O Coletivo dos Partidos Políticos Democráticos (CPPD) acusa o Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, de instalar um regime ditatorial no país.
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Em Bissau, um coletivo constituído por 21 partidos guineenses, opositores ao regime do Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, iniciou nesta sexta-feira (27.10), uma série de ações para denunciar aquilo que chama de "ditadura" do Chefe do Estado.
Guiné-Bissau / coletivo de partidos - MP3-Mono
O Coletivo dos Partidos Políticos Democráticos (CPPD) responsabilizou José Mário Vaz pelas "graves ruturas e a descredibilização de instituições" do Estado. O grupo acusou também o Presidente guineense de liderar "uma saga destrutiva", ao promover desentendimentos nos partidos e impedir a construção de consensos mesmo na comunidade internacional, parceira da Guiné-Bissau.
Democracia em perigo
Membros dos 21 partidos, militantes e simpatizantes reuniram-se no círculo eleitoral 24, composto por bairros situados junto ao centro de Bissau, para exigir o fim da crise e o respeito pelas regras democráticas, contra a intenção do Presidente José Mário Vaz, de instalar um regime ditatorial na Guiné Bissau.
O presidente da União para a Mudança-UM, Angelo Regala, declarou que a união de forças é um sinal claro de que a ditadura não pode ter lugar. Regala vê no ato, que aconteceu a alguns metros da sede do Parlamento em Bissau, um bom sinal. "É um sinal de que as pessoas estão conscientes de que a democracia está em perigo e que é preciso de fato nos juntarmos e, em uníssono, dizermos que a ditadura não tem lugar na Guiné Bissau", disse o líder da UM.
Manifestação é ato de cidadania
De acordo com o líder do Movimento Democrático Guineense (MDG), Silvestre Alves, a adesão ao coletivo é, antes de mais, um dever de consciência de um cidadão que quer "salvar a democracia". "Não tenho outra solução, senão aderir à causa. O senhor Presidente tem uma leitura deficiente e descabida da Constituição. E está aí a impor algo que não tem utilidade", afirmou.Para o porta-voz do partido da Nova Democracia (ND), Ibriama Djaló, um dos deveres de chefe de Estado na democracia é garantir o que está na Constituição e o normal funcionamento das Instituições. Djaló disse em entrevista à DW África que, enquanto ator político, não se pode permitir que esse grave precedente continue.
Segundo a Agência Lusa, a mesma ação será organizada nos dias seguintes em outros locais de Bissau. O grupo de partidos também planeia realizar "um megacomício" na capital guineense, em data a anunciar.
Em conferência de imprensa, Nuno Nabian, candidato derrotado na segunda volta nas eleições presidenciais de 2014, e presidente da Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), avisou que "ninguém terá autoridade de impedir a realização das manifestações programadas".
Guiné-Bissau: O país onde nenhum Presidente terminou o mandato
Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.