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2024: África entre crises e crescimento económico

Martina Schwikowski
18 de dezembro de 2023

As eleições na África do Sul em 2024 poderão definir um novo rumo para o país. No Sahel deverá continuar a luta pela democracia e a segurança, numa altura em que a atenção mundial se volta para a crise no Médio Oriente.

O Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, está sob pressão
O Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, está sob pressãoFoto: Denis Farrell/AP Photo/picture alliance

O fim do ano já promete. No Egito, os resultados das eleições estão previstos para esta segunda-feira, 18 de dezembro. Os observadores preveem que o Presidente Abdel Fattah al-Sisi seja reeleito, numa altura em que o país atravessa uma grave crise económica.

A República Democrática do Congo (RDC) também vai a votos daqui a dois dias, a 20 de dezembro, enquanto algumas zonas da província oriental de Kivu do Norte continuam sob o controlo de milícias.

No Senegal, já houve protestos em massa antes das eleições de fevereiro de 2024. O Presidente Macky Sall cedeu à pressão, retirou a sua candidatura a um terceiro mandato e enviou o primeiro-ministro Amadou Ba para a corrida eleitoral.

ANC luta pela manutenção no poder

Uma das eleições mais importantes no continente no próximo ano terá lugar na África do Sul, em maio. A questão que se coloca é se o Congresso Nacional Africano (ANC) conseguirá obter a maioria. Pode ser difícil. O partido do Presidente Cyril Ramaphosa está ameaçado por uma perda drástica de votos e pela primeira vez poderá ficar abaixo do limiar dos 50%. Há, portanto, muitos indícios de que o ANC terá de recorrer a coligações com partidos mais pequenos para se manter no poder.

"Na África Austral, por exemplo, em Moçambique, no Zimbabué e na África do Sul, o contrato social tem-se baseado na luta contra o colonialismo. Mas com o passar dos anos, a geração atual está menos ligada ao passado e espera coisas diferentes dos seus líderes", sublinha Fredson Guilengue, da Fundação Rosa-Luxemburgo em Joanesburgo.

De acordo com uma sondagem da rede de pesquisa Afrobarometer, a maioria dos sul-africanos (70%) está insatisfeita com a implementação da democracia no país. Os sul-africanos consideram que o desemprego elevado é o problema principal, seguido de questões como a criminalidade e a segurança, a eletricidade, o abastecimento de água e a corrupção. O fornecedor de energia Eskom, que atravessa grandes dificuldades, não consegue fornecer ao país eletricidade suficiente, a economia está estagnada e a confiança na liderança do Governo é a mais baixa de sempre.

Autárquicas: RENAMO volta às ruas de Maputo

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A situação é semelhante em Moçambique, que atravessa uma grande crise política, com o principal partido da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), a acusar a Frente de Libertação de (FRELIMO), no poder, de ter manipulado as eleições autárquicas de 11 de outubro. Fredson Guilengue acredita que a contestação social vai continuar no próximo ano.

Mudança de poder ou reeleição?

Também noutros países a insatisfação com os governos em exercício pode levar a uma transferência de poder para a oposição, tal como aconteceu no Gana em dezembro. O outrora próspero país da África Ocidental está a afundar-se em dívidas, os investimentos estão parados e o nível de vida está a baixar.

De acordo com a Economist Intelligence Unit (EIU), existe um risco global maior de diminuição das maiorias parlamentares, o que dificulta a governação e aumenta a agitação social, por exemplo, em Madagáscar ou nos países do Magrebe, Argélia e Tunísia.

Instabilidade no Sahel mantém-se

Também a situação política na África Ocidental continuará volátil. Um regresso a um governo civil no Mali, atualmente dirigido por militares, parece cada vez mais distante. As eleições presidenciais anunciadas para fevereiro de 2024 levaram a Comunidade Económica de África Ocidental (CEDEAO) a levantar as sanções. No entanto, o Mali adiou a votação, tal como o Burkina Faso.

Inicialmente, o líder da Junta Militar, Ibrahim Traore, prometeu realizar eleições em julho do próximo ano. Mas em outubro, adiou a data devido à situação de incerteza no país, sem definir um novo dia.

"A região do Sahel, onde se registaram já vários golpes de Estado, continuará a ser muito frágil", disse à DW Alex Vines, coordenador do departamento de África da Chatham House. "Assistimos a golpes de Estado no Mali, no Níger, de facto no Chade, no Sudão e no Burkina Faso, na Guiné e na Guiné-Bissau desde 2019. O objetivo em 2024 será tentar negociar um prazo curto para o regresso ao direito constitucional", conclui o investigador.

Pior fase da parceria África Ocidental e Europa no Sahel

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Economia a crescer

Apesar de tudo, há uma tendência positiva que suscita otimismo. De acordo com a Economist Intelligence Unit, África será a segunda região com o crescimento económico mais rápido em 2024, logo a seguir à Ásia, impulsionada pelo setor dos serviços, que continua a desempenhar um papel importante na África Oriental.

No entanto, alguns países podem não beneficiar desta situação, incluindo a Guiné Equatorial, que atravessa dificuldades, e o Sudão, ainda em guerra, calcula Alex Vines.

Alex Vines, coordenador do departamento de África da Chatham HouseFoto: DW/M. Sampaio

A inflação, que exerceu uma pressão considerável em todo o continente em 2023, deverá abrandar, mas continuará a ser uma preocupação para muitos países, incluindo Angola, Nigéria e Zimbabué, bem como a Etiópia, que, tal como Moçambique, está fortemente endividada.

E em Moçambique, também se aguarda pela retoma do projeto de gás da TotalEnergies em Cabo Delgado, um dos maiores programas de investimento direto estrangeiro em África.

A anulação e a reestruturação da dívida será outra questão importante em África em 2024, segundo os especialistas.

Conflitos na RDC e Sudão em segundo plano

De acordo com o analista Priyal Singh, do Instituto Internacional de Estudos de Segurança (ISS), em Pretória, as perspetivas para África no próximo ano não se afiguram boas, "especialmente tendo como pano de fundo uma competição geopolítica cada vez mais volátil entre as principais potências internacionais", disse à DW.

A atenção do mundo continuará centrada sobretudo nos acontecimentos no Médio Oriente e na Ucrânia, enquanto as hostilidades entre as grandes potências e os conflitos africanos são ignorados: "Isto foi evidente nos conflitos no Sudão e na República Democrática do Congo (RDC). Não se presta atenção suficiente a estes conflitos", refere Singh.

 

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