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2022: Um ano difícil para as economias da África subsaariana

Isaac Kaledzi | Sam Olukoya
23 de dezembro de 2022

Inflação recorde, altos níveis de dívida pública e desvalorização da moeda fizeram o custo de vida disparar em muitos países da África subsaariana ao longo do ano que está prestes a terminar.

Foto: Seth/Xinhua/picture alliance

Em Lagos, a capital económica da Nigéria, o jovem Moses Oduola sentiu na pele o aumento do custo de vida. Comercializa bebidas energéticas, mas queixa-se que as vendas têm sido fracas.

"Não é fácil, especialmente para alguém como eu que está a fazer um esforço para trabalhar de uma forma legal. Porque o governo não encorajou de todo os empreendedores", lamenta. "Não há dinheiro, as pessoas queixam-se que não há dinheiro", acrescenta.

A Nigéria registou 10 meses consecutivos de inflação crescente, com 21,47% registados até novembro.

A inflação também ultrapassou este ano o limiar de 50% no Gana, o nível mais alto em mais de três décadas.

Retrocesso na redução da pobreza

Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), os rendimentos e a segurança alimentar foram "devastados" na África Subsaariana à medida que a região entrava numa lenta recuperação da pandemia, com elevados níveis de dívida pública, e com o aumento dos preços da energia e dos alimentos.

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"Se costumava fazer três refeições completas, agora talvez deva fazer uma e beber água ao longo do dia", conta Richard Gbewornyo, recém-formado como videógrafo em Acra e que agora trablaha como condutor Uber na capital do Gana.

No último relatório do Banco Mundial, o economista chefe da instituição para África, Andrew Dabalen, disse que as tendências económicas que se verificaram em 2022 representam "uma ameaça ao desenvolvimento humano a longo prazo".

"Estas tendências comprometem os esforços de redução da pobreza que já foram contrariados pelo impacto da pandemia da Covid-19", escreveu Dabalen.

Confiança excessiva nas importações

Alguns especialistas atribuíram as elevadas taxas de inflação verificadas em países como o Gana, Nigéria e Serra Leoa ao desempenho muito fraco das moedas nacionais em relação às principais moedas internacionais.

A moeda do Gana, cedi, perdeu quase 52% do seu valor em 2022 e teve um dos piores desempenhos entre 148 moedas.

"A taxa de câmbio fez com que [os importadores] precisassem de mais [dinheiro] para comprar a mesma quantidade de dólares para importar o petróleo bruto. Portanto, os preços dos combustíveis continuam a ser uma das principais razões pelas quais estamos a ter esses altos níveis de inflação", explica o economista ganês Cleanse Tsonam Akpeloo.

Indústrias de toda a África lutam para conseguir dinheiro extra para assegurar o câmbio necessário para importar bens.

"A maioria dos nossos importadores não pode adquirir dólares para comprar as suas mercadorias e isto está realmente a afetar o negócio na Nigéria", disse à DW Edward Adeola, economista a viver em Lagos.

Custo de vida disparou este ano em muitos países africanosFoto: Kyodo News/IMAGO

Dívida pública elevada

O Banco Mundial projetou que os níveis da dívida pública na África subsariana permaneceriam elevados em 58,6% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022.

O rácio da dívida do Gana em relação ao PIB é superior a 80% e agravado pela fraca receita fiscal. No início de 2022, o país afirmou que não iria recorrer a um plano de ajuda do FMI. Mas depois de protestos, o governo teve de recuar. O FMI concedeu ao Gana um empréstimo de resgate no valor de 3 mil milhões de dólares.

O ecnomista Akpeloo defende que os países africanos poderiam ter evitado custos de vida elevados se os governos tivessem mantido um controlo mais apertado dos empréstimos e despesas públicas.

"Está a tornar-se uma situação lamentável. Acreditamos que o governo precisa tomar medidas para assegurar que minimizamos a ida ao FMI sendo disciplinados, assegurando que os níveis de dívida são sustentáveis", diz.

Economistas alertam para o risco da continuidade das atuais tendências económicas na África Subsaariana. A Unidade de Inteligência Económica prevê uma queda do crescimento económico na região para 2,8% em 2023, contra uma estimativa de 3,3% em 2022.

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