.
Juventude angolana fez-se ouvir
Em Angola o ano ficou também marcado por diversas manifestações , nas quais marcou presença especialmente a camada mais jovem.
"O povo precisa saber que precisa limpar o MPLA e sobretudo limpar a elite militar e os polícias que são os maiores corruptos nesse país! Porque é preciso perceber uma coisa. Os políticos não abusam porque querem abusar. Eles abusam porque sabem que têm bonecos obedientes!", ouviu-se pelas ruas de Luanda.
Angola: Polícia reprime protestos em Luanda
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O fim da corrupção em Angola, a defesa da realização de eleições autárquicas, protesto contra o regime e o elevado custo de vida no país, foram algumas das motivações dos protestantes. Críticas à governação de João Lourenço também se fizeram ouvir.
"A juventude angolana perfaz um número maior da população em Angola. A juventude está desempregada e numa época como esta… com as promessas eleitorais que João Lourenço fez aquando da sua eleição, de que poderia criar aproximadamente 500 mil empregos. Mas passados três anos até agora não está a cumprir com as promessas eleitorais."
"Nós não gostamos da governação do MPLA e estamos aqui a mostrar as nossas caras. E falar bem alto: Abaixo o MPLA! Abaixo!"
Grande parte dos protestos foram reprimidos pelas autoridades e acabaram em violência e "brutalidade policial”. Em novembro, uma das manifestações resultou mesmo na morte de um jovem de 26 anos de idade.
Destino de Chang continua incerto
Em Moçambique, o caso dívidas ocultas não teve grandes desenvolvimentos e o ex-ministro das Finanças, Manuel Chang, continua detido na África do Sul, sem julgamento, há já dois anos.
Explica-me as dívidas ocultas de Moçambique
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O caso das dívidas ocultas lesou o Estado moçambicano em mais de 2 mil milhões de euros.
Na Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló tomou posse em fevereiro como Presidente do país, à revelia do Supremo Tribunal de Justiça. O combate à corrupção foi uma das suas bandeiras.
"Saliento que o combate feroz à corrupção, o narcotráfico e o banditismo constituíram objetivos estratégicos e destacados na minha magistratura”, frisou.
A presidência de Embaló tem sido, porém, marcada por críticas de opressão e perseguição política. O primeiro-ministro, Aristides Gomes, despedido pelo Presidente teve inclusivamente de se refugiar na sede da ONU, em Bissau, para salvaguardar a sua segurança.
Mesmo a fechar o ano, o país volta a ser notícia pelo mandado de captura internacional de Domingos Simões Pereira, emitido pela Procuradoria Geral da República e pela possibilidade de dissolução do parlamento por parte de Embaló, que acabou por cair por terra depois de um encontro do PR com os líderes das bancadas parlamentares.
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Multiplicam-se os deslocados em Cabo Delgado
Voltando a Moçambique, 2020 foi mais um ano de violência armada em Cabo Delgado, tendo a ONU descrito a situação humanitária na região como sendo "extremamente crítica".
Os conflitos já resultaram em mais de duas mil mortes e 560 mil deslocados, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.
"Chegam, a maioria deles desidratados, alguns doentes, alguns a passar mal e muita gente sem documentos. Chegam numa situação muito difícil, física e psicologicamente. Chegam quase sem nada."
A situação não passou despercebida ao Papa Francisco, que manifestou a sua preocupação e solidariedade para com as populações afetadas. Doou este mês 100 mil euros que serão destinados para a construção de dois postos de saúde.
Algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo extremista Estado Islâmico desde 2019.
Acabar com o terrorismo e a crise humanitária em Moçambique é um dos grandes desafios de 2021. A nível mundial, fazer chegar às pessoas a vacina contra a Covid-19, a doença que marcou para sempre o ano de 2020.
Confira abaixo 15 momentos que marcaram o ano:
15 momentos que marcaram o "annus horribilis" de 2020
2020 ficará para sempre conhecido como o ano da pandemia de Covid-19. Entretanto, foi também marcado por momentos-chave a vários níveis - desde a morte de George Floyd, nos EUA, às manifestações em Angola.
Foto: Jacob King/REUTERS
Isabel dos Santos e o caso "Luanda Leaks"
Em janeiro, a empresária angolana foi constituída arguida por alegado desvio de fundos na petrolífera estatal Sonangol. Ao longo do ano, teve arrestadas as suas contas bancárias e participações da NOS em Portugal, testemunhou a nacionalização da sua parte na Efacec e, ainda, viu o hacker português Rui Pinto - fonte dos documentos que levaram ao "Luanda Leaks" - aguardar o julgamento em liberdade.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Metzel
Sissoco Embaló: Tomada de posse "simbólica"
Em fevereiro, Umaro Sissoco Embaló tomou posse como Presidente da Guiné-Bissau à revelia do Supremo Tribunal de Justiça. Estava ainda em curso um contencioso eleitoral interposto pelo opositor Domingos Simões Pereira, que apelidou a tomada de posse de "golpe de Estado". O novo Presidente demitiu o Governo liderado por Aristides Gomes, nomeando o novo Executivo do primeiro-ministro Nuno Nabiam.
Foto: DW/I. Dansó
OMS declara pandemia de Covid-19
Todos os PALOP entraram em estado de emergência depois da declaração da Organização Mundial da Saúde, em março. A pandemia levou ao adiamento de vários eventos mundiais, como os Jogos Olímpicos e o Campeonato Africano das Nações (CAN). Em abril, mais da metade da população mundial estava confinada em casa.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Gonchar
"I can't breathe": A morte de George Floyd
O afro-americano morreu em maio nos EUA, sufocado por um polícia que colocou o joelho sobre o seu pescoço durante durante 8 minutos e 46 segundos. A frase "I can't breathe" ("Não consigo respirar"), proferida por Floyd antes de morrer, tornou-se viral. A morte motivou protestos antirracismo em todo o mundo, levou à vandalização de estátuas coloniais e impulsionou o movimento Black Lives Matter.
Foto: Getty Images/S. Maturen
"Perseguição política" na Guiné-Bissau
Em maio, o deputado Marciano Indi foi sequestrado após ter expressado opiniões que terão desagradado ao Presidente guineense. O ano ficou também marcado pelo rapto e sequestro de vários ativistas, alegadamente por seguranças de Sissoco Embaló. A agitação política levou o ex-primeiro-ministro Aristides Gomes (na foto) a refugiar-se na sede da ONU em Bissau. Gomes fala em "perseguição política".
Foto: DW/B. Darame
Cabo Verde processado por violação dos direitos humanos
O empresário Alex Saab foi detido na ilha do Sal, em junho, mediante mandado de captura dos EUA, que o consideram um testa-de-ferro do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Saab denunciou ter sido torturado na prisão a mando dos EUA. Pela primeira vez, Cabo Verde foi processado por violar direitos humanos no seu território. Em dezembro, a CEDEAO ordenou a prisão domiciliária do colombiano.
Foto: Governo de Cabo Verde
Moção de censura contra Governo de STP
Em julho, o principal partido da oposição são-tomense, a Ação Democrática Independente (ADI), apresentou uma moção de censura contra o Governo do primeiro-ministro Jorge Bom Jesus. A gestão dos fundos contra a Covid-19 foi um dos motivos apresentados pela ADI, que acusou ainda o Executivo de agir com "práticas sistemáticas de ilegalidades". A moção foi rejeitada pelo Parlamento são-tomense.
Foto: DW/R. Graça
Tragédia em Beirute
Em agosto, uma explosão no porto de Beirute, provocada por 2,7 toneladas de nitrato de amónio, devastou grande parte da capital libanesa, provocando mais de 200 mortos e 6.500 feridos. A carga de amónio era uma encomenda da Fábrica de Explosivos de Moçambique e tinha como destino o porto da Beira. Contudo, o navio ficou retido em Beirute por ordem das autoridades locais e a carga foi substituída.
Foto: Getty Images/AFP/STR
"Zenu" condenado no caso "500 milhões"
O filho dos ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, José Filomeno 'Zenu' dos Santos, foi condenado em agosto a cinco anos de prisão por crimes de burla e defraudação, peculato e tráfico de influências. Em causa está uma transferência irregular de 500 milhões de dólares do banco central angolano para a conta de uma empresa privada estrangeira sediada em Londres.
Foto: Grayling
Luta contra a corrupção continua em Angola
Ainda este ano, o empresário Carlos São Vicente ficou em prisão preventiva e o ex-ministro da Comunicação Social Manuel Rabelais (na foto) começou a ser julgado. Ambos são acusados de peculato e branqueamento de capitais. Por outro lado, Edeltrudes Costa, diretor de Gabinete do Presidente João Lourenço, não é alvo de qualquer processo, apesar de alegado envolvimento em escândalos de corrupção.
Foto: Imago/Xinhua
Incêndio na redação do Canal de Moçambique
O editor-executivo do semanário classificou o incêndio ocorrido em agosto nos escritórios do Canal de Moçambique como "atentado terrorista contra liberdade de expressão e de imprensa", acrescentando que "uns são raptados e outros são intimidados". Matias Guente refere-se, por exemplo, ao caso do jornalista Ibrahimo Mbaruco, desaparecido desde abril na província nortenha de Cabo Delgado.
Foto: Adriano Nuvunga/CDD
EI diz ter tomado porto de Mocímboa da Praia
A 11 de agosto, um grupo de homens armados anunciou a tomada do porto da vila de Mocímboa da Praia. O grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) reivindicou o ataque. O número de deslocados da província nortenha de Cabo Delgado escalou exponenciamente. Em dezembro, o Governo moçambicano anunciou que pelo menos 560 mil cidadãos tiveram de fugir do conflito.
Foto: Getty Images/AFP/A. Barbier
Biden vence eleições norte-americanas
Novembro foi o mês em que Donald Trump sofreu a derrota nas presidenciais dos EUA. Mas o republicano queixou-se sucessivamente de fraude eleitoral, sem apresentar provas. A Casa Branca terá novos ocupantes: Joe Biden e Kamala Harris, a primeira mulher eleita vice-Presidente dos EUA. Filha de pai jamaicano e de mãe indiana, Harris será também a primeira mulher negra a ocupar o posto.
Foto: Andrew Harnik/Getty Images
Dia da Independência em Angola marcado por manifestações
O dia 11 de novembro foi o mais intenso das manifestações por melhores condições de vida e pela realização das primeiras eleições autárquicas em Angola. A polícia reprimiu o protesto violentamente. A morte do jovem manifestante Inocêncio Matos gerou indignação. Várias pessoas ficaram feridas, incluindo o ativista Nito Alves. Luaty Beirão e outros ativistas foram detidos.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Covid-19: A corrida da vacina
O Reino Unido foi o primeiro país a aprovar a vacina da Pfizer/BioNTech, aplicada pela primeira vez em dezembro. A primeira pessoa a receber a vacina contra a Covid-19 foi uma mulher britânica de 90 anos (na foto). O dia do arranque do programa de imunização foi apelidado de Dia-V, numa clara alusão ao Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial.